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CULTIVO DO FEIJÃO

Nutrição e adubação mineral

O feijão, normalmente, não consome muitos nutrientes, mas, considerando-se a fragilidade da planta e a precariedade do seu sistema radicular, o seu pequeno porte e o ciclo muito curto, importante a existência, no solo, de elementos nutritivos indispensáveis ao seu desenvolvimento. Os elementos nutritivos mais importantes para o feijão são os seguintes:

Nitrogênio – sendo uma leguminosa produtora de frutos ricos em proteína, o feijão é mais exigente em nitrogênio que outras plantas, requerendo um suprimento contínuo e adequado para o seu desenvolvimento vegetativo e também para a formação de vagens e sementes. O feijão pode fixar o nitrogênio do ar, através de simbiose com o Rhizobium phaseoli, mas essa faculdade é limitada pela inexistência de estirpes de alta capacidade e pelo seu ciclo vegetativo muito curto, não alcançando, na prática, os resultados esperados. A maioria dos autores nacionais e estrangeiros admite a vantagem do emprego de adubos nitrogenados químicos, embora não despreze totalmente o trabalho das bactérias fixadoras de N do ar.
Experiências revelaram que a reação a tais adubos se manifesta principalmente em solos arenosos e glaciais e, em certas circunstâncias, nos solos de terra roxa. Em terras do tipo massapé-salmourão acontece o contrário. As mesmas experiências mostraram que a aplicação de nitrogenados, em duas parcelas, aos cinco e quinze dias, na base de 100 kg/ha cada uma, proporcionou maiores rendimentos.
Fósforo – embora o feijoeiro não absorva da terra mais de 4,7 kg de fósforo por hectare, sabemos que é necessário colocar à disposição das raízes cerca de quatro vezes mais a quantidade requerida, para assegurar o desenvolvimento normal da planta e a boa produção de sementes.
Tratando-se de planta delicada e de ciclo curto, recomenda-se o uso de fósforo de fácil dissolução em água, como o superfosfato simples. Deve ser colocado 5 cm abaixo do solo e 5 cm ao longo das linhas, ao lado das sementes, mas delas separado com terra, de tal forma que as primeiras radicelas o encontrem com facilidade. A aplicação de material orgânico à piso, junto aos adubos fosfatados, bem como a adubação verde com leguminosas, favorece a mobilização do fósforo no solo, inclusive daquele que se acha em forma pouco solúvel.

Potássio – com relação ao potássio, o feijoeiro remove grande quantidade do solo, cerca de 40 kg/ha. Todavia, em estudos realizados, o efeito de adubos potássicos foi comparativamente fraco, embora se tenha notado que, corrigidas as deficiências de nitrogênio e fósforo, eles começaram a manifestar sua reação.

Esse elemento participa da composição de quase todos os órgãos da planta, assumindo papel importante na resistência à seca, na translocação dos compostos formados entre os órgãos, na síntese das enzimas que catalisam a combinação do fósforo com açúcares e na formação de proteína. Quando ocorre menor variação de temperatura no solo e maior disponibilidade de água, há maior assimilação de potássio, como se verificou em ensaios realizados em regiões quentes de São Paulo.

Cálcio e magnésio – o cálcio é muito importante no fortalecimento das raízes do feijão e atua no metabolismo do nitrogênio, enquanto o magnésio, entrando na composição da clorofila, desempenha papel importante na fotossíntese. Em terras neutras e carentes de cálcio e fósforo, basta a aplicação de adubos fosfatados que contenham cálcio, como o superfosfato simples. Quando as terras são deficientes em magnésio, recomenda-se a aplicação, nas folhas, de sulfato de magnésio a 2%, na base de 300 litros/ha. Contudo, os solos deficientes nesses dois elementos se apresentam com acidez elevada, razão por que o emprego de calcário dolomítico um mês antes do plantio é medida prática e eficaz.
Enxofre e zinco – O enxofre, participando da composição da proteína é absorvido pelo feijoeiro em maior quantidade que o fósforo. Em solos ricos deste elemento, o uso de adubos como o superfosfato simples ou sulfato de amônio resolve o problema. Em terras exploradas por cereais durante muitos anos, pode ocorrer deficiência de zinco, especialmente em solos arenosos, com acidez com índice próximo de pH=7. Pode-se corrigir a deficiência com a aplicação nas folhas de sulfato de zinco, na base de 3 kg dissolvidos em 300 litros de água/hectare.
Adubação básica prática
Para o preparo de doses de adubos químicos, devem ser considerados a reação da planta, análise de solos, a parcela de nutrientes removidos pela cultura e o aspecto econômico da aplicação de fertilizantes, isto é, o preço do produto e o preço do adubo. Dessa maneira, não é possível generalizar uma fórmula rígida de adubação para o feijoeiro em diferentes terras.

Cálculo 
Adubação de plantio: em função dos teores de fósforo e potássio dados pela análise do solo;
Adubação em cobertura: aplicar 35 kg/ha de nitrogênio
Calagem: A quantidade de calcário deve ser calculada com base na análise  do solo, de acordo com a formula:

N.C. =T(V2 – V1)x f

100

– N.C. = necessidade de calcário em ton/ha;

– T =
capacidade de troca de catiônica do solo ou a soma de K+Ca+Mg+H+Al, em 1.mg/100cm3 de terra, dados pela análise do solo;
– V = 
 

porcentagem de saturação de bases desejada, para feijão usar 60%;
V = porcentagem de saturação de bases fornecida pela análise do solo;
=  100/ORTN; fator de correção considerando a qualidade do corretivo, sobretudo o grau de finura; pode-se usar f=1,5.

Adubação foliar

O feijoeiro, como foi dito anteriormente, é uma planta muito influenciada pelas condições de clima, razão por que, e também por motivos econômicos, nem todos os lavradores aplicam adubos químicos, preferindo usufruir o efeito residual de adubação aplicada à cultura anterior.
Hoje, porém, os lavradores que preferirem aumentar a produtividade, depois de observada a vegetação satisfatória do feijoeiro no campo, decorridos vinte a trinta dias da germinação, podem lançar mão de adubação foliar.

Controle de pragas e moléstias

As pragas que normalmente atacam o feijoeiro são: cigarrinhas, mosca branca, ácaros, pulgões, tripses, percevejos, lagartas Elasmo, vaquinhas, etc. As moléstias mais comuns são: ferrugem, míldio, mosaico comum, mosaico anão, mancha de levedura, antracnose, mancha angular, macrophomina, crestamento, podridão bacteriana, etc.

O meio ambiente, isto é, o vento, a temperatura, a umidade, etc., tem muita influência na ocorrência de moléstias e de pragas. Assim, na lavoura de feijão da seca, é comum aparecerem míldio, ferrugem e cigarrinhas; nas culturas de feijão das águas aparecem crestamento bacteriano, macrophomina, etc. O lavrador deve estar prevenido para o surgimento dessas pragas e doenças e para as alterações do meio ambiente. A presença de insetos transmissores é outro fator multo importante na propagação de vírus e de outras moléstias acima citadas. Nas áreas vizinhas às culturas feijoeiros podem-se plantar milho para fazer barreira ou servir de quebra-vento, contanto que esteja livre de ervas daninhas hospedeiras para não constituírem focos de microrganismos patógenos. Devem-se também eliminar as sementes manchadas ou suspeitas de presença de qualquer elemento produtor de doenças.
A desinfecção de sementes ajuda a eliminação dos microrganismos patógenos que se acham na superfície, garantindo a boa germinação, e poderá ser feita na base de 300 g para cada 100 kg de sementes, com diversos produtos existentes no mercado.
Indicações para épocas de plantio nos respectivos Estados da União (*)

Estado

Zonas

Épocas

A

B

RS; 1.ª quinzena de setembro 
SCCaçador e Lages2.ª quinzena de setembroJaneiro e fevereiro (exceto planalto)
Canoinha, Oeste e
Vale do Rio Peixa
1.ª quinzena de setembro 
Demais regiões Agosto  
PR Sul Setembro 
NorteSetembroJaneiro
Planalto Paulista2.ª quinzena de setembro 
Vale do Paraíba Julho
Vale do RibeiraMarço, abril 
RJSetembro-outubroFevereiro-março
ESSetembro-outubroFevereiro-março
MGLesteOutubro-novembroFevereiro-março
SulJaneiro-fevereiro
Oeste2.ª quinzena de janeiro
GOSul 1.ª quinzena de fevereiro
2.ª quinzena de janeiro
BATucano – IrecêAbril-maio1.ª quinzena de fevereiro
PESertão – AgresteDezembro – janeiroNovembro
Mata Março-abril
PAAltamiraMaio
Monte AlegreMarço-abril 
AlenquerMarço-abril  

* Elaborado pela Comissão Brasileira de Feijão
Indicações do espaçamento e densidade de semeadura nos respectivos Estados da União (*)

EstadoZonaEspaçamento e densidade indicados
RStodo o Estado50cm x 20cm com 2 sementes, cova ou 12
sementes por metro  
SCtodo o Estado50cm x 20cm com 2 sementes, cova ou 12
sementes por metro 
PRSul do Oeste 60cm x 20cm com 2 plantas/cova ou 10 a 12
sementes por metro 
SPtodo o EstadoSolo normal – 40cm x 10cm com 1 planta/cova
RJtodo o Estado50cm x 20cm por 2 plantas/cova
EStodo o Estado50cm x 20cm por 2 plantas/cova
MGtodo o Estado40cm x 50cm com 10 a 12 sementes por metro
GOtodo o Estado40cm x 50cm com 10 a 12 sementes por metro
BAIrecêPlantio mecanizado: 65cm x 12cm com 2 sem/cova
Plantio normal: 50cm x 20cm com 2 plantas/cova ou
50cm x 12cm
PE 40cm x 20cm por 2 plantas/cova
PA 50cm x 30cm por 2 plantas/cova

(*) Elaborado pela Comissão Brasileira do Feijão
Tratos culturais

Embora dependa das condições de terreno, considerando que o feijoeiro é uma planta de ciclo relativamente curto, o seu cultivo com duas capinas, manuais ou com ajuda de cultivador, pode assegurar boa colheita. É importante não esquecer que o bom preparo do terreno, antes do plantio, pode economizar possíveis capinas extras. A passagem da grade às vésperas do plantio é de grande importância para retardar a germinação das sementeiras de ervas daninhas.

Durante o cultivo, deve-se impedir a entrada no campo de implementos agrícolas e de pessoas para carpir nos dias chuvosos ou quando ainda as plantas estiverem molhadas. Com isso se evitará a propagação de moléstias. Se as condições técnicas e econômicas permitirem, deve-se usar um herbicida para eliminar por mais tempo a sementeira perniciosa, podendo muitas vezes suprir as capinas manuais ou com carpideiras.
Qualquer que seja a situação, se o mato não for combatido até a época em que a folhagem do feijoeiro cubra o chão, a cultura será sensivelmente prejudicada em seu desenvolvimento e, por conseguinte, a produção de sementes.image_preview1