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Embrapa inova contra "mal do Panamá"

 
Pesquisadores do laboratório virtual da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na Holanda criaram um inédito método de diagnóstico de uma nova cepa do chamado “mal do Panamá”, doença que tem devastado plantações de banana ao redor do mundo. Em parceria com uma equipe da Universidade de Wageningen, os pesquisadores brasileiros desenvolveram uma forma de abreviar a detecção do fungo batizado como “Tropical 4”, mais agressivo do que qualquer organismo já conhecido.
A nova tecnologia, descoberta pela Embrapa em menos de um ano, reduz de quatro meses para até seis horas o tempo de diagnóstico da doença, o que pode acelerar decisões sobre isolar áreas infectadas ou erradicar pomares. Além disso, será possível fazer os testes para detectar o DNA do fungo em tecidos de plantas, dispensando o complexo processo de isolamento do fungo em laboratório. A maior rapidez também deve reduzir custos e evitar prejuízos a produtores e indústrias processadoras.
A metodologia criada pela Embrapa, que terá impacto positivo global, foi publicada neste mês na revista científica internacional “Plant Pathology”. “Essa raça, que está na Ásia e Oceania, deve chegar logo à América Central e pode repetir a história dos anos 60”, alerta o pesquisador cubano-brasileiro Miguel Ángel Dita Rodriguez, que ajudou a desenvolver o novo método no Labex Europa.
O Brasil tem registros do “mal do Panamá” desde 1957, mas o temido novo fungo ainda não chegou às plantações nacionais. Aqui, as lavouras de banana, cujo faturamento bruto está projetado em R$ 6,5 bilhões para 2010, sofrem com as variantes “TR1” e “TR2” da doença. O “mal do Panamá” é responsável pela quase extinção da banana maçã no país, onde os principais produtores são Bahia, Pará, São Paulo, Pernambuco e Minas.
A situação é ainda mais crítica, segundo os pesquisadores da Embrapa, porque as formas de controle do fungo “TR4” são limitadas. O organismo pode viver por mais de 30 anos no solo. “O ideal é controlar a doença com variedades de banana resistentes ao fungo. Mas elas ainda não existem. A única forma, por enquanto, é diagnosticar, evitar a entrada no país e erradicar as plantações onde houver infecção”, afirma Miguel Dita, fitopatologista da unidade Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA).
O novo fungo pode afetar 80% das variedades de banana cultivadas no mundo. As grandes corporações produtoras da fruta na América do Sul estão “aterrorizadas” com a possibilidade de contaminação dos pomares, sobretudo no Equador, Colômbia e Costa Rica. Mesmo restrito ao sul da Ásia, esse fungo tem rápida e agressiva disseminação, provocando perdas nas Filipinas, Tailândia, Indonésia, China e Austrália. A Embrapa estima que a variante da doença já tenha contaminado mais de 65 mil hectares de bananais apenas na China. Empresas multinacionais tentaram cultivar banana na Indonésia, segundo Miguel Dita, mas tiveram que abandonar a área.
Os testes para validar o novo método foram todos conduzidos nos laboratórios da Embrapa em Wageningen. Como o Brasil é livre do novo fungo, é proibida a manipulação genética do chamado patógeno da doença em território nacional. No século passado, as plantações da fruta foram dizimadas por outras variantes do “mal do Panamá” em várias partes do globo. A doença, que destrói os pomares, foi descoberta na Austrália, em 1874. O fungo devastador tem esse nome justamente pela proporção dos estragos impostos aos plantios do Panamá na primeira metade do Século XX.

23/02/2010

Fonte:Valor Econômico