Artigos Arquivo

COLHEITA DO ALGODÃO

Introdução

A principal meta numa colheita de algodão deve ser: colher o máximo, sem prejuízo de tipo e qualidade. Todavia, para isso, diversos fatores têm que ser levados em consideração, tais como: clima, variedade, solo, adubação, época de plantio, espaçamento, cultivo, combate às pragas, etc.

A colheita é uma operação importantíssima, pois a qualidade e o tipo do produto dependem do capricho com que ela é feita.
A geral e constante preocupação do lavrador de torná-la o mínimo onerosa e o máximo rendosa no volume de algodão colhido, pode influir negativamente na qualidade e tipo do produto que vai, assim, receber deságio no seu valor. É necessário observância das técnicas recomendadas a fim de que seja vantajosa para o lavrador, para o maquinista e para o industrial.

Fatores que influem na colheita

Clima e variedade: É necessário equacionar-se a relação entre clima e variedade, para que a colheita de algodão se processe da melhor maneira.
As variedades paulistas de algodão, quando plantadas entre outubro e novembro, fogem, na colheita, dos rigores pluviométricos, pois começam no geral a ser colhidas em março, com maior volume entre abril e maio, podendo se estender a junho. Isto ocorre em anos normais, quando na primavera as chuvas são moderadas, intercaladas com temperaturas amenas e dias ensolarados; verão com chuvas mais abundantes, sem, entretanto prejudicar a luminosidade e a temperatura; e finalmente outono (época da colheita), com temperatura amena e um mínimo de chuvas.

Ocorrências anormais em alguns anos, tais como: secas prolongadas na primavera, falta de chuvas no verão e quedas de temperatura, influem diretamente na colheita. Por sua vez, temperaturas muito altas no outono podem acelerar a maturação e o algodão sofrerá depreciação na qualidade, já que a formação de capulhos não se processa normalmente nessas condições.
Portanto, as variedades usadas devem ter características que se adaptem às condições locais. A precocidade de uma variedade é característica importante para certos países. Na Rússia, por exemplo, assim é, para que o algodão possa ser colhido antes que cheguem as geadas. No Brasil, na zona meridional, as variedades devem permitir a colheita a partir de março, mas, por um período não muito longo, evitando assim, não só as baixas temperaturas que advirão no fim do outono, como também maior incidência de pragas (lagartas e percevejos) que atacam os capulhos, apodrecendo-os.
Outras características das variedades para nós importantes são o tamanho e deiscência dos capulhos. No tipo de colheita manual há maior rendimento quando os capulhos silo grandes e bem abertos.
A resistência às intempéries é também característica positiva.

Solos e adubações: A fertilidade do solo e o tipo de adubação têm influência decisiva na colheita. Um solo recentemente desbravado, se coincidir de ser rico em matéria orgânica e pobre em fósforo, poderá dar à cultura um desenvolvimento vegetativo, exuberante, sem, contudo possuir boa carga de capulhos e, mesmo esses irão se abrir tardiamente, pegando então baixas temperaturas, o que é prejudicial.
O mesmo acontecerá se, num solo fizermos uma adubação rica em nitrogênio e pobre ou nula em fósforo.

Quando não corrigidas terras ácidas impossibilitam o crescimento das plantas, advindo então uma colheita ruim quer pela produção de maçãs, como também pela forçada e incômoda posição que teriam de tomar os colhedores na operação.
Por sua vez, uma adubação intensiva e desproporcional de fósforo para com os outros elementos – nitrogênio e potássio – pode ocasionar abertura prematura do fruto, em detrimento da qualidade das fibras que poderão ainda estar imaturas.
Vemos, pois, que o desenvolvimento da planta, à produtividade, a boa formação de fibras, a deiscência do fruto e conseqüentemente a boa colheita, dependem muito de uma  adubação racional e eqüitativa da cultura.
Época de plantio e espaçamento

Em alguns anos em que as chuvas chegam cedo (setembro), a tendência do cotonicultor é plantar antes da época recomendada. Isso pode causar grande inconveniente à colheita que se processará em fevereiro, mês de muita chuva.
Também atrasar demais a época de plantio é prejudicial, pois a colheita ocorrerá em meses com baixas temperaturas e poderá haver ainda maior incidência de lagartas e percevejos.

Quanto ao espaçamento, este não deve ser muito reduzido, porque, pela falta de aeração e luminosidade, as maçãs podem tender ao apodrecimento e não se abrirão normalmente.
Cultivo e combate às pragas

Os tratos culturais, manuais ou mecânicos, de acordo com a maior ou menor ocorrência de mato, devem ser feitos sempre oportunamente para que a lavoura se conserve no limpo, até a época da colheita; o algodão no mato, como cipós e carrapichos, constitui um empecilho para uma boa colheita, além de alterar o tipo e a qualidade do produto, sem conter que essas impurezas, quando levadas no algodão, podem ocasionar transtornos nas máquinas de benefício.

O perfeito controle das pragas durante o desenvolvimento da cultura é outro fator preponderante no êxito da colheita. Não basta praticar o saneamento da lavoura; é preciso fazê-lo corretamente para que depois haja condições de colheita, com capulhos bem abertos, sem algodão manchado e, se possível, na ausência de carimãs.
Tipos de colheita

O rendimento e o tipo do algodão silo bastante dependentes da operação colheita, pois o capricho nesta, concorre diretamente na melhoria daqueles.

O algodão pode ser colhido de duas maneiras; com emprego de máquinas ou  manual.
 
Colheita mecânicaSeu emprego vem crescendo em alguns países, por contarem com máquinas e condições adequadas.

 
São dois os tipos de máquinas aí empregados: o de fuso, que retira apenas o algodão em caroço e o tipo dotado de um sistema de roldanas, que retira capulhos inteiros e os invólucros. Este último oferece maior rendimento que o primeiro, apresentando, porém maior quantidade de impurezas. Aliás, a colheita mecânica de qualquer tipo, embora seja sempre mais rápida que a manual, sofre perdas de produto bem maiores que esta. As perdas são na ordem de 15 a 17% na colheita mecânica e de apenas 5%, na manual. Além das perdas, o rendimento no benefício é bem menor, devido à quantidade de impurezas que levam. Essas ocorrem na ordem de 35% para o algodão colhido mecanicamente e de 5% para o colhido manualmente.
Em vista disso, na usina, o beneficiamento do algodão colhido mecanicamente requer tratos especiais, com inclusão de máquinas, tais como os secadores e extratores que são disponíveis quando o algodão é colhido a mão.
Colheita manual
Em São Paulo, como no Brasil, a colheita manual é ainda a única que tem sido usada. Todavia, a disponibilidade de mão de obra é um problema que vem se tornando, de ano para ano, mais sério; rareiam-se os colhedores na quantidade e qualidade e cada vez cobram mais.
A quantidade de algodão que um colhedor consegue apanhar num dia de serviço depende de vários fatores: habilidade do homem, características da planta, produtividade da gleba, etc.
Um colhedor, em média, colhe 45 quilos (3 arrobas) de algodão por dia. Numa turma selecionada, esta média poderá subir para 80 quilos (4 arrobas). Há, entretanto, colhedores excepcionais que chegam a atingir o alto rendimento de 120 quilos (8 arrobas) diários.
Recomendações práticas

Para se efetuar uma boa colheita é necessário que atentemos para algumas recomendações que julgamos serem muito úteis. São elas:

– Iniciar a colheita quando mais da metade dos capulhos estiver aberta;
– Colher o algodão em dias secos. Nas primeiras horas da manhã também não são indicadas para esse serviço, pois o algodão ainda se acha orvalhado;
– Manter a lavoura no limpo, dando, se necessário, ligeiro repasse próximo à época da colheita;
– Não se deve colher carimãs. O verdadeiro carimã (que na língua indígena quer dizer farinha), é na planta o resultado funesto provocado por um fungo (Colletotricum gossypii). Porém na prática, chama-se carimã, capulho de algodão mal aberto, doente, seja qual for a razão;
– O algodão do baixeiro deve ser colhido separado, pois no geral ele é mais sujo que o algodão do meio e dos ponteiros. Se houver mistura, o lavrador estará concorrendo para depreciação do tipo de seu próprio algodão;
– Jogar o algodão em balaios colocado próximos do colhedor, ou em sacos a tiracolo, quando se está habituado com eles. Desfazer-se rapidamente do produto, sem esperar que a mio esteja cheia.
Cuidados após a colheita

Uma vez colhido, o algodão deve ser ensacado para a armazenagem. Antes, porém, temos que ter muita atenção para que o produto não esteja úmido. A umidade é o maior inimigo para a armazenagem. A umidade ideal do algodão é 8%, todavia, pode chegar a 10%. Se ultrapassar esse limite, já se torna perigosa a ocorrência de fermentação, o que se dará fatalmente no algodão com 15% ou mais de umidade. Isso tem que ser evitado a todo custo, pois o produto pode ser desclassificado por esse dano.

Então, depois de colhido, o algodão deve ser exposto ao sol para que fique seco. Essa operação deve ser feita em cima de oleados ou panos para não sujar o algodão; o próprio campo ou terreiros serão os locais.
Por outro lado, o algodão não pode ficar por muito tempo exposto à insolação, pois, quando muito seco, pode ter suas fibras prejudicadas durante o beneficiamento, o que deve ser evitado.
Para o enfardamento, o ideal seria usar-se sacos de tecidos de algodão, porém são mais comuns os sacos de estopas, muitas vezes fornecidos pela própria usina de benefício. Isso prejudica em parte a qualidade do algodão, pois muitos fios desses sacos se misturam com a fibra do algodão e atravessam o beneficiamento para chegarem às indústrias de tecelagem. O mesmo acontece com fios de sisal, que é o material de que geralmente são feitas as cordinhas que amarram a boca dos sacos, cuja capacidade varia de 45 a 60 quilos de algodão em caroço.
A separação de tipos deve ser feita no ato de enfardamento, a fim de aumentar as possibilidades de melhores preços na comercialização.
Não se deve forçar a capacidade dos sacos, pilando, isto é, socando muito o algodão; isso dificulta o benefício e prejudica a fibra do mesmo.
O armazenamento na propriedade agrícola requer também cuidados para que o produto não fique exposto à presença de animais, principalmente aves, cujas penas, às vezes, silo incorporadas ao algodão, o qual será depreciado.