AT - Bovinos de Corte

Artigo: É necessário castrar o boi?

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Castrar ou não castrar bois? A resposta do pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Gelson Luís Dias Feijó, do laboratório de carcaças, é “não”. Pesquisas já realizadas apontam que os mesmos padrões de qualidade de carne e carcaça de animais castrados podem ser obtidos com o abate precoce de animais inteiros. “Se o abate for feito a uma idade inferior a 24 meses animais com dente de leite, a preferência é por mantê-los inteiros pois, até esse período, não há diferença significativa quanto à qualidade de carne entre animais castrados e não castrados. Animais jovens, inteiros, apresentam carcaça e carne compatíveis com as exigências do mercado”, garante Feijó.

Manejo animal
 

Há algum tempo, em função da deficiência de instalações ou da falta de divisões das propriedades em pastos, a castração era a principal alternativa de controle reprodutivo e uma forma de facilitar o manejo nas fazendas de gado de corte. Era, também, uma forma de evitar distúrbios de comportamento provocados pelo aumento da população em espaço físico reduzido. Mas esses problemas têm sido superados com a maior organização e divisão do espaço e com o abate de animais mais cedo.

 

O bovino abatido pouco após a puberdade, ainda não sofreu uma ação hormonal significativa, que faz com que os machos desenvolvam mais a parte frontal e a região do pescoço (dimorfismo sexual). “Para o frigorífico, uma maior proporção de dianteiro não é interessante, pois este produz corte com menor valor comercial”, afirma Feijó.

A decisão de não castrar o boi e abatê-lo mais cedo esbarra na cultura de algumas regiões. No Rio Grande do Sul, especialmente em grandes fazendas, a tradição da castração é reforçada com as festas de peão, nas quais o testículo do boi é servido como o prato do dia. “Em geral, nessas oportunidades, são usados”, segundo opinião do pesquisador da Embrapa Gado de Corte, “métodos arcaicos de castração, com muito sofrimento do animal. As perdas nesses sistemas são estimados em torno de 1% a 5% dos animais castrados à faca”.

Mais vantajoso

A sugestão aos produtores feita pelo pesquisador da Embrapa é que sejam castrados animais jovens, ou mesmo, ao nascer. Economicamente, é mais vantajoso abater animais jovens inteiros do que correr riscos desnecessários com a castração do animal. Os animais inteiros apresentam melhor desempenho em ganho de peso e o produtor não corre o risco de sofrer prejuízos com mortes em decorrência de hemorragias, bicheiras e infecções no boi. O bezerro que, ao nascer, não tem qualquer valor comercial ou vale pouco, passa a custar, aos 18 meses, em torno de R$ 300,00 (trezentos reais).

 

Para Feijó, “no bezerro recém-nascido, o risco de perda por hemorragia é pequeno, o uso de anti-sépticos e cicatrizantes com função larvicida é mínimo e o custo operacional é menor, se comparado ao gasto e esforço hora/homem realizado com animais maiores. Ao castrar animais acima de 18 meses, gasta-se mais tempo em manuseio com atadura do cordão espermático e corre-se maior risco de acidentes. Nos jovens, a cicatrização ocorre em, no máximo, uma semana”.

Estresse acentuado

A castração de bezerros é agravada pela falta de alimento disponível para um ganho de peso adequado pois, em geral, ela é realizada em períodos de seca na região Centro-Oeste e de inverno nos estados do Sul. “A disponibilidade de pasto é menor nessa época e prevalece o racionamento alimentar. O garrote castrado com 18 meses vai ficar mais estressado e vai demorar mais tempo para se recuperar”, adverte o pesquisador. Já os animais mais jovens, ainda em fase de aleitamento e contando com a presença das vacas, tendem a se recuperar mais rapidamente.

 

O pesquisador da Embrapa Gado de Corte chama a atenção para o risco de perdas consideráveis, principalmente com a utilização de métodos de castração ultrapassados e que envolvem muito sofrimento animal. “Se a lucratividade da pecuária já é baixa, por que optar por uma prática que leve o produtor a perder mais dinheiro? Para que correr esse risco?”, pergunta. No entanto, Feijó salienta que a decisão de castrar ou não o boi é unicamente do produtor. Caso ele opte por castrar, precisa, ao menos, escolher o momento certo e desenvolver técnicas seguras.

Como e quando castrar?

A recomendação do pesquisador da Embrapa é que, caso o produtor insista na castração do animal, deve fazê-lo no nascimento ou, no máximo, até a puberdade, enquanto os riscos são menores. As raças britânicas atingem a puberdade de 12 a 14 meses enquanto que zebuínos, como o Nelore, e raças de grande porte, até 18 meses.

 

O produtor deve, inclusive, escolher um método que seja eficiente e menos arriscado. O mais usual é o “à faca”, que implica no uso de ferramentas cortantes. A vantagem desse método é a eficiência, uma vez que, com essa técnica, são eliminados definitivamente os testículos do boi. As desvantagens estão nos riscos de perdas de animais por tratamento pós-operatório inadequado. Outro método é do “burdizzo”, ou seja, o uso de um tipo de alicate que interrompe a circulação do testículo e esse órgão acaba morrendo devido à falta de nutrientes. Apesar de o “burdizzo” ser uma forma não cruenta (sem sangue) de castrar o boi, a sua eficiência é questionável: “em 20% a 30% dos casos, é necessário refazer a operação”, adverte Feijó.

Há, ainda, métodos como a castração russa (procedimento cirúrgico que causa a destruição da parte medular do testículo), as alternativas de atadura e a castração química (vacina para esterilizar o animal). Em qualquer desses procedimentos, o produtor deve levar em consideração, obrigatoriamente, dois princípios: eficiência e risco. Embora o menos arriscado e mais vantajoso, na opinião de Feijó, seja o abate precoce de animais inteiros. “Alia-se qualidade de carne e carcaça à rentabilidade do sistema produtivo”, finaliza.

 

Fonte: Boletim Agropecuário