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HISTÓRIA DO ALGODÃO

O algodão, que é considerado a mais importante das fibras têxteis, naturais ou artificiais, é também a planta de aproveitamento mais completo e que oferece os mais variados produtos de utilidade.
As primeiras referências históricas do algodão vêm de muitos séculos ante de Cristo. Na América, vestígios encontrados no litoral norte do Peru evidenciam que povos milenares daquela região já manipulavam o algodão. Com os incas, o artesanato têxtil atingiu culminância, pois amostras de tecidos de algodão, por eles deixados, maravilham pela beleza, perfeição e combinação de cores.
No Brasil, pouco se sabe sobre a pré-história dessa malvácea. Pela época do descobrimento de nosso país, os indígenas já cultivavam o algodão e convertiam-no em fios e tecidos. No inicio do século XVI, Jean de Lery já descrevia o processo que os índios utilizavam para fiar e tecer o algodão. Em 1576, Gandavo informava que as camas dos índios eram redes de fios de algodão e Soares de Souza, mais tarde, revelou que o algodoeiro tinha para os indígenas também outras utilidades: com o caroço esmagado e cozido faziam mingau e com o sumo das folhas curavam feridas.
Os primeiros colonos chegados ao Brasil, logo passaram a cultivar e ­utilizar o algodão nativo. No Ceará, ao ser dada a concessão de terras a Martin Soares Moreno, o conselho de Lisboa já recomendava semear algodoeiros; e em São Paulo, Serafim Leite conta que os jesuítas do padre Anchieta introduziram e desenvolveram a cultura do algodão a fim de satisfazer suas necessidades de roupas e vestir os índios.
Nesse período, porém, tinha pequena expressão no comércio mundial. A lã e o linho dominavam como tecidos. As culturas de algodão não passavam de pequenas “roças” em volta das habitações, e no Brasil o artesanato têxtil era trabalho de mulheres (índias e escravas).
Foi só pelos meados do século XVIII com a revolução industrial, que o algodão foi transformado na principal fibra têxtil e no mais importante produto das Américas.
No Brasil, o Maranhão despontou como o primeiro grande produtor da malvácea e em 1760 já exportava para a Europa 130 sacas de algodão  para chegar em 1830 a 78.300 sacas.
Ao Maranhão, seguiu-se todo o Nordeste que apareceu como a grande região algodoeira dos país. Entretanto, ao se projetarem os Estados Unidos no século XIX, como grandes produtores dessa fibra, lançando-se no mercado em quantidades crescentes, a produção brasileira entrou em rápida decadência, mesmo porque outras culturas moviam concorrência à do algodão. O café, novo produto tropical, monopolizava, principalmente em São Paulo, a atenção dos agricultores.
Porém, com a Guerra da Secessão nos Estados Unidos (1860), para­lizando em parte a exportação da fibra deste país à Europa, desencadeou-se no Brasil novo surto algodoeiro, que durou pouco mais de 10 anos. Sua influência, porém, prolongou-se por muito mais tempo, ao contribuir para fundamentar o progresso da cotonicultura brasileira, especialmente em São Paulo, ocorrido depois.
Até então, no Brasil se cultivava o algodão arbóreo. Por essa época o algodão herbáceo foi introduzido no País e pela primeira vez na história, São Paulo se destaca como produtor desta fibra. A cultura do algodoeiro anual se expandiu por todo o Estado, apesar da inexperiência dos agricultores em culti­vá-lo. Alguns imigrantes norte-americanos que se estabeleceram em Santa Bár­bara nesta ocasião contribuíram bastante para orientar outros lavradores. Suas culturas serviram de modelo para as demais.
Entretanto, com a restauração da produção dos Estados Unidos, a culltura em São Paulo regrediu consideravelmente, mas não se extinguiu.
Somente pela ocasião da I Grande Guerra Mundial, que coincidiu com a brutal geada de 1918, a qual devastou os cafezais, o algodão teve outro surto em São Paulo, que atingiu a produção recorde de 50 mil toneladas de plumas. A indústria têxtil também já tomava vulto e o aproveitamento industrial do caroço de algodão começou a se desenvolver.
A grande importância que o algodão ia adquirindo, em contraste com o atraso de sua produção no país, começou a despertar, desde o início do século, interesse pela pesquisa agronômica. Monografias sobre o algodão foram aparecendo, destacando-se a de Gustavo Dutra, então diretor do Instituto Agro­nômico de Campinas. Em 1918 houve no Rio de Janeiro a Conferência do Algodão, na qual vários trabalhos foram apresentados. Todavia, o maior parte dos trabalhos escritos era baseado em literatura estrangeira.
Estava, porém, reservado ao Instituto Agronômico de Campinas abrir no país a era da Agricultura baseada na técnica agronômica. Em 1924, Cruz Martins  iniciou neste estabelecimento, então sob a diretoria de Theodureto de Camargo, os trabalhos de melhoramento genético de experimentação relativa à técnica do cultivo do algodoeiro. Sementes de variedades selecionadas (tendo por base variedades ame­ricanas) passaram a ser distribuídas aos lavradores, ao mesmo tempo em que se ia elaborando os fundamentos da técnica de cultivá-las. A partir dessa época as pesquisas foram evoluindo.
Porém, não foi na década do 20, mas na de 30 que o Estado de São Paulo pronunciou como o grande  produtor de algodão do país, posição que desfrutava ao lado do Paraná.
Já se notou, no decorrer desta exposição, que os surtos algodoeiros em São Paulo eram provocados por fatores externos ocasionais. Na década de 30, o fator interno seria  predominante, pois a crise do café ocorrida em 1929 acarretou profundo abalo na economia brasileira, especialmente em São Paulo, que girava em torno deste produto. Desmoronou-se então a estrutura cafeeira, dando lugar ao ressurgimento da cotonicultura com uma expansão no Estado, agora já apoiada em técnicas modernas e pesquisas regionais.
O início da nova fase algodoeira, os agricultores puderam contar com sementes selecionadas, o que sempre faltou nos surtos anteriores, e, de 1934 em diante, toda a lavoura do Estado era de variedades paulistas.
Nesse mesmo período, a produção de algodão em pluma em São Paulo, elevava-se de 4.000 para 100.000 toneladas. A conquista dos mercados mundiais, em virtude das boas qualidades das fibras foi possível e a produção continuou aumentando, para chegar ao clímax em 1944, com 463.000 toneladas.
Todavia, com a expansão da cultura, alastraram-se também as pragas. Apareceram anos de condições climáticas desfavoráveis ao algodoeiro e favo­ráveis à incidência das pragas, provocando alarmante queda de produtividade da cultura. A área no Estado reduziu-se drasticamente, dando lugar à pastagem e a outras culturas tais como milho, arroz, amendoim e outras. Indiretamente o algodão concorreu para a diversificação da agricultura paulista e conseqüentemente para seu adiantamento técnico.
A partir daí, o futuro da cotonicultura em São Paulo estava não mais na expansão da área, mas na produção por área, isto é, sua produtividade. Os resultados não se fizeram esperar. Graças aos esforços conjugados da pesquisa e do fomento, apresentando aos lavradores as boas variedades, ensinando-lhes as melhores técnicas, a produtividade do algodão no Estado elevou-se conti­nuamente, a ponto de a produção em caroço, que no início de 1945/49 era do 474 kg por hectare, passar para 882 kg/ha no período de 1955/59 e atingir em 1965/69 a produtividade de 1290 quilos e, produzindo em 1979/80, 1822 Kg/ha.