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Mastite – Considerações sobre Prejuízos e Controle

A mastite é a doença que maiores prejuízos traz à pecuária leiteira mundial. Estudos indicam que nos EUA cerca de 2 bilhões de dólares são gastos anualmente com a doença. Todos as etapas do setor leiteiro são prejudicadas, abrangendo tanto perdas diretas de produção quanto o menor rendimento na fabricação de derivados.

A mensuração dos prejuízos trazidos pela mastite tem sido objeto de diversos estudos científicos. É unânime a opinião de que a Contagem de Células Somáticas(CCS) é um indicativo fiel do status de infecção do rebanho e que as perdas em produção estão diretamente relacionadas ao aumento destas. Abaixo estão citados alguns trabalhos que avaliam as perdas em produção de acordo com a CCS.

Tab. 1CCS do tanque resfriador X redução da produção do rebanho

CCS tanque
(em mil células)
De Até
Queda na produção
(%)
Até 1500
150 – 2001
200 – 3003
300 – 4005
400 – 5007
500 – 75012
750 – 1.00017
1000 – 1.50027
1.500 – 2.00035

Fonte : Radostitis et ali, 1994

Tab. 2CCS tanque X % Quartos Infectados X Queda na Produção

CCS do Tanque % de Quartos Infectados % de Queda na Produção
200.000 60
500.000 166
1.000.000 3218
1.500.000 4829

Fonte : NMC, 1996

Tab. 3 – Escore de Células Somáticas(ECS) do tanque X CCS tanque X Redução na produção do rebanho.

ECS Tanque CCS tanque
(em mil células)
De Até
Queda na produção
(%)
0-30 – 1400
4140 – 2805
5280 – 56010
6560 – 112015
71120 – 224020
82240 – 448025
9+ de 448030

Fonte : Kentucky University, 1999

É interessante observar que os diferentes trabalhos produziram resultados semelhantes. Também podemos observar que a Contagem de Células Somáticas (CCS) é uma ótima ferramenta que deverá ser utilizada para gerenciar a produção e o “status” de saúde dos úberes. Quanto maior for a CCS, maior será a queda de produção, indicando que há um número elevado de quartos infectados.

Tenha em mãos o resultado da Contagem de Células Somáticas (CCS), observe os diferentes trabalhos nas tabelas 1, 2 e 3, e pergunte-se:

Qual é a minha situação? Onde eu me enquadro?

Qual é o meu percentual de queda de produção?

Quantos quartos doentes são representados por esta CCS ?

Se o resultado de sua análise da CCS estiver acima de 400.000 ( limite máximo aceitável para o leite destinado ao consumo humano em alguns países) é um indicativo de que a qualidade do leite produzido na sua propriedade está comprometida.

Outros trabalhos avaliam os custos relacionados à mastite, como o abaixo descrito:

Tab. 4 – Custos (U$$) da Mastite (por vaca total do rebanho)

Item U$$ / Vaca / Ano % do Custo Total
Queda na Produção* 121.066.0
Descarte de Leite 10.455.7
Custos do Descarte Involuntário 43.7122.6
Trabalho Extra 1.140.1
Medicamentos 7.364.1
Serviços Veterinários 2.721.5
Total 184.4 100.0

*Estimada em 5,5% por quarto afetado; 33% de vacas infectadas com 1,5 quartos afetados/vaca; preço do leite = U$$ 0.27 cents Fonte : NMC, 1996

No quadro acima observamos que o custo maior da mastite não está nos medicamentos, descarte do leite e dos serviços Veterinários como a maioria dos produtores imaginam, mas sim o custo maior está evidenciado na queda de produção que representa o maior percentual ( 66%) do custo total.

Também são comprovadas as implicações da mastite na qualidade do leite, afetando diretamente a ação da indústria. Entre elas podemos enumerar:

* Redução dos níveis de caseína, comprometendo em especial a qualidade do queijo;

* Aumento dos níveis de ácidos graxos livres, acelerando o processo de ranço;

* Aumento do tempo de coagulação do leite para fabricação de queijo;

* Redução da Matéria Seca do leite;

* Liberação de enzimas lipolíticas resistentes à pasteurização;

* Na produção de leite UHT há uma redução do tempo para gelatinização;

* Alterações organolépticas diversas;

* Redução da durabilidade em prateleira em todos os produtos lácteos.

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE:

Diversas são as estratégias recomendadas para controle de mastite e redução de CCS. O NMC (Conselho Nacional de Mastite – USA) divulga um programa de 9 pontos essenciais, no qual dá destaque ao uso de desinfecção PRÉ e PÓS ORDENHA. A eficácia dessas estratégias é amplamente comprovada, e há consenso geral que:

* A imersão pré-ordenha pode reduzir em cerca de 50% a incidência de novos casos de mastite contagiosa;

* A imersão pré-ordenha pode reduzir em até 80% a contagem bacteriana total do leite;

* A imersão pré-ordenha pode reduzir em até 70% a contagem de coliformes do leite;

* A imersão pós-ordenha pode reduzir em cerca de 55% a incidência de novos casos de mastite ambiental;

Para que estas estratégias sejam eficazes, é necessário eleger produtos que tenham velocidade de ação (efetivos em 15 –20 segundos), espectro de ação amplo, que condicionam os tetos (rachaduras que albergam germes), proteção contra mastite ambiental (utilizar produtos com barreira) e contagiosa, que não sejam tóxicos e que não deixem resíduos no leite.

Méd. Vet. João Almir
FONTE SEMEIA