Nova regra na Índia incentiva a compra de açúcar brasileiro
A decisão do governo indiano de proibir os consumidores do atacado de adquirirem açúcar doméstico para retrair os altos preços praticados no mercado interno, obrigando-os a dependerem exclusivamente da importação do produto, deixou o setor industrial local insatisfeito. Para o Brasil, a notícia é positiva porque pode favorecer as exportações do País. A previsão inicial de embarque do açúcar brasileiro para a Índia é de sete milhões de toneladas, mas com essa restrição, o montante pode ser superado.
De acordo com Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado, a estimativa do departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta uma produção de 17 milhões de toneladas na Índia para a safra 2009/2010. Para a Indian Sugar Mills Association (Isma), o volume deve atingir no máximo 16 milhões de toneladas. “Ao contrário da produção, o consumo interno indiano só cresceu nos últimos anos. De 10 quilos per capita saltou para 17 quilos per capita”, afirma Sérgio Prado, representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), unidade de Ribeirão Preto.
Números do USDA mostram que o consumo interno indiano deve girar em torno de 23 milhões de toneladas. Segundo Biegai, o atacado indiano consome cerca de 60% da produção interna. “Eles (Índia) também estão quase sem estoque”, afirma o analista.
De acordo com Prado, a produção brasileira estimada é de pouco mais de 29 milhões de toneladas e deste total, o País deve comercializar no mercado externo aproximadamente 22,2 milhões de toneladas. “O Brasil só não vai exportar mais porque não produz mais”, afirma.
Já o analista estima que o Brasil pode embarcar, este ano, mais de 24 milhões de toneladas. “Vai ter muita oferta do produto”, afirma.
Dentre os principais países compradores do açúcar brasileiro, além da Índia, estão o Oriente Médio, a Rússia e a África.
Pautado também pelo excesso de oferta, Biegai calcula que a cotação do açúcar deve continuar em queda. “Cada contrato, nos últimos dois anos, é fechado mais barato”, diz o analista.
O ministro da Agricultura indiano, Sharad Pawar, acredita que a partir de setembro (para a temporada 2010/2011), os preços brasileiros tendem a cair mais.
Prado explicou que os problemas enfrentados pelos indianos com relação aos altos preços praticados no mercado interno se devem às complexas políticas do país, além da falta de planejamento de produção e o perfil do produtor. “A maioria é pequeno produtor. Na Índia pode haver mudança de uma safra para outra porque não tem tanto corte como aqui. Nossa produção é planejada de médio a longo prazo”, diz.
Biegai aponta também as variações climáticas dos últimos dois anos como fator de peso na quebra de safra indiana. Para o analista, essas variações devem se estender a outros países localizados na mesma faixa climática do país. “Vão sofrer ou com muita chuva ou muita seca”, diz.
A produção indiana da safra 2007/2008, de 28 milhões de toneladas, para a de 2008/2009 sofreu uma quebra de 42,86%.
Para Biegai devido a diversidade do clima produzir será como dar um ‘tiro no escuro’. “Se o preço estiver bom o produtor deve vender e não pensar em mais nada”, aconselha.
A Indian Sugar Mills Association (Isma) pediu, nesta semana, ao governo que reconsidere a medida que restringe o atacado à importação. Até o fechamento desta edição, Nova Délhi não tinha emitido nenhum parecer.
O peço do açúcar no mercado indiano saltou mais de 30% desde 1º de outubro, início do ano comercial.
A decisão do governo indiano de proibir os atacadistas de comprar açúcar doméstico fez com que o setor dependesse exclusivamente da importação do produto e deixou a indústria local insatisfeita. A medida, adotada para retrair preços no mercado interno, é uma notícia positiva para o Brasil, que deve aumentar o volume de embarques da commodity para o país. A previsão inicial de embarque do açúcar brasileiro à Índia é de sete milhões de toneladas, mas, com a restrição ao atacado, o montante pode ser superado. A produção interna indiana deve chegar a 17 milhões de toneladas nesta safra. Segundo analistas, 60% deste volume iria para o atacado.