PR quer ser “ilha” livre de aftosa
De olho nas exportações, estado pediu ao governo federal que suas criações de gado sejam liberadas da necessidade de vacinação contra a doença. Decisão sai no 2.º semestre
A pecuária do Paraná voltou ao ponto em que estava às vésperas da crise da aftosa de 2005: pediu ontem ao Ministério da Agricultura para que o estado seja declarado área livre de aftosa sem vacinação no segundo semestre deste ano. A meta é conquistar esse status sanitário em âmbito internacional e ampliar as exportações de carne bovina.
O fim das campanhas de vacinação foi aprovado pelo Conselho Estadual da Sanidade Agropecuária (Conesa). Em seguida, o secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Valter Bianchini, repassou ao ministro Reinhold Stephanes a reivindicação. Agora os fiscais do ministério darão o próximo passo, com uma auditoria na rede pecuária paranaense.
A campanha de vacinação programada para maio foi mantida. Todos os bovinos e bubalinos com até 24 meses devem ser vacinados. A estimativa é que 4,4 milhões das 9 milhões de cabeças estejam nessa faixa etária. A suspensão das vacinações deve permitir aos pecuaristas do Paraná economia de R$ 30 milhões ao ano, estima o setor.
Bianchini disse que o Paraná está “seguro” em seu pedido. Stephanes avalia que a suspensão da vacinação aumenta a responsabilidade sanitária do estado. Representantes da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e de associações de pecuaristas manifestaram apoio à medida e confirmaram a boa expectativa em relação às exportações.
A pecuária se prepara para mudanças práticas. Se hoje quem não vacina é multado em R$ 87 por cabeça de gado, depois de o estado ser declarado área livre sem vacinação pelo ministério a penalidade deve recair sobre quem vacinar. O estado não poderá mais sequer receber animais vacinados em feiras e leilões. Internamente, terá de negociar exclusivamente com Santa Catarina, único estado brasileiro livre de aftosa sem vacinação.
“É necessário que transformemos o estado numa ilha para competir com outras regiões”, afirma o chefe do Departamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária do Paraná, Silmar Pires Bürer. Ele considera que hoje a pecuária paranaense, que disputa terras com a agricultura, compete com fazendas de estados como Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, onde não faltam campos e o custo de produção da carne bovina é menor.
A aprovação do governo federal à suspensão da vacinação é dada como certa. Para o secretário nacional da Defesa e Sanidade Agropecuária, Inácio Kroetz, o estado tem capacidade para fazer ajustes necessários. Depois dessa fase, será preciso esperar o reconhecimento da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Para chegar a esse ponto, Santa Catarina ficou 14 anos sem aftosa e 6 anos sem vacinação.
Crise
A aftosa não afeta a saúde humana, mas a economia. As exportações de carne bovina do Paraná, que somaram 18 mil toneladas em 2009, eram duas vezes maiores em 2005. De lá para cá, vêm caindo continuamente. Nenhum país quer correr o risco de ter seu gado debilitado ou disseminar a doença. O Paraná mantém seu rebanho na faixa de 9 milhões de cabeças. Volta-se para o mercado interno, e recebe menos por isso.
De 2008 para 2009, as exportações de carne bovina do estado caíram 31% em volume e 41% em valor, por causa da crise no consumo internacional. Todo o país sentiu a retração (em 10% e 23%, respectivamente). Os números vêm da Secretaria de Comércio Exterior.
O país arrecadou US$ 4,12 bilhões com a exportação de carne bovina no ano passado. O estado, apenas US$ 53,84 milhões – ante US$ 82,17 lá em 2005. A participação estadual, que ficava acima de 2,5% até 2005, caiu a menos de 1,5%. Para o governo do estado, a retomada requer novo status sanitário.
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