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PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS ALGÁCEOS PRECISA DE PROXIMIDADE FÍSICA

Operações com algas deveriam estar localizadas perto de indústrias capazes de suprir um ou mais nutrientes necessários.
Pesquisadores continuam a desenvolver linhagens de algas que produzem um volume maior de compostos oleosos, passíveis de serem processados e transformados em biocombustíveis. Mas à medida que empresas novas e já estabelecidas examinam como promover processos laboratoriais a níveis comerciais, cientistas e engenheiros parecem acreditar que operações isoladas talvez não sejam economicamente viáveis. O consorciamento de fazendas de algas com outras instalações industriais poderia ser uma estratégia executável para produzir biocombustíveis de algas em grande escala.
Algas tipicamente utilizam luz solar e água para converter dióxido de carbono em lipídios. Dependendo do processo, nutrientes como nitrogênio e fósforo podem incrementar essa transformação. Em escalas prototípicas, suprir os “acréscimos” não constitui problema; mas em dimensões industriais, serão necessárias grandes quantidades dessas substâncias. Em muitos lugares não há fontes abundantes de CO2 e outros nutrientes disponíveis prontamente e, mesmo se houvesse, sua aquisição, a preços de mercado, poderia tornar os biocombustíveis de algas exorbitantemente caros.
A solução? Transformar os resíduos de outras indústrias em um recurso útil para esse novo empreendimento, o que ajudaria a solucionar simultaneamente o problema do lixo. Consciente ou inconscientemente, vários cientistas palestrantes na conferência anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência advogaram a noção de que operações com algas deveriam estar localizadas perto de indústrias capazes de suprir um ou mais nutrientes necessários constantemente.
Por exemplo, instalações de produção de algas poderiam situar-se perto de usinas elétricas movidas a carvão, submetidas a crescentes pressões e regulamentos para reduzir suas emissões de CO2. Em vez de gastar dinheiro para sequestrar esse carbono, digamos, no subsolo, porque não vendê-lo, a um preço barato, para uma fazenda de algas adjacente? De fato, a usina de algas Seambiotic, em Tel Aviv, Israel, está extraindo o gás canalizado de uma usina a carvão ao lado.
Produtores de algas também poderiam se instalar perto de estações de tratamento de esgoto municipais. A água “saneada”, normalmente depositada em rios ou outros corpos d’água, em geral é segura para o meio ambiente, mas ainda contém uma quantidade de nitrogênio e fósforo excessiva para consumo humano. As algas, entretanto, florescem com esses compostos e a alternativa de adquiri-los como fertilizantes deixa uma grande pegada ambiental. É claro que a própria água é necessária para a produção de algas. Um fábrica-piloto, administrada pela Sunrise Ridge Algae, em Austin, no Texas, está trazendo esse recurso da estação de saneamento Hornsby Bend, próxima ao local. A Sunrise também esperava poder extrair suficiente CO2 dessa água, mas o fluxo vindo dos digestores anaeróbicos de Hornsby era inconsistente – o que não foi uma surpresa, já que o sistema não foi construído para suprir CO2 propriamente dito.
Esses conceitos de integração podem ser ainda mais desenvolvidos, observou Norm Whitten, CEO da Sunrise. Quando as algas são colhidas para extração de seus lipídios, a matéria residual da planta pode ser processada e transformada em ração animal, ou convertida em uma substância xaroposa, que chamou de bióleo, que pode ser queimada quase como óleo, dinamizando a economia de uma fábrica de biocombustível. Whitten também comentou que fábricas de cimento geram enormes quantidades de CO2 – cerca de uma tonelada para cada 1.000 kg de cimento produzido – que poderiam constituir um fluxo de nutriente para “usinas” de algas. E o calor residual do cimento ou de usinas elétricas poderia ser utilizado para aquecer os lagos, as embalagens ou os tubos de algas, para acelerar seu crescimento. Ligando todos esses pontos, Whitten observou que o corredor da Rota 35, no Texas, abriga muitas fábricas de cimento, que poderiam fornecer CO2 e calor residual, além de refinarias de petróleo, que poderiam processar o bióleo.
Resta ver se essas combinações tornarão o biocombustível algal comercialmente competitivo, mas parece provável que a proximidade local será um fator importante pra viabilizar uma indústria de porte apreciável (Scientific American Brasil, 1/3/10)