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EUA: LOCKE INDICA QUE POLÍTICA SOBRE ETANOL PODE MUDAR

Os Estados Unidos querem fazer negócios, não a guerra. Essa foi a principal mensagem trazida ontem pelo secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, em conversas com os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e da Casa Civil, Dilma Roussef, além do secretário-geral do Ministério Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Locke, em um intervalo entre os encontros, falou ao Valor, revelou prioridades dos EUA no comércio com o Brasil e sugeriu que pode estar próximo o atendimento a uma antiga reivindicação, o fim da taxa imposta às importações de etanol brasileiro naquele país . “Vamos ver o que faz o Congresso”, disse o representante do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Em maio, uma delegação de autoridades brasileiras vai aos EUA analisar as operações das empresas de encomendas expressas, como FedEx e UPS, em mais um passo nas negociações para facilitar o uso desses serviços no comércio entre os dois países, informou Locke, com ar satisfeito. Hoje, importações pelos chamados “courier” são limitadas a US$ 3 mil. O secretário (equivalente a ministro, nos EUA) informou também que, em “poucos dias”, virá um delegação de autoridades dos Estados Unidos para tentar um acordo que evite as sanções anunciadas nesta semana pelo Brasil contra empresas americanas, em retaliação aos subsídios ilegais concedidos aos produtores de algodão dos EUA.
“Há um forte compromisso dos dois países em evitar uma guerra comercial. Numa guerra comercial ninguém ganha, todos perdem”, disse Locke. Ele discutiu com autoridades brasileiras o interesse do governo e firmas americanos em participar de obras e investimentos de infraestrutura destinados à Copa do Mundo de futebol de 2014 e à Olimpíada de 2016. Os EUA defendem um acordo de “open skies (céus abertos)”, abertura para operação de companhias de aviação, e têm propostas para participar da ampliação da infraestrutura aeroportuária, informou Locke.
Ele classifica de “especulação” a ameaça de retaliações brasileiras contra direitos de propriedade intelectual de firmas americanas, como foi autorizado pela Organização Mundial de Comércio (OMC). Para evitar esse risco, os EUA pretendem alcançar rapidamente um acordo, argumenta, e nega que uma eventual retaliação por parte do Brasil possa desencadear uma guerra comercial, com represálias de lado a lado. “O Brasil está autorizado a fazer isso (as retaliações) de acordo com a decisão da Organização Mundial do Comércio”, reconhece.
“É importante não haver nenhuma retaliação posterior como resposta do lado americano, que crie outro ato de retaliação do lado brasileiro, que então crie outra resposta do lado americano, que resulte em resposta brasileira, indo de um lado ao outro, numa guerra comercial que ninguém ganharia”, diz. “Precisamos tentar resolver o mais rapidamente isso, evitar qualquer tipo de guerra comercial”, comentou o secretário, numa demonstração da boa vontade dos EUA. Ele ressalva que não é o encarregado das negociações, que são conduzidas pelo representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Ron Kirk.
“A relação global entre Brasil e EUA é tão forte e muito complexa que numa relação dessas sempre há desentendimentos”, minimiza o secretário. “Essa questão específica (do algodão) não pode obscurecer o incrível progresso feito em termos de interdependência entre os Estados Unidos e o Brasil.”
Cauteloso ao falar de etanol, assunto de decisão do Congresso americano, Locke adianta, porém, que há um deslocamento progressivo dos Estados Unidos em direção a alternativas avançadas de energia e biocombustível e para longe do uso do etanol de milho, que “não preenche os critérios para ser definido como biocombustível avançado”. O etanol de cana sim, preenche. Em dezembro, acaba o prazo de vigência do subsídio concedido ao álcool dos produtores americanos e da sobretaxa sobre o álcool brasileiro. “Vamos ver o que faz o Congresso”, insinua o secretário. No ano passado, foi extinta por decurso de prazo uma taxa de apoio ao biodiesel local, pouco eficiente.
Os Estados Unidos têm interesse em vender ao Brasil produtos principalmente de pequenas e médias empresas geradoras de emprego, em setores como cosméticos, farmacêuticos, energia alternativa, equipamentos geradores e até turbinas eólicas, enumera Locke, que discutiu oportunidades de fornecimento de equipamentos geradores e de eficiência energética no Ministério de Minas e Energia. “Também buscamos oportunidades para pequenas e médias empresa do Brasil, mas para essas empresas a logística e o envio de mercadorias é um componente-chave”, argumenta ele, para voltar à defesa de facilidades para empresas de encomendas expressas. “Pequenas e médias empresas não ocupam um contêiner de produtos, é mais fácil e conveniente o envio de pacotes pequenos, por empresas como UPS e FedEx”, insiste.
“Também vejo oportunidades para companhias americanas para fazer sociedades com brasileiras”, argumenta, ao falar das perspectivas com a Copa do Mundo de futebol e a Olimpíada no Brasil. “Veja o turismo, a construção de estádios, as várias instalações para os Jogos Olímpicos, a melhoria de transporte”, comenta. Ao ser provocado a dizer qual o principal resultado da visita ao Brasil, na qual acompanhou no almoço os dirigentes do Forum de Altos Executivos Brasil-Estados Unidos, Locke dá uma resposta política. “O principal é a reafirmação da força de nossas relações econômicas e políticas, valorizamos muito isso, nossa parceria com o Brasil”, afirma. “Vemos oportunidades mútuas de investimentos, de levantar o padrão de vida de ambos os povos.”
O ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, informou à saída do encontro e do almoço com Locke que não chegaram a discutir propostas específicas no caso do algodão. Segundo uma autoridade brasileira que participou do encontro com o secretário, os representantes do governo brasileiro insistiram com a delegação americana que o prazo para as retaliações é curto, 30 dias, e há expectativa de uma oferta dos EUA a tempo de evitar as sanções.
“A mensagem sobre algodão é que queremos resolver o caso, e o mais rapidamente possível, de maneira satisfatória para ambos”, garante Locke. “Enviados dos Estados Unidos se encontrarão com sua contraparte no Brasil em poucos dias”, informou (Valor, 10/3/10)