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Governo vem apertando o cerco para tentar elevar a qualidade do Trigo

 
trigo_plantio11Depois de subsidiar, pela segunda safra consecutiva, cerca de 30% da produção nacional de trigo, o governo vem apertando o cerco para tentar elevar a qualidade do cereal. Já foi colocada em consulta pública a proposta de reclassificação do trigo para efeito de remuneração pelos preços mínimos oficiais. Mas, no campo, a proposta vem sendo considerada rígida demais. Se os critérios forem aprovados, praticamente metade da produção do Paraná, por exemplo, onde é produzido o trigo de melhor qualidade do país, seria reclassificada na categoria “outros usos”, que inclui o cereal para ração.

Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), reconhece que é preciso fazer adequações nas regras de classificação. Mas, segundo ele, a proposta do governo “aperta” muito os critérios nesta frente.

Ele conta que na safra 2008/09, considerada com boas condições climáticas, o Paraná produziu em 84% de sua área duas variedades do cereal de melhor qualidade, o “trigo-pão”, usado principalmente na fabricação do pão francês, e o tipo “melhorador”, de qualidade ainda superior e muito usado em misturas para elevar qualidade de grãos inferiores. “Se essa mesma produção fosse classificada de acordo com os critérios da atual proposta do governo, 46% da safra 2008/09 do Paraná seria considerada de qualidade compatível com trigo para a produção de ração animal”, compara.

No caso do Rio Grande do Sul, o segundo maior produtor nacional depois do Paraná, o efeito seria ainda maior. Isso porque o Estado já semeia uma área menor com sementes de maior qualidade. Na temporada 2009/10, somente 43% da área gaúcha foi cultivada com o trigo dos tipos pão e melhorador.

Rui Polidoro Pinto, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura, conta que em uma reunião realizada ontem na câmara ficou definido que as cooperativas agrícolas do Paraná e do Rio Grande do Sul vão elaborar uma contra-proposta para ser apresentada em uma reunião marcada para os dias 8 e 9 de abril no Ministério da Agricultura sobre o assunto.

“De qualquer forma, essa contraproposta deve ser diferente dessa mudança radical e profunda proposta. Tem que haver gradualidade na implementação para não desestimular o plantio”, afirma Polidoro, que também presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS).

Neste ano, a maior disponibilidade de sementes deve fazer com que os produtores gaúchos plantem mais variedades de trigo de maior qualidade. A expectativa da Embrapa é que no ciclo 2009/10, cujo plantio começa em maio no Rio Grande do Sul, a oferta de semente oficial de trigo-pão seja suficiente para cobrir 53% da área, o que representaria avanço de dez pontos percentuais em relação à safra anterior.

O processo de mudança na classificação do trigo é anterior à safra 2008/09, quando o sistema se restringia a duas categorias. A primeira delas é a do trigo brando, considerado de menor qualidade e mais usado na fabricação de biscoitos, e a segunda, a do trigo melhorador, avaliado como o de melhor qualidade e usado para ser misturado para melhorar tipos inferiores do cereal.

Na safra seguinte, o governo inseriu a especificação “trigo-pão” e aumentou os valores de preço mínimo em maior proporção para os de melhor qualidade. O tipo melhorador recebeu reajuste de 15% no preço mínimo, três vezes mais do que o trigo tipo brando.

Nessa proposta do governo em consulta pública até 1º de abril, foi incluído como critério de avaliação de qualidade o indicador “estabilidade”, que pode onerar o custo do produtor com classificação, diz Gilberto Cunha, chefe-geral da Embrapa Trigo. Além dessa alteração, há mais exigências nos critérios já existentes. Para ser considerado trigo do tipo “pão”, por exemplo, a força do glúten ter que ser de 220, ante os 180 exigidos atualmente. Já o tipo melhorador terá exigência de “força do glúten” de 300, ante os 270 aceitos hoje.

 

10/03/2010

Fonte:Valor Econômico – Fabiana Batista