APÓS PIOR PIB DESDE 1996, AGRICULTURA PREVÊ 2010 MELHOR
Uma conjunção de fatores negativos levou a agropecuária a registrar em 2009 o seu pior desempenho no PIB brasileiro desde 1996, mas representantes do setor e do governo esperam por boa recuperação neste ano.
A retração de 5,2 por cento no PIB agropecuário no ano passado, indicada pelo IBGE nesta quinta-feira, que colaborou para que o PIB brasileiro caísse 0,2 por cento, foi a maior em 13 anos, segundo a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), que apontou como responsáveis principais, além da crise econômica global, a seca que reduziu a safra de grãos e o elevado endividamento.
“Tivemos em primeiro lugar a quebra da safra de grãos, por problema de estiagem. Perdemos quase 8 milhões de toneladas. E a crise internacional trouxe impacto de queda na demanda externa, com os preços das commodities, que estavam muito altos em 2008, caindo”, afirmou o diretor-executivo da Abag, Luiz Antônio Pinazza.
“E estamos comparando com ano atípico, que foi 2008, que teve uma bolha, com quase todas as cotações em recordes”, acrescentou.
Cesário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira, disse que a fragilidade do setor antes da crise aprofundou o impacto.
“A agricultura já vinha em um processo difícil, temos problemas estruturais grandes, que ainda não foram atacados. Então juntou-se a isso a questão internacional, tivemos quedas de preços muito significativas, nas carnes, por exemplo”, afirmou Ramalho, citando também a seca.
“Os Estados do centro-sul perderam muito por função climática. Foi uma soma de fatores que fez a agricultura perder faturamento.”
Ramalho citou números do Cepea, órgão de pesquisa econômica da Esalq, da USP, que indicaram perda de 45 bilhões de reais no faturamento do setor no ano passado.
O Cepea, aliás, também divulgou indicadores nesta quinta-feira, a exemplo do IBGE, avaliando o cenário para as exportações agrícolas no ano passado, assim como preços.
“Com as dificuldades de comercialização no mercado externo e o recuo dos preços em dólares ao longo de 2009, 10 dos 13 grupos de produtos analisados pelo Cepea perderam atratividade, ou seja, preços médios em reais diminuíram”, disse o órgão.
Os especialistas comentaram também a questão de endividamento, principalmente no setor sucroalcooleiro e de carnes.
“Algumas cadeias estavam muito alavancadas (no ano passado), com grandes empréstimos e investimentos. A crise pegou bem nesse momento”, disse Pinazza, que prevê recuperação neste ano.
PIB DE 2010
Ao comentar a queda do PIB do setor em 2009, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que a agropecuária deve crescer 8 por cento em 2010, uma taxa acima da prevista para a economia brasileira.
“Quando se olha a agricultura num horizonte de médio prazo, a atividade tem um desempenho extremamente positivo”, disse Stephanes, lembrando que o setor não apresenta o mesmo comportamento de outros da economia, por conta de sua sazonalidade.
O representante da Abag concorda que 2010 será melhor do que em 2009.
“O primeiro trimestre, se for positivo, vai ser pouco. No segundo trimestre, com certeza já vai ser positivo. Vamos colher uma safra muito boa, por incrível que pareça. Plantamos na recessão, então não teve muito crescimento de área, mas o tempo foi bom.”
O Ministério da Agricultura prevê uma produção quase recorde de grãos neste ano, em grande parte devido às amplas chuvas (Reuters, 11/3/10)
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