Considerações sobre o descarte de ventres

O momento de decidir quantas fêmeas expor a reprodução é uma das etapas mais importantes dentro do ano em uma propriedade. Este número deve ser calculado e analisado minuciosamente para que não ocorra nenhum tipo de imprevisto no futuro.

         As propriedades apresentam critérios diferentes no momento de selecionar quais vacas e novilhas entrarão para reprodução e quais serão descartadas. Além de ser um parâmetro do que virá pela frente, o descarte das fêmeas é importante receita dentro do balanço financeiro da fazenda. A seleção das matrizes pode ser dividida em dois momentos: antes e depois da estação reprodutiva.

Antes da Temporada de Reprodução: Momento importante dentro da propriedade para planejar a quantidade de pasto que teremos disponível para a parição do ano posterior, calculando assim o possível número de ventres expostos a reprodução. Feito isto, todas as fêmeas deverão passar por uma avaliação que definirá quais serão aproveitadas. Nesta avaliação é importante a observação de alguns aspectos como:

– Idade: vacas com idade avançada e dentição prejudicada podem apresentar problemas em manter a condição corporal, o que influência na capacidade de manutenção futura da vaca.

– Estrutura: Vacas com problemas estruturais devem ser descartadas. Defeitos estruturais são limitantes da capacidade produtiva das fêmeas. Animais com problemas de aprumos como cascos achinelados e que apresentam um fechamento dos jarretes durante a marcha devem ser descartados. Vacas que apresentem problemas de conformação no úbere também são candidatas ao descarte.

– Novilhas: Teoricamente, todas as novilhas que alcançarem 65% do peso adulto têm condições de emprenhar e levar a gestação a termo. Esta afirmação não pode ser levada ao pé da letra, pois existem diferenças entre novilhas com 320kg com CC3 ou CC5. Neste exemplo, a novilha com CC3 tem muito mais chances de parir e se tornar uma boa vaca do que a novilha com CC5. Pois o peso real do desenvolvimento da novilha com CC5 é inferior aos 300kg, e isto deve ser avaliado no momento de colocar estas fêmeas em reprodução.

– Dados de performance: Avaliação de dados de performance da vaca, como peso do terneiro desmamado, intervalo entre partos e manutenção da condição corporal são elementos a serem avaliados no momento da seleção que aceleram o processo do melhoramento genético do rebanho.

– Temperamento: Pesquisas realizadas nos EUA e Austrália comprovam que animais com temperamento agressivo são menos produtivos e estão mais susceptíveis a doenças que animais dóceis. Em propriedades que tem um número de reposição elevado, descartar fêmeas que se mostram agressivas quando manejados em lotes pequenos ou apartadas destes, fêmeas que não entram no brete com facilidade e ficam dando volta na pêra são pontos que com o tempo aumentam a produtividade e facilitam o manejo da propriedade.

Após o Diagnóstico de Gestação: Antes de descartar é oportuno realizar outra avaliação das fêmeas para definir quais vacas continuarão sendo aproveitadas.

Uma categoria importante de ser analisada é a das primíparas.  No RS, os índices de prenhez médios desta categoria estão ao redor dos 30%. Por este motivo, no momento de descartar primíparas que se mantiveram vazias, uma avaliação das condições nutricionais oferecidas no pré e pós parto deve ser realizada para diferenciar vacas com baixa fertilidade ou com falta de condições para emprenhar novamente.

Propriedades que tenham vendido todas as fêmeas vazias e ainda precisem descartar algumas vacas para ajustar a lotação ou porque o gado de cria está com alto valor no mercado, devem optar por descartar as fêmeas que apresentam gestação mais recente. Por serem as últimas vacas a parir, estas fêmeas terão menos tempo para se recuperar do anestro pós – parto, aumentando as probabilidades de se manterem vazias.

A habilidade do criador no momento de descartar as fêmeas é importante para o melhoramento genético do rebanho. A seleção objetiva das fêmeas aliada a seleção fenotípica trará uma aceleração no melhoramento dos seus animais. Diversos programas de controle de desempenho existem atualmente, um deles é o PROSEMEIA, uma parceria da SEMEIA com a ANC, onde com simples pesagem dos terneiros ao desmame e ao sobreano e avaliações visuais o produtor consegue identificar quais as vacas e quais touros estão produzindo bem na propriedade. É importante lembrar que a grande influência genética do rebanho são os touros utilizados nos últimos três anos, fato que comprova a necessidade da utilização de touros provados e comprovadamente melhoradores.

A seleção dos ventres a serem descartados não é uma tarefa fácil, mas é exatamente por este motivo que esta atividade deve fazer parte do planejamento do criador. Cada propriedade deve eleger qual a ordem dos critérios no momento de descartar, bem como qual a porcentagem de ventres a serem descartados.

Felipe Escobar

Méd Veterinário

Departamento Técnico SEMEIA

Fonte: SEMEIA