EUROPEUS QUESTIONAM USO DE BIOCOMBUSTÍVEIS
A exportação de etanol do Brasil à Suécia, país que adotou claramente o uso de etanol em sua política de emissão de gases de efeito estufa, recuou fortemente em 2009 e fez emergir outras discussões que se estendem a todo o bloco europeu. No momento com menor competitividade econômica em relação à gasolina na Europa, os biocombustíveis vêm sendo questionados também em relação à ocupação de terras e, no caso do etanol do Brasil, também no que se refere à ocupação da Amazônia.
As importações do produto brasileiro pela Suécia caíram 55% entre 2008 e 2009. Saíram de 161,2 mil toneladas para 72,2 mil toneladas em volume e de US$ 100 milhões para cerca de US$ 48 milhões em valores. O etanol brasileiro representa 90% do biocombustível usado nos carros suecos. O país tem autorização especial para importar o biocombustível com tarifa menor do que a taxa proibitiva imposta pela União Europeia.
Do lado oficial, a versão é que o preço da gasolina é que está causando a queda na importação. O vice-ministro de Comércio, Gunnar Wieslanders, insiste que boa parte dos suecos toma a decisão de consumo baseada na comparação econômica, e, por isso, neste momento, está recorrendo à gasolina, que está mais competitiva.
O preço do litro desse combustível é de 12,8 coroas (quase US$ 2), enquanto o custo do etanol fica em torno de 10 coroas (menos de US$ 1,5). Ainda assim, a gasolina acaba mais barata hoje porque, para o carro fazer a mesma distância, precisa de mais etanol. O vice-ministro estima que o problema é passageiro. “Na verdade, antes era só uma companhia que importava etanol e agora há outros grupos entrando no jogo”.
No entanto, especialistas apontam aumento das resistências em relação ao biocombustível. A professora brasileira Semida Silveira, do Instituto Real de Estocolmo – universidade altamente especializada em tecnologia – observa uma reação negativa crescente em relação ao etanol, vinculada à destruição da Amazônia. “Eles não conhecem bem a geografia do Brasil e acham que o etanol está acabando com a floresta”, afirma a professora, especialista em questões climáticas. “Além do etanol, agora é a soja que está sendo contestada”.
Peter Roberntz, do WWF, fundo mundial da natureza, admite que a baixa do preço da gasolina de fato afetou o uso de biocombustível, mas concorda que houve uma mudança de visão em relação ao etanol, mesmo o brasileiro, por causa do impacto no uso da terra, entre outros fatores. “Está claro que precisamos de biocombustível, mas não necessariamente de etanol. E o debate vai se aprofundar sobre até que montante podemos consumir, sobre eficiencia de energia, sobre mudança no comportamento do consumidor etc.”
As autoridades suecas estimam que o país precisará ampliar o uso de biocombustível em 40% até 2020. A importação do etanol do Brasil foi acompanhada de um acordo, pelo qual as usinas se comprometem com certificação sustentável do produto.
A oposição ao etanol se repete no resto da Europa. A Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, deve definir o que é considerado “terra degradada” nos critérios de sustentabilidade da produção de etanol. Também precisará ainda definir as regras que provam sustentabilidade.
A briga é enorme. Grupos ambientalistas – ClientEarth, Transport & Environment, European Environmental Bureau, and BirdLife International – abriram processo contra a Comissão Europeia, na Corte Europeia de Justiça, por não ter revelado estudos sobre o impacto de biocombustível no meio-ambiente. Em sua visita ao Brasil a partir do dia 23, o rei da Suécia, Gustaf XVI, deve reiterar a importância da cooperação técnica entre os dois países na área de etanol (Valor, 15/3/10)