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CONSUMIDORES DE AÇÚCAR DOS EUA QUEREM MAIS IMPORTAÇÕES

 diferença entre o que os americanos pagam pelo açúcar e o que o resto do mundo paga atingiu o maior nível em pelo menos dez anos, o que revigora a briga sobre as cotas de importação que inflacionam o preço dos doces nos Estados Unidos.
Os preços americanos são inflados artificialmente há anos por restrições à importação criadas para proteger os produtores rurais do país. Isso manteve o preço bem acima do mercado mundial. Mas a diferença foi às alturas nos últimos dias, dando um novo impulso para que os processadores e fabricantes americanos de doces intensifiquem sua campanha para aumentar as cotas de importação.
O frenesi com a cotação do açúcar e o estoque cada vez menor nos armazéns americanos tendem a se intensificar antes de 1o de abril, quando o Departamento de Agricultura dos EUA, conhecido pela sigla em inglês USDA, pode revisar e modificar as cotas de importação, atualmente em 1,3 milhão de toneladas.
Os principais consumidores de açúcar criticam há muito tempo as cotas, mas ainda não conseguiram convencer o governo a modificar os limites. A cota permanece inalterada desde que foi imposta pela primeira vez, em 1990, salvo por dois aumentos temporários após a passagem do furacão Katrina, em 2005, e a explosão de uma usina importante em 2008.
Embora as chances de a cota aumentar este ano pareçam ser mínimas, espera-se que o USDA possa transferir as cotas de países que as têm mas não exportam mais açúcar e transferi-las para países que podem exportá-lo. Uma mudança como essa, mesmo pequena, será um passo importante para os produtores e consumidores de açúcar, que estão nessa luta há décadas.
A atual cota do açúcar se baseia em estatísticas comerciais dos anos 70. Países como Jamaica e Haiti deixaram há anos de enviar açúcar bruto para os EUA, porque sua produção é consumida internamente. Isso significa que as importações atuais estão perto de 1,2 milhão de toneladas, 180.000 abaixo da cota oficial.
Analistas acham que o USDA deve realocar essas cotas ociosas depois de 1o de abril — uma solução prática para reduzir a tensão entre consumidores e produtores. Se der certo, pode reduzir a diferença de preço, já que mais açúcar sairá do mercado mundial para entrar no dos EUA. Os produtores ainda não se manifestaram contra a transferência das cotas, mas se opõem a um aumento das importações totais.
Segundo a mais recente legislação agrícola americana, aprovada em 2008, o USDA pode reavaliar as condições de oferta e demanda até 1o de abril do mercado e determinar se é necessário importar mais. Um porta-voz do USDA disse que o governo está monitorando o mercado e vai fazer “ajustes durante o ano, caso seja necessário, para garantir uma oferta adequada de açúcar para o mercado doméstico”.
Embora a cotação mundial tenha caído 34% desde 1o de fevereiro, quando atingiu o nível mais alto em 29 anos, os preços caíram bem menos. A cotação nos EUA na semana passada foi a maior em relação à mundial desde 1999 e atingiu 17,32 centavos de dólar por libra (454 gramas), mais que o dobro da média histórica de cerca de 8 centavos, segundo a IntercontinentalExhange Inc., uma bolsa eletrônica especializada em commodities.
Cerca de 85% do açúcar consumido pelos americanos é produzido internamente. O resto é importado de cerca de 40 países, segundo um sistema de alocação de cotas, e do México, que não enfrenta restrições por ter um tratado de livre comércio com os EUA. Quem vende pela cota recebe os preços mais altos do mercado americano, mas também paga altas tarifas se passar do limite.
A Imperial Sugar Co., a segunda maior consumidora americana de açúcar depois da Domino Foods Inc., quer que o governo quase dobre a cota, para 2,2 milhões de toneladas, disse ao Wall Street Journal o diretor sênior da empresa Patrick Hennenberry.
A Aliança de Políticas para o Açúcar, uma associação formada por grandes consumidores como as fabricantes de alimentos General Mills Inc., Kraft Foods e The Hershey Co., enviou uma carta ao Congresso americano no mês passado pedindo aos políticos que pressionem o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, a relaxar as cotas.
“O USDA ainda não reconheceu a seriedade da situação”, escreveu Lawrence Graham, presidente da aliança. A cotação atual é “praticamente inédita, mesmo com esta política protecionista”, disse Graham.
Além da pressão nas empresas alimentícias, o preço do açúcar americano no atacado subiu mais de 50% em fevereiro frente a um ano atrás, segundo a revista setorial “Milling and Baking News”.
Os esforços das grandes marcas para diminuir as cotas são apenas uma tentativa de “elevar os lucros”, segundo Phillip Hayes, porta-voz da Aliança Americana do Açúcar, uma associação de produtores de cana-de-açúcar e beterraba.
A cotação do açúcar bruto nos EUA fechou em 35 centavos a libra, uma diferença de 15,61 centavos em relação à cotação mundial de 19,39 centavos. A esses níveis, se torna mais econômico importar açúcar, mesmo com a tarifa de 15,36 centavos por tonelada, disse Tom Earley, diretor-executivo da Promar International, uma empresa de consultoria sobre agricultura e alimentação.
Há oito meses que o açúcar vive numa montanha-russa. A cotação mundial dobrou e chegou ao nível mais alto dos últimos 29 anos em 1o de fevereiro, porque o mau tempo coibiu a safra no Brasil e na Índia, os dois maiores produtores mundiais.
A cotação mundial caiu nas últimas semanas com a melhora na situação da oferta indiana e brasileira. Mas a americana caiu pouco, principalmente por causa das restrições à importação (The Wall Street Journal, 16/3/10)