AÇÚCAR ACUMULA QUEDA DE 35% POR NOVO CENÁRIO NA ÍNDIA
Quem aproveitou a bonança do açúcar no início do ano se deu muito bem, mas o cenário agora é de queda vertiginosa nos preços. O produto, que chegou a ficar perto dos 30 centavos de dólar no dia 1º de fevereiro – maior alta em 29 anos -, sofreu perdas de 35% desde então. Ontem, na contramão das baixas, o valor do açúcar negociado em Nova York, fechou em alta de 0,70 % para 19,03 centavos de dólar por libra-peso referentes a maio.
É consenso entre os analistas de que a menor demanda da Índia para este ano foi a grande responsável pelas baixas nas últimas semanas. O país asiático sofreu a maior seca dos últimos 80 anos em 2009, o que resultou em um déficit de aproximadamente 12 milhões de toneladas de açúcar.
Diante desse rombo, o Brasil exportou aos indianos mais de quatro milhões de toneladas no ano passado, o equivalente a 16% do total exportado no período.
Entretanto, há estimativas no mercado, segundo informou o gestor de riscos da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa, de que um volume de 150 mil e 200 mil toneladas foi cancelado por parte dos compradores indianos. “Isso representa um prejuízo para as tradings ao redor de 25 milhões de dólares”, explica Corrêa.
Para os analistas, o momento atual se dá pelos cancelamentos e postergações de contratos impulsionados pela percepção de que a safra indiana para 2010 será maior do que o esperado.
Apesar das causas estarem sendo analisadas de maneira homogênea pelos estudiosos do setor, os efeitos que as atuais quedas terão no mercado ainda geram controvérsias. Sérgio Prado, representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) de Ribeirão Preto, está otimista. Para ele, as quedas são apenas fenômenos circunstanciais. “Não estamos preocupados com essas oscilações. O mercado só está se ajustando depois de uma alta significativa. Além disso, não temos nenhum apontamento de que a oferta e a demanda vão mudar de forma brusca”, afirma Prado.
Já para Miguel Biegai, analista da Safras & Mercados, a tendência é de queda nos preços no longo prazo. “As cotações vão continuar caindo. Basta olhar o desempenho dos contratos futuros”, diz Biegai.
De acordo com o analista, o mercado está em busca da sua média, e é provável de que enquanto os preços estiverem acima do custo produção, os valores continuem caindo.
No entanto, para Biegai, se a tendência de queda realmente persistir, os produtores só vão começar a ter prejuízos apenas em 2011, uma vez que os custos de produção ainda estão longe de serem atingidos. Os valores médios para os produtores giram em torno de 12,50 a 14,50 centavos de dólar por libra-peso.
O cenário parece ser mais drástico para o capital especulativo. De acordo com Corrêa, os preços podem vir a se normalizar quando os prejuízos dos fundos serem expurgados. “Eu não acredito que o prejuízo vá chegar aos usineiros, pois a oferta e demanda no Brasil é bastante equilibrada”, diz o analista da Safras & Mercados.
Além de uma melhor projeção para a safra indiana, os analistas também apontam crescimento para a produção de cana-de-açúcar brasileira. Outro fator que contribuiu para afastar os compradores.
A trégua nas altas não desfavorece toda a cadeia que envolve o comércio do açúcar. Pelo contrário, segundo Corrêa, da Archer Consulting, está é a hora para os fabricantes de bebidas, refrigerantes, biscoitos fixarem seus preços de compra.
ESTIMATIVAS
Segundo os analistas, as projeções para as safras de 2010/2011 ainda são pouco palpáveis, já que não é possível prever a quantidade de chuvas, que costumam atrasar a moagem da cana.
Além disso, as incertezas ainda são grandes em relação à real necessidade da Índia para o ano.
Porém, o gestor se arrisca a fazer algumas previsões. Para ele, o Brasil continuará exportando cerca de 24 milhões de toneladas de cana, montante aproximado ao balanço da safra de 2009/2010, que ainda está sendo finalizada.
Enquanto a produção para o mercado interno deve alcançar 640 milhões de toneladas. A previsão representa um crescimento de 9,28%, ante aos 535,30 milhões de toneladas acumulado na safra 2009/2010 até o final de fevereiro (DCI, 19/3/10)