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APESAR DA MECANIZAÇÃO, USINAS CONTRATAM

Máquinas já colhem 50% da cana, mas emprego cresceu 39% de 2003 a 2008.
Ao mesmo tempo que emprega mais máquinas, a indústria canavieira também está empregando mais gente. Mesmo com o aumento da mecanização, que já chegou a 50% das lavouras, o número de trabalhadores rurais vinculados ao setor sucroalcooleiro cresceu 39% no período de 2003 a 2008, segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
A expectativa era de que a mecanização produzisse demissões em massa, já que cada colheitadeira substitui o trabalho de 80 cortadores. Mas isso ainda não ocorreu, segundo a economista Márcia Azanha de Moraes, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), responsável pelo estudo.
As razões para tal contradição, segundo ela, ainda carecem de um estudo mais aprofundado. Mas a suspeita mais óbvia é que o crescimento do setor nesse período foi tão grande que acabou compensando a perda de mão de obra na lavoura.
“Aumentou muito a área plantada, aumentou o número de usinas, e essas usinas precisaram contratar”, avalia o diretor da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), José Rodolfo Penatti. “A expansão mais do que neutralizou o efeito da mecanização”, reforçou o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa. Segundo ele, 115 usinas foram inauguradas nos últimos cinco anos.
A cana é a planta que mais gera empregos na agricultura brasileira: cerca de 1,2 milhão, pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), compilados por Márcia. Em 2008, segundo ela, havia 629 mil pessoas trabalhando com a lavoura de cana – mais do que com café (479 mil) e quase o mesmo que soja, milho, arroz, citros e mandioca, juntos (633 mil).
“É notável a capacidade de geração de emprego dessa cultura”, afirma Márcia. Outras 567 mil pessoas trabalham no ramo industrial da cana, ligados ao refino de açúcar e álcool. Se forem considerados apenas os empregos formais ligados à produção de bioetanol, esse número é de 465 mil trabalhadores – seis vezes mais do que emprega a indústria do petróleo (73 mil), segundo a pesquisadora. “Além de ser bom para o clima e bom para o ambiente, o etanol emprega mais gente e tem mais capilaridade”, avalia Márcia.
Os números foram apresentados por ela na semana passada, em uma reunião do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB), um projeto internacional que discute a sustentabilidade dos biocombustíveis, na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Perspectiva. No longo prazo, porém, permanece a previsão de perda de empregos no setor. A estimativa da Unica é que 75% dos 150 mil cortadores de cana do Estado de São Paulo perderão o emprego na indústria canavieira e terão de ser transferidos para outras atividades. Os outros 25% deverão ser reabsorvidos pelo setor, após um processo de requalificação.
Ao mesmo tempo que uma colheitadeira substitui 80 cortadores, ela cria outros 20 postos de trabalho ligados à sua operação e manutenção, como mecânicos, eletricistas, soldadores e motoristas, aponta Sousa. “Há todo um aparato ligado a essas máquinas que também exige muita mão de obra”, diz.
No Estado de São Paulo, responsável por 60% da produção nacional de cana, o processo de mecanização é acelerado pela imposição de uma moratória gradual à queima de canaviais. Uma lei estadual exige o fim das queimadas até 2021, mas uma parceria voluntária entre o governo e a indústria, firmada em 2007, adiantou o prazo para 2014.
O fogo, visto como prejudicial ao ambiente (pela produção de gases do efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global) e à saúde das pessoas (pela poluição do ar que gera para as comunidades do entorno), é usado para queimar as folhas e facilitar o trabalho dos cortadores. Sem isso, a colheita manual torna-se praticamente inviável. Já as máquinas colhem a cana “crua” mesmo, dispensando o uso do fogo.
Contraste regional. No Estado de São Paulo, cerca de 54% das lavouras já são mecanizadas, segundo as estatísticas da Unica. Em 2007, eram apenas 34%. No Norte-Nordeste, o grau de mecanização é bem menor, mas, ainda assim, as contratações também aumentaram.
Segundo os dados do Pnad compilados por Márcia, o número de empregados nas lavouras de cana na região aumentou 12% entre 2004 e 2008, chegando a 274 mil trabalhadores. Na região Centro-Sul, o aumento foi de 43%, chegando a 355 mil trabalhadores em 2008 (O Estado de S.Paulo, 28/3/10)