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Oferta ampla pressiona cotações de grãos

Estoques elevados nos EUA e perspectivas de plantio no país em 2010/11 tiram sustentação de preços.
Dois relatórios divulgados na quarta-feira pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) amplificaram a pressão sobre as cotações internacionais de milho, trigo e soja, as commodities agrícolas de maior liquidez que têm na bolsa de Chicago sua principal referência global.
Publicados simultaneamente, os trabalhos apontaram estoques americanos em 1º de março em geral mais gordos do que o esperado e projeções para a área plantada no país na safra 2010/11 que, se o clima não atrapalhar, tendem a resultar em ofertas confortáveis também no segundo semestre.
Foi o relatório de estoques o principal responsável pelo tombo de quarta-feira das cotações do trio em Chicago. Para a milho, o USDA apontou reservas em 1º de março nos EUA 10% superiores às do mesmo dia de 2009. No trigo, o aumento foi de 30%, enquanto para a soja houve queda de 2%, menor do que a prevista e para um nível considerado ainda elevado.
“Sobretudo para milho e soja, os estoques apontados surpreenderam e deixaram claro que o USDA subestimou a produção americana na safra passada [2009/10]. Daí o ajuste nos preços”, afirmou Vinícius Ito, analista da Newedge em Nova York.
Em Chicago, os contratos de segunda posição de entrega do milho caíram 9,50 centavos de dólar e fecharam a US$ 3,5650 por bushel. A segunda posição da soja fechou a US$ 9,50 por bushel, baixa de 30,75 centavos, e a do trigo encerrou a sessão a US$ 4,64 por bushel, queda de 21,25 cents.
Ainda que os estoques tenham prevalecido, o relatório do USDA sobre as intenções de plantio também foi considerado “baixista”, mesmo que essas primeiras projeções sejam pouco mais do que uma sinalização e que o levantamento completo de campo só vá ser divulgado em três meses.
Os sinais, já esperados pelos analistas, apontaram crescimento de 3% da área plantada de milho nos EUA em 2010/11 e elevação pouco inferior a 1% na área de soja. Para o trigo, é verdade, a previsão foi “altista”, já que sinalizou redução de 9% no balanço total.
“Essas estimativas serão ‘digeridas’ nos próximos meses, mas tudo ainda pode mudar. E teremos também o tradicional ‘weather market’ até a definição do tamanho das safras”, disse Ito.
Durante o “weather market”, as previsões e efeitos do clima sobre o desenvolvimento das lavouras são acompanhados de perto e motivam especulações antes mesmo da comprovação de benefícios ou prejuízos. O plantio nos EUA ganhará fôlego em maio.
Na América do Sul, o clima beneficiou a safra 2009/10 e a colheita que está sendo comercializada agora tornou-se, pelo lado dos fundamentos de oferta e demanda, um dos principais fatores para a perda de sustentação dos preços no primeiro trimestre.
Tão importante quanto isso foram os ajustes de posições dos grandes fundos de investimentos especulativos nesses mercados, o que conteve um pouco a volatilidade, segurou as cotações e esvaziou os temores sobre uma nova onda de agroinflação global.
Sinal de que as commodities foram deixadas uma pouco de lado foram as altas do Índice Dow Jones, que mede o comportamento das ações de empresas negociadas na bolsa de Nova York. Em março, o termômetro subiu mais de 5%.
Nesse ambiente, março foi “chocho” em Chicago para a commodity que o Brasil mais exporta (soja), para a que o país tenta ampliar os embarques (milho) e para a que mais pesa nas importações (trigo).
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos futuros de segunda posição mostram que, em março, houve uma leve alta de 1,01% para a soja em relação a fevereiro, uma tênue valorização para o milho (0,07%) e uma queda também modesta para o trigo (2,26%).
Em relação às médias de dezembro de 2009, há retrações de preços dos três produtos, e na comparação com março de 2009 só a soja apresenta valorização.
Para o algodão, negociado na bolsa de Nova York, a projeção de aumento de 15% da área plantada nos EUA em 2010/11 foi ignorada pelos traders na sessão de ontem e os preços subiram em função da desvalorização do dólar. Em 12 meses, o salto se aproxima de 90%
Na comparação das médias nova-iorquinas, o açúcar confirmou as expectativas após uma liquidação especulativa e tombou 28,08% em março em relação a fevereiro, o cacau caiu 6,16% e houve altas para café (0,45%) e suco de laranja (4,32%)
 
 (Valor, 1/4/10)