PAÍSES RETOMAM NEGOCIAÇÕES DE CLIMA COM NOVIDADES
Mais de 110 países assinaram o Acordo de Copenhague, o polêmico e vago resultado da conferência do clima de dezembro, e colocaram ali suas intenções de cortar ou limitar o crescimento de suas emissões. Esses países representam 80% das emissões de gases-estufa, mas, mesmo assim, as promessas são insuficientes para garantir que o aquecimento global não ultrapasse os 2° C em 2100.
“Estas promessas representam um inegável passo adiante”, disse Yvo de Boer, o secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, registrando, porém, que não são suficientes. De Boer, que divulgou ontem seu relatório oficial sobre os resultados da conferência do clima de Copenhague, em dezembro, esteve no cargo por quase três anos e já anunciou sua saída em 1º de julho. Ele falou ontem a alguns jornalistas por conference call e disse crer que um acordo forte e vinculante do clima só acontecerá no fim de 2011, durante a conferência da África do Sul.
Neste ano, a edição do México pode acertar os ponteiros e preparar o caminho. “Minha esperança é que em Cancún se decida o que esperávamos que fosse decidido em Copenhague”, disse.
No fim de semana depois da Páscoa, 190 delegados se encontrarão em Bonn, na Alemanha, pela primeira vez depois da frustrante conferência na Dinamarca. O encontro deve produzir apenas uma agenda de novas reuniões preparatórias à reunião de Cancún, em novembro.
Mas há algumas novidades. O Reino Unido, por exemplo, diz que aceita continuar com o Protocolo de Kyoto, assumindo compromissos de cortes de emissão além de 2012, desde que metas do gênero também sejam cumpridas pelos EUA e a China, os dois maiores emissores de gases-estufa.
Durante as negociações do ano passado, a UE queria o fim de Kyoto – uma ideia rejeitada pelo bloco dos países em desenvolvimento e que deu origem a uma das várias crises das negociações internacionais em 2009. O bloco da UE queria um único e novo acordo que reunisse o mundo todo no mesmo barco (e o Reino Unido era um dos protagonistas dessa iniciativa).
Há, também, um pano de fundo complexo no cenário das negociações deste ano. A crise de confiança que atinge o braço científico da ONU, o IPCC, desde a véspera da conferência de Copenhague, tem dado alimento aos céticos e críticos do debate climático. E colocou mais dúvidas e resistência ao tema na população dos EUA. De Boer acusa o golpe, mas diz que, embora o IPCC reconheça alguns erros, a ciência do clima é robusta. “Difícil dizer o quanto esta crise pode afetar as negociações”, respondeu ao Valor. “Não acho que teve um impacto significativo até agora.”
(Valor, 1/4/10)