Petroleira dos EUA deu US$ 50 mi a céticos
Relatório do Greenpeace acusa indústrias Koch, que detêm a marca Lycra, de financiarem ataques à ciência do clima. Companhia teria gasto mais US$ 43,7 mi em lobby direto e campanha política; grupo não nega doações, mas acusa “demonização”
Um relatório divulgado anteontem pela ONG Greenpeace acusa umas das maiores companhias de petróleo dos EUA, a Koch Industries, de canalizar discretamente quase US$ 50 milhões em uma década (metade disso só entre 2005 e 2008) a uma rede de estudiosos e think tanks para “minar a confiança na ciência do clima e promover oposição à energia limpa, nos EUA e internacionalmente”.
Entre os grupos que mais receberam fundos da Koch estão os influentes Instituto Cato (mais de US$ 5 milhões de 1997 a 2008), Heritage Foundation (US$ 3,3 milhões no período), Mercatus Center (US$ 9,2 milhões de 2005 a 2008) e Americanos pela Prosperidade (US$ 5,2 milhões de 2005 a 2008), segundo o Greenpeace.
No total, segundo o texto, a Koch ajudou a pagar operações de mais de 20 organizações que “repetidamente reproduziram e espalharam a história do chamado “climagate” [divulgação de e-mails de climatólogos, revelando tentativa de negar informação a céticos do clima]”. Também financiaram um estudo “suspeito” que nega que ursos polares estão em perigo e um instituto dinamarquês que produziu material usado como crítica à energia eólica.
O relatório indica que o conglomerado, baseado no Kansas, gastou quase três vezes mais do que a petrolífera ExxonMobil entre 2005 e 2008 -US$ 25 milhões contra US$ 9 milhões- no financiamento de grupos antimudança climática. Também empregou US$ 43,7 milhões com lobby direto e campanhas políticas.
“É hora de a Koch Industries abandonar sua campanha suja e de bastidores contra a ação para combater a mudança climática”, disse ontem Kert Davies, diretor de pesquisas do Greenpeace nos EUA.
DEMONIZAÇÃO
O conglomerado não nega os números, mas afirma que o relatório oferece uma representação incorreta de suas atividades e “distorce o histórico ambiental de suas empresas”. “As companhias Koch há muito apoiam a pesquisa e o diálogo científicos sobre a mudança climática e as propostas de resposta [ao fenômeno]. Tanto a sociedade livre quanto o método científico exigem um debate aberto e honesto de todos os lados, não a demonização e o silêncio daqueles com os quais você discorda”, disse a Koch em comunicado à imprensa.
Sem nenhuma empresa operando com o nome, mas dona de marcas como a Lycra e os copos de plástico Dixie, a Koch tem operações em mais de 60 países, que rendem US$ 100 bilhões anuais em vendas. Emprega cerca de 70 mil pessoas -é atualmente o segundo maior grupo privado dos EUA, atrás da Cargill.
No Brasil, o grupo tem quatro subsidiárias em operação: três em São Paulo (Koch Chemical Technology Group, Georgia-Pacific e Invista) e uma no Rio de Janeiro (Koch Exploration, de petróleo e gás natural).
Procurado pela Folha, o presidente do Instituto Cato, Ed Crane, disse em nota que “o Greenpeace parece mais interessado em nossas fontes de financiamento do que na precisão das pesquisas sendo financiadas”. “O “Climagate” fala por essa precisão. Dito isso, 95% de nosso orçamento vem de fontes não relacionadas [aos irmãos] Charles Koch e David Koch [controladores do conglomerado], e nenhuma verba dos Koch jamais foi designada para um projeto específico.”
O Cato tem em seu time o climatologista Pat Michaels, um dos mais célebres céticos, que esteve no Brasil nesta semana
(Folha de S.Paulo, 1/4/10)