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COLHEITA DO AMENDOIM ANIMA PRODUTORES DE JABOTICABAL

19_mhg_viv_amendoim1O clima favorável aumenta produtividade no campo e a expectativa de melhor preço esse ano deixa os produtores animados.
As máquinas estão em plena atividade no campo para finalizar a safra que vai até a primeira quinzena de abril. Luís tem 170 hectares de amendoim plantados na fazenda em Jaboticabal, no norte do estado de São Paulo. E espera colher 890 toneladas
“O tempo tem que ficar bom, se caso chover tem que esperar uns dois, três dias de sol para fazer a colheita”, afirma o produtor Luiz Otávio Rangel.
A área destinada ao plantio de amendoim este ano é 20% menor em comparação com a safra anterior. Isso aconteceu por dois motivos: os preços baixos desestimularam os produtores, além disso, o excesso de chuva no ano passado atrasou a colheita da cana o que acabou reduzindo a oferta de terras destinadas ao plantio do grão.
Fábio arrenda terras para o cultivo do amendoim, que é feito em área de rotação de cultura com a cana de açúcar. Este ano, a área plantada do grão foi de 180 hectares. Cinqüenta por cento menor que no ano passado.
“Muita quantidade de chuva houve um atraso na retirada de cana por conta das maioria das usinas e isso houve uma menor disponibilidade de terras para a produção e plantio do amendoim e soja”, diz o produtor Fábio Trevisoli.
Segundo estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), por causa da redução de área, esta safra terá 60 mil toneladas a menos em comparação com a safra passada. E com menor oferta, os produtores esperam preços melhores. No ano passado a saca de 25 kg foi comercializada em média a R$ 14 reais. Para este ano, a expectativa é de ficar entre 18 e 20 reais.
“Existe uma estimativa de produção menor em relação ao ano passado e a gente está esperando que melhore os preços este ano”, afirma o gerente de grãos da cooperativa Dejair Minotti.
Mas o aumento do preço do amendoim não é o único motivo de otimismo no campo. A produtividade por hectare também cresceu. “A gente começou o plantio em setembro e outubro, e isso, por conta do ciclo da planta favoreceu uma produtividade maior. As aplicações também de tratamento sanitário foram feitas nos períodos corretos, a chuva não interferiu, isso então acarretou uma produtividade maior do que o ano retrasado”, diz o engenheiro agrônomo Eduardo Lavecchia Pacifico.
Esta cooperativa em Jaboticabal vai receber até o final da safra, 42 mil toneladas, o que representa 17,5 % de todo o amendoim produzido no país. O armazém de 21 mil metros quadrados é o maior do mundo para armazenagem do grão com condições ideias de temperatura e umidade, que garantem a qualidade por mais de um ano.
Neste armazém é impossível ter goteira, porque não existe parafuso no telhado, existe um sistema de drenagem que não permite que o solo umedeça e umedeça o amendoim, existe um rigoroso controle de pragas e roedores. Então isso faz com que o amendoim possa ficar aqui por dois anos mantendo as suas qualidades.
Toni Ângelo plantou 130 hectares de amendoim. A mesma área usada no ano passado. Ele calcula um aumento de 25% na produtividade este ano e já faz planos. “Quando você sai de uma safra boa que esta sendo este ano você já fica animado pra fazer investimentos, aumentar a área, comprar máquinas, mas vamos ver no decorrer do ano, no final da safra na hora que abrir os preços como é que vai ser”, afirma o produtor Toni Angelo Chinelatto (EPTV, 2/4/10)
A briga que o País evitou e da qual já não pode sair
Marcada por disputas políticas dentro do governo, a briga de 8 anos com os EUA pelos subsídios do algodão chega ao desfecho.
Era outubro de 2002, e a equipe de Fernando Henrique Cardoso se preparava para deixar o poder. Após uma análise minuciosa do caso, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, estava convencido de que os Estados Unidos subsidiavam ilegalmente os produtores de algodão, relata seu assessor na época, Eduardo Leão.
“Nós que fizemos. Vamos dar entrada no processo. Não vamos deixar para o próximo governo”, disse Malan, em uma das últimas reuniões da Câmara de Comércio Exterior do governo FHC. Dessa maneira, ele resolveu uma queda de braço entre Itamaraty e ministério da Agricultura que ameaçava acabar com o painel do algodão em seu nascedouro.
A decisão de Malan selou o destino de uma das mais emblemáticas disputas da Organização Mundial de Comércio (OMC). Hoje, quase oito anos depois, o painel do algodão pedido pelo Brasil contra os EUA na OMC parece chegar ao final.
Na próxima quarta-feira, o governo brasileiro deve iniciar a retaliação contra os americanos se os dois países não chegarem a um acordo. Não foi uma briga fácil. O processo foi marcado por intensas disputas políticas.
Em nota técnica de junho de 2002, o Itamaraty alertava que seria “extremamente complexo estabelecer a ligação entre os subsídios americanos e os prejuízos ao Brasil”. Os diplomatas estavam preocupados com as consequências políticas. “Trata-se de um contencioso que questionará o cerne da política agrícola americana”, dizia o documento. O Itamaraty apontava, ainda, temores de contrarretaliação.
“Houve uma forte objeção do Itamaraty. Eles tinham medo de perder. Diziam que ficaria feio para o Brasil”, disse Marcus Vinícius Pratini de Moraes, que era ministro da Agricultura. Celso Lafer, que ocupava a pasta das Relações Exteriores, nega resistências. “Era a hora de abrir o processo, mas eu sabia que ia ser complicado, como de fato foi.”
Bom de briga. Quando o assunto chegou à Camex, o Ministério da Agricultura avaliava três produtos para contestar os subsídios dos países ricos: soja, açúcar e algodão. Pratini convidou Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, para ser secretário de Política Agrícola. “Chamei o Pedro porque ele era bom de briga.”
Ao assumir o cargo, Camargo Neto pediu aos técnicos que “varressem” os subsídios dos EUA e da União Europeia. Para os europeus, o produto seria o açúcar. Para os EUA, surgiu a ideia da soja, mas foi perdendo força porque a produção brasileira crescia exponencialmente.
Foi quando um funcionário de carreira do ministério, Lino Colsera, sugeriu o algodão. “Os EUA dominavam o mercado internacional. Tudo que faziam afetava os preços”, explica Colsera. De 1998 a 2002, o governo americano pagou entre US$ 1,9 bilhão e US$ 3,9 bilhão, por ano, aos produtores de algodão.
Os valores estavam acima do teto de US$ 1,4 bilhão estabelecido na Rodada Uruguai. Logo, os americanos não estavam mais protegidos pela “Cláusula da Paz” – um dos parágrafos do acordo que permitia subsídios desde que respeitassem limites.
Além disso, o assunto tinha potencial para se tornar um tormento político. Os subsídios iam para grandes produtores – o pagamento per capita chegava a US$ 5 milhões por ano. Enquanto isso, países pobres do Oeste da África sofriam com a distorção dos preços.
O dano para o Brasil era simples de provar. O País já tinha sido um grande produtor de algodão, mas a cultura foi devastada pelas pragas. Em 2002, com a migração para o Mato Grosso, a produção de algodão brasileira renascia. Esse esforço estava em risco com o subsídio americano.
Bandeira política. Os painéis do algodão e do açúcar, no entanto, não nasceram de reclamações dos produtores agrícolas. Disputas do comércio internacional costumam surgir quando grupos privados se sentem prejudicados e pedem ajuda aos governos. Mas, nesses casos, os empresários foram chamados a enfrentar americanos e europeus.
“Era para ser uma bandeira política mesmo. Pretendíamos ter um caso contra o Japão também, mas não deu tempo”, confessa Camargo Neto. O objetivo do Brasil era liderar o descontentamento que surgia entre os países em desenvolvimento.
Um conflito como esse tem raízes profundas. A China ainda não tinha despertado seu apetite por commodities e os preços dos produtos agrícolas despencaram na década de 90.Os EUA reagiram despejando subsídios e deprimindo mais as cotações.
A atitude americana irritou agricultores ao redor do mundo. Somado a isso, a Rodada Uruguai tinha sido uma frustração. Nos corredores da OMC, em Genebra, já se falava em agrupar os países pobres contra os subsídios do mundo rico.
A agricultura brasileira começava o salto tecnológico que permitiu ao País se tornar um dos maiores produtores do mundo. E surgia uma burguesia no campo, da qual Camargo Neto fazia parte, atenta a questões complexas como os subsídios.
Jorge Maeda presidia a Associação Brasileira de Produtores de Algodão. Filho de imigrantes japoneses, Maeda cultiva hoje mais de 100 mil hectares de terra. Ele conta que recebeu um telefonema de Camargo Neto.
“O Pedro me disse: “Maeda, tem uma oportunidade aqui de abrir um processo na OMC contra os EUA. Vocês querem encapar isso?” Respondi: OMC é complicado… Ele falou: “não vai custar mais de US$ 200 mil”. Você tem 24 horas para responder.”
Maeda reuniu os principais produtores agrícolas do País e explicou o problema: o Tesouro americano subsidiava, aumentava a produção e os preços caíam. “Disse a eles que, quanto mais desgraça, mais os americanos ganhavam dinheiro”, disse.
Os agricultores concordaram em apoiar a briga, mas não imaginavam que a conta chegaria a quase US$ 3 milhões. Com recurso do setor privado e consenso no governo, Camargo Neto foi a Genebra protocolar o painel do algodão, em que o Brasil desafiava os Estados Unidos.
CRONOLOGIA
Uma longa e cara disputa
Outubro de 2002
Primeira ação
O governo brasileiro decidi contestar os subsídios concedidos pelos EUA
Março de 2003
Início do processo
A OMC inicia o processo contra os EUA a pedido do Brasil
Setembro de 2004
Primeira vitória
A OMC divulga seu relatório final e dá vitória ao Brasil, condenando os subsídios dos EUA aos produtores. Os EUA apelam da decisão
Março de 2005
Segunda vitória
O órgão de apelação da OMC mantém a vitória do Brasil. Mas os EUA não se mexem
Agosto de 2006
Reforma nos EUA
EUA reformam seus subsídios. Brasil pede a OMC para checar se painel foi cumprido
Setembro de 2006 a junho de 2008
Na malha da burocracia
Mais de dois anos são gastos em procedimentos burocráticos e apelações dos EUA.
Agosto de 2008
País cobra definições
Brasil retoma o processo do algodão e pede a OMC para definir valor e retaliação
Agosto de 2009
Sai a punição aos EUA
OMC define retaliação de US$ 830 milhões ( US$ 530 milhões em bens). Aprovada também a “retaliação cruzada” com quebra de patentes
Março de 2010
A lista da retaliação
Lista definitiva da retaliação é divulgada. Número de bens afetados cai para 102. País inicia consulta pública sobre “retaliação cruzada”
Maio de 2010
O Dia D
Se não houver acordo, retaliação vai entrar em vigor no dia 7 de maio, uma quarta-feira (O Estado de S.Paulo, 4/4/10)