EUA VOLTAM A ATACAR ETANOL BRASILEIRO
Os produtores de etanol dos Estados Unidos, que usam o milho como matéria-prima, lançaram nova ofensiva para tentar barrar a entrada do etanol brasileiro, de cana-de-açúcar. Na semana passada, dois deputados da bancada ruralista, em Washington, apresentaram um projeto de lei para tentar prorrogar por mais cinco anos os subsídios aos plantadores de milho e as tarifas à importação de etanol.
A Associação da Indústria de Cana de Açúcar do Brasil (Unica) considera que essa é a principal batalha do ano para os produtores brasileiros de etanol.
Recentemente, os usineiros brasileiros conseguiram grande vitória nos EUA, com o reconhecimento, pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), de que o etanol produzido a partir da cana é um biocombustível avançado, que reduz em ao menos 40% a emissão de dióxido de carbono em relação à gasolina. A decisão da EPA abre as portas para o mercado americano – desde que o lobby dos produtores do etanol de milho não consiga manter ou elevar as barreiras hoje vigentes.
SUBSÍDIOS
A atual legislação prevê dois tipos de benefícios aos produtores americanos. Um deles é o subsídio: para cada galão de gasolina com etanol, os produtores americanos de etanol ganham um crédito de US$ 0,45 para ser abatido em impostos. Outro benefício é a tarifa de importação, que impõe taxa de US$ 0, 54 por galão sobre o etanol brasileiro. Essa lei vigora até o fim do ano.
A ação bipartidária anunciada na semana passada pelos deputados democrata Earl Pomeroy e republicano John Shimikus visa a defender essa proteção aos produtores de milho americanos. Um projeto de lei similar e coordenado com a da Câmara deve ser apresentado no Senado nas próximas semanas.
Segundo os dois parlamentares, caso a atual legislação expire, 112 mil empregos podem ser perdidos e a produção de etanol será reduzida em 38%. “Em um momento em que a economia americana enfrenta problemas, não podemos permitir que esses incentivos fiscais expirem, minando o crescimento que temos visto na nossa indústria de etanol”, disse Pomeroy. “A prorrogação dos créditos fiscais ajuda a indústria a contribuir com a segurança da nossa nação”, acrescentou Shimkus.
A proposta foi imediatamente contestada por produtores do Brasil e pela indústria alimentícia dos EUA, que acaba pagando mais pelo milho que não é destinado ao etanol.
REAÇÃO
Joel Velasco, representante da Unica em Washington, divulgou comunicado afirmando que “os americanos não se beneficiarão dessa alternativa mais limpa e econômica se o Congresso continuar erguendo barreiras comerciais contra o etanol importado”. “É irônico que o Congresso permita que o petróleo de nações hostis aos EUA entrem no país sem pagar tarifa, enquanto punem a energia limpa do Brasil, um antigo aliado democrático.”
A American Meat Institute, que representa os produtores americanos de carne, também se manifestou. “Infelizmente, essa lei continua a apoiar e a proteger de forma desonesta o etanol do milho nos últimos 30 anos à custa do contribuinte americano e do gado e das aves que dependem do milho para alimentação”, disse, em comunicado, o presidente da associação, Patrick Boyle. “Chegou a hora de a indústria do etanol parar de usar o dinheiro dos impostos americanos e a passar a competir por conta própria no livre mercado.”
A Unica tem agido no Congresso americano para defender a posição dos produtores brasileiros. O argumento principal é o de que os incentivos fiscais custam US$ 6 bilhões aos cofres americanos por ano.
A tarefa será difícil, já que este é um ano eleitoral e produtores de milho influenciam os votos para deputados em muitos Estados. O presidente Barack Obama também sabe que sua virada na disputa presidencial ocorreu graças à sua vitória nas primárias em Iowa, um dos principais Estados produtores de milho.
Os produtores de milho usam até o relatório da EPA para seu lobby. Como a EPA avaliou que o etanol de cana é menos poluente que o de milho, os produtores americanos dizem que esse é mais um motivo para o governo os defender (O Estado de S.Paulo, 3/4/10
China resiste à proposta brasileira sobre etanol
Brasil apresentou oficialmente, em Pequim, sugestão para a realização conjunta de projetos para a produção de etanol em países africanos ou asiáticos.
O Brasil propôs oficialmente à China a realização de projetos conjuntos para a produção de etanol em países africanos ou asiáticos, mas é pouco provável que Pequim aceite a cooperação nessa área.
Com uma população de 1,3 bilhão de pessoas, a China tem a segurança alimentar no topo de suas preocupações e teme que a plantação de cana de açúcar reduza a área agricultável disponível para outras culturas.
A fabricação de etanol em terceiros países faz parte do esforço brasileiro para ampliar o uso internacional do produto e transformá-lo em uma commodity.
O tema foi apresentado às autoridades chinesas pelo vice-ministro para Energia e Alta Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador André Amado, que fez críticas à Petrobrás durante entrevista coletiva na última quarta-feira, em Pequim, da qual participaram jornalistas brasileiros e estrangeiros.
Projetos conjuntos. Segundo Amado, o Brasil já tem acordo com os Estados Unidos para a produção de etanol em sete países da América Central e Caribe e dois da África. Também há projetos conjuntos com a União Europeia e o Japão, afirmou.
Os empreendimentos ainda estão em fase preliminar e devem demandar pelo menos dois anos para começarem a dar frutos.
O embaixador fez visita de sete dias à China, durante a qual foi acompanhado da maior delegação brasileira dos setores de ciência e tecnologia e energia que já esteve no país.
A passagem do grupo por Pequim coincidiu com a presença na cidade de executivos da Petrobrás, que negociam parcerias com a Sinopec e um novo empréstimo do Banco de Desenvolvimento da China (BDC).
“A Petrobrás não me convidou para os encontros deles. Quando as coisas não estão bem, eles vêm até nós e reclamam. Como não reclamaram, imagino que as conversas foram boas”, alfinetou Amado durante a entrevista coletiva.
O embaixador se queixou do fato de não ter sido informado do teor das discussões realizadas pela Petrobrás, embora a estatal não tenha nenhuma relação de subordinação ao Ministério das Relações Exteriores.
PARA LEMBRAR
Acordos na mesma linha já estão fechados
O Brasil já fechou acordos com os Estados Unidos, com a União Europeia e com o Japão para produzir etanol em países da América Central, do Caribe e da África (O Estado de S.Paulo, 3/4/10)
Missão brasileira discute etanol e energia solar na China
Novas tecnologias para produção de etanol e geração de energia solar foram exploradas durante visita da delegação brasileira em Pequim (China), encerrada nesta quinta-feira (1º). Integraram a equipe representantes dos ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Relações Exteriores (MRE), Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Minas e Energia (MME), Casa Civil e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
A delegação trocou informações com representantes da COFCO Corporation, estatal chinesa responsável pelo desenvolvimento agrícola do País. Além da produção de alimentos, a empresa investe em novas tecnologias do etanol de mandioca e pesquisas com hidrólise celulósica. “A China tem condições de solo e clima limitadas para a produção de cana-de-açúcar, por isso, outras matérias-primas vêm sendo pesquisadas, como a mandioca e o sorgo doce”, informa o assessor do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Mapa, José Nilton de Souza Vieira, que representou o Mapa.
O grupo participou de seminário sobre energias renováveis na Universidade de Tsinghua, em Beijing. A possibilidade de cooperação na área de energia solar, eólica e biocombustíveis foi amplamente discutida. Vieira destaca que a universidade é responsável pela tecnologia de 80% dos painéis de energia solar instalados na China. Além disso, o País fonece 70% dessas placas ao mercado mundial.
Os chineses também demonstraram interesse no projeto de cooperação Brasil-África em bioenergia, que transfere a tecnologia e o know-how brasileiro para países africanos em desenvolvimento. “Com acesso à tecnologia, muitos países poderão harmonizar produção de biocombustíveis com alimentos, já que o crescimento econômico é condição fundamental para acesso a tecnologias sustentáveis”, finaliza (MAPA, 1/4/10)
Meta da UE para biocombustíveis está no limiar da sustentabilidade
As metas da União Europeia (UE) no uso de biocombustíveis apontam para uma percentagem de 5,6 por cento do total do combustível usado para transportes, em 2020.
Tendo por base este objectivo, um relatório, redigido pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês) e divulgado na última semana, conclui que ir além desse valor pode trazer um «verdadeiro risco» para o ambiente.
A Directiva para as Energias Renováveis da UE estipula que, até 2020, 10 por cento dos combustíveis no sector dos transportes tenham origem renovável, assumindo que, dessa fatia, apenas 5,6 por cento correspondam a biocombustíveis de primeira geração.
De acordo com a indústria, estes valores não trazem problemas de desflorestação, já que o biocombustível apenas é responsável por cerca de 4,5 por cento das importações totais de óleo de palma (dados de 2008).
No entanto, estas metas não são pacíficas para os ambientalistas. «A estratégia da UE para os biocombustíveis parece cada vez mais insustentável», defende Adrian Bebb, da associação Friends of the Earth Europe, citado pelo EurActiv. A associação acredita que um uso superior a 4,6 por cento para os biocombustíveis provoca um aumento das emissões de gases de efeito de estufa (GEE).
A Comissão Europeia deverá apresentar, no final deste ano, um relatório sobre o impacte indirecto do uso do solo para produção de biocombustíveis (Ambiente Online, 1/4/10)