CUBA DEVE ABRIR PARTE DE SEU SETOR DE AÇÚCAR
Atrás de investimento, governo pretende criar estatal mista nos moldes das que exploram níquel e petróleo.
Cuba já foi sinônimo de açúcar. Nos anos 60 e 70, o então ditador Fidel Castro fazia campanhas para o aumento da produção em prol da revolução. Mas a situação mudou e a ilha caribenha está agora buscando investimentos para reviver o setor.
O Ministério do Açúcar de Cuba será fechado nos próximos meses e substituído por uma corporação estatal, na mais importante reorganização da outrora próspera indústria açucareira do país, desde que ela encolheu drasticamente de tamanho na última década. Segundo fontes do setor, os planos de criação da nova corporação açucareira e revitalização do setor permitirão, entre outras coisas, os investimentos estrangeiros e o fechamento de usinas de açúcar ineficientes. Esses planos devem ser aprovados em breve pelo presidente Raúl Castro. Essas fontes conhecem bem o setor e pediram para não ser identificadas.
O fim iminente do ministério parece ser o último capítulo do declínio dramático da indústria açucareira de Cuba, onde o açúcar já reinou, mas hoje responde por menos de 5% da receita cambial.
A mais nova iniciativa é parecida a outras reformas agrícolas feitas por Castro, que substituiu o irmão mais velho, Fidel, em 2008, e está tentando aumentar a produção de alimentos afrouxando o controle do governo comunista sobre a agricultura.
A queda de Cuba da posição de maior exportador de açúcar do mundo, cuja produção já atingiu 8 milhões de toneladas de açúcar cristalizado anuais, começou com o colapso da União Soviética em 1991. Desde então, o setor declinou incessantemente e a produção da atual safra deverá ficar em apenas 1,2 milhão de toneladas.
Mas, com a reorganização que se aproxima, “no médio prazo eles esperam aumentar a produção para 2,8 milhões de toneladas usando um número menor de usinas”, disse uma fonte cubana com grande conhecimento do setor açucareiro. “O rendimento por hectare está atualmente em cerca de 3 toneladas e o objetivo é elevar isso para pelo menos 6 toneladas”, acrescentou a fonte. O padrão internacional é de 8 toneladas por hectare.
Cuba consome atualmente um mínimo de 700 mil toneladas de açúcar por ano.
Corporações parecidas com a que está sendo planejada para cuidar da produção açucareira já operam com sócios estrangeiros na produção de níquel (Cubaniquel), e petróleo e gás (Cubapetroleo), sob o Ministério da Indústria de Base.
Ainda não está claro se a nova companhia do setor açucareiro ficará subordinada ao Ministério da Agricultura ou a alguma outra autoridade governamental.
“A nova estrutura dará àqueles responsáveis pela tomada de decisões no setor mais autonomia e permitirá a eles manter um porcentual das receitas para reinvestimentos”, informou um economista cubano, pedindo, assim como as demais fontes, para não ter seu nome revelado.
Os Estados Unidos, antes da revolução cubana de 1959, e a União Soviética, posteriormente, pagaram preços inflados pelo açúcar cubano para estimular a economia da ilha, de modo que o colapso do bloco soviético atingiu duramente Cuba e sua indústria açucareira.
Hoje, as exportações de serviços técnicos são as maiores geradoras de receitas cambiais para Cuba, seguidas de outros serviços como aviação, turismo e comunicações, níquel, produtos refinados de petróleo, produtos farmacêuticos, charutos e só depois o açúcar.
Em 2002, num encolhimento dramático daquele que já foi o principal setor da ilha, Cuba fechou e desmanchou 71 de suas 156 usinas de açúcar – todas as 71 construídas antes da revolução. Em seguida, transferiu 60% das terras usadas no cultivo da cana para outros usos.
Mais de 200 mil dos 400 mil trabalhadores do setor foram transferidos para outros empregos e muitas cidades rurais que dependiam do açúcar ficaram estagnadas, com suas fábricas fechadas marcando o horizonte. Mais usinas fecharam desde então e, na atual safra, apenas 44 estão operando. Outras 20 vêm sendo mantidas em condições de funcionamento para uso futuro.
Apenas 700 mil hectares de um total de mais de 2 milhões de hectares antes controlados pelo Ministério do Açúcar de Cuba são hoje dedicados ao plantio da cana.
Sob Raúl Castro, antigas plantações de cana já foram transferidas para o Ministério da Agricultura e um grande sistema ferroviário para o transporte da cana das plantações para as usinas, e das usinas para os portos, foi transferido para o Ministério dos Transportes (Valor, 8/4/10)