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Bertin forma grupo para disputar Belo Monte

Odebrecht e Camargo Corrêa ficam fora de leilão; Andrade Gutierrez, Vale e Votorantim pressionam.
No mesmo dia em que as duas maiores construtoras do país, a Camargo Corrêa e a Odebrecht anunciaram que estão fora do leilão de Belo Monte, um outro grupo, formando um verdadeiro mutirão, se inscreveu para participar da disputa. A Bertin, junto com as construtoras Queiroz Galvão, OAS, Mendes Júnior e Serveng, e ainda com o apoio de um grupo chinês, se cadastrou na Eletrobras para ter a estatal como sócia.
São pelo menos dois, portanto, os consórcios ainda interessados no leilão, já que o grupo da Andrade Gutierrez, Vale, Votorantim e Neoenergia também está cadastrado para ser sócio da Eletrobras. Algumas fontes do governo dizem que a Suez não se cadastrou, mas a empresa não quis informar a decisão que tomou.
A pressão sobre o governo, para que ceda em alguns benefícios que melhorem as condições do leilão, só aumentou depois da saída das duas construtoras. Duas fontes importantes de diferentes empresas que compõem o grupo que tem a Vale, Votorantim e Neoenergia como sócios, dizem que o governo vai perder a queda de braço se continuar insistindo em não alterar as condições. Até mesmo a Previ, acionista da Vale e Neoenergia, está preocupada com os cálculos do retorno sobre o investimento que as condições do leilão impõem, segundo uma fonte próxima ao fundo.
Na quarta-feira à noite, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou os esclarecimentos sobre o edital e afirmou que o preço-teto do leilão, de R$ 83 por MWh, não será corrigido pela inflação desde dezembro de 2008, como desejam as empresas. Se atendesse o pedido, o preço poderia ficar em R$ 89 por MWh.
A Aneel também informou que não há nenhuma previsão do chamado “alívio de exposição de diferenças de submercados”, que também era reivindicado. “Isso beneficia quem será sócio do empreendimento e pretende montar uma fábrica ao lado da usina”, diz uma fonte das construtoras desistentes. O alívio de exposição era pedido em função do fato de que a energia será produzida no Norte do país, mas a maior parte dos grandes consumidores está no Sul e Sudeste. Há uma diferença de preços entre as regiões, risco que é assumido pelos consumidores.
Ontem foi a cartada final das duas empreiteiras Odebrecht e Camargo para pressionar o governo. Durante o jogo nessa disputa por Belo Monte, as empresas já tinham tentado forçar alterações. Há cerca de um mês, às vésperas de a Aneel aprovar o edital do leilão, o presidente de uma das construtoras ligou pessoalmente ao presidente de uma das empresas que compõem o consórcio liderado pela Andrade Gutierrez para dizer que a empresa estava fora da disputa e oferecendo os serviços de construtora. O recado era para o governo e as construtoras sabiam que ele chegaria ao destino, pois a Previ é uma das donas de duas empresas que estão no consórcio.
Aquela cartada, porém, não rendeu o efeito esperado. O edital não foi alterado em uma vírgula. Ontem veio nova rodada do jogo e a principal carta foi usada. Apesar de anunciarem a saída por entenderem que não existem condições econômico-financeiras para participar da disputa, as empresas deixaram em aberto a possibilidade de voltar ao páreo. O último parágrafo do comunicado oficial que fizeram ontem diz: “A Camargo Corrêa e a Odebrecht reafirmam o compromisso de contribuir com o sucesso do empreendimento, dado que nos últimos anos participaram ativamente dos estudos para o desenvolvimento da Usina Hidrelétrica Belo Monte.”
A volta poderia se dar caso o governo altere alguma condição, seja revendo a questão da exposição de submercados ou ainda concedendo benefícios fiscais e enquadrando o empreendimento nas regras da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Ainda se espera também as condições de financiamento do BNDES.
Para a Camargo foram dez anos de estudo, sob a liderança de um ex-funcionário que hoje é nada mais nada menos do que o presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz. Nessa disputa, o governo conta com o fato de que as construtoras não vão querer ficar fora da obra que vai erguer a terceira maior hidrelétrica do mundo.
De qualquer forma, mesmo que voltem, terão de enfrentar a concorrência de quatro construtoras que estão associadas à Bertin. O grupo Bertin está bem capitalizado desde que “vendeu” sua divisão de carnes, lácteos e couro – a maior empresa da holding – para grupo de frigoríficos JBS, gigante mundial das carnes. No setor de energia, é sócio da Equipav na Cibe Participações, que vai construir uma série de usinas termelétricas, cuja energia foi vendida nos últimos leilões do governo federal.
Ao todo, são cerca de 5.500 MW de capacidade que terá a Bertin após a construção dessas termelétricas. Em tamanho, se suas usinas já tivessem operando, só perderia para a Tractebel, do grupo Suez, o título de maior empresa privado de geração de energia (Valor, 8/4/10)