Uncategorized

Desequilíbrio da oferta desafia governo

Mesmo com a anunciada supersafra de grãos, fibras e cereais, o Brasil deve enfrentar alguns problemas com a redução na oferta de alimentos básicos, como trigo e arroz. E a avalanche de soja e milho deve forçar o governo a abrir os cofres para sustentar os preços pagos aos produtores, prejudicados pela péssima logística e a pressão baixista sobre os preços internacionais.
Prejudicadas pelas fortes chuvas deste ano, ao contrário de soja e milho, as lavouras de arroz terão a segunda menor safra desde 2003, o que resultará nos menores estoques finais dos últimos sete anos. Será necessário importar ao menos 1,2 milhão de toneladas de arroz argentino ou uruguaio – ou 300 mil toneladas acima do ciclo anterior.
O diretor de Política Agrícola da Conab, Sílvio Porto, minimiza o problema. “O arroz sofreu aquelas duas cheias, mas a quebra não foi tão expressiva assim. O governo tem estoque regulador, será importado do Mercosul e temos tranquilidade em relação ao suprimento para este ano”. Mas o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, admite a preocupação: “Vamos marcar uma reunião com os arrozeiros. O governo tem atenção total com produtores vítimas de circunstâncias especiais”, afirmou.
No caso do trigo, os estoques devem ser os mais baixos dos últimos sete anos. O consumo deve ter ligeira elevação e a importação pode chegar a 5,2 milhões de toneladas. O governo negocia com a Rússia a compra de trigo sem tarifas adicionais, já que a Argentina tem situação instável na questão das exportações. Estados Unidos e Canadá pagam sobretaxa para entrar no Mercosul. “Tínhamos uma expectativa de fazer uma intervenção no trigo, mas nesse momento já vai se consolidando a safra”, reconheceu Silvio Porto.
Nesse cenário, certeza mesmo é que o Tesouro Nacional terá que gastar mais para sustentar preços ao produtor. A Conab tem R$ 5,1 bilhões de orçamento para os principais instrumentos da política agrícola. Mas os produtores estão aflitos com a demora na resolução de uma disputa interna no governo. O Ministério da Fazenda e a Agricultura divergem sobre os termos de uma nova portaria de equalização dos preços mínimos.
E debatem uma eventual redução do preço mínimo do milho, justamente para evitar a supersafra de inverno. “A safra que se avizinha vai ser realmente muito grande. Mas haverá um empenho para mantermos a política de garantia”, prometeu Rossi. Sobre a demora na portaria, manifestou-se o secretário de Política Agrícola, Edílson Guimarães: “Tem alguns itens que a Fazenda está insistindo em colocar na portaria que já estão em outros normativos, como aviso, regulamento, edital. Estamos acertando isso”.
Mas a questão de infraestrutura e logística deve continuar a angustiar nesta safra. A falta de armazéns será um dos principais gargalos no setor. “A grande prioridade para o futuro tem que ser o armazém na fazenda porque transforma o produtor num ´player´ muito mais forte no mercado. A falta de armazéns na fazenda obriga o produtor seja obrigado a vender tão logo colha, e isso, o deixa à mercê do mercado”, analisou Wagner Rossi. “Mas entre o desafio de enfrentar a escassez ou uma supersafra, eu prefiro a fartura”. Rossi disse, ainda, que a segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deve ajudar o setor. Mas só no longo prazo (Valor, 8/4/10)