13/04 – Indústria cresce acima das previsões no 1º tri
Com mercado interno aquecido, empresas abrem vagas e investem no aumento da produção.
A produção da indústria cresceu mais do que o esperado no primeiro trimestre do ano e as empresas estão confiantes que a recuperação veio para ficar. O resultado positivo reafirma a intenção das companhias em aumentar a capacidade produtiva ainda em 2010, com a contratação de funcionários e investimento em máquinas. A força do mercado interno, com o crescimento do emprego e da renda, é que tem sustentado a alta das encomendas. Nem o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a partir de janeiro, abalou as vendas.
No setor de eletroeletrônicos, levantamento feito Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) indica que 82% das empresas associadas aumentaram as vendas em março deste ano em relação a igual período do ano passado. O número de empregados alcançou o nível pré-crise, com 165,2 mil postos de trabalho, e a expectativa é de continuidade das contratações.
“O primeiro trimestre foi muito positivo”, diz Humberto Barbato, presidente da Abinee. A entidade não tem dados de faturamento no trimestre, mas a expectativa é que as vendas no ano cheguem a R$ 125 bilhões, número 11% superior a 2009. Segundo sondagem da Abinee, a maioria das companhias (66%) diz estar com estoques segundo os níveis projetados, sem risco de falta de produtos.
O economista e professor da Unicamp Julio Gomes de Almeida diz que a confiança no bom desempenho da indústria este ano está ancorada no equilíbrio entre aumento do emprego, do investimento e do crédito. “A roda da economia está girando”, diz ele. Os últimos dados do emprego na indústria, do IBGE, divulgados sexta-feria, mostram que o número de horas pagas cresceu 1,5% em fevereiro sobre janeiro, um indicativo de contratações. “Antes de contratar, as empresas usam as horas extras”, diz Almeida.
O fim da redução do IPI para eletrodomésticos não teve impacto negativo nas vendas do setor. Mesmo sem o incentivo fiscal, as encomendas do varejo cresceram cerca de 20% no primeiro trimestre sobre o mesmo período do ano passado, segundo previsão da Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros). Na linha branca, por exemplo, houve aumento de 25%.
Segundo o presidente da Eletros, Lourival Kiçula, a expectativa é que o crescimento sobre o ano passado se mantenha no próximo trimestre, mas num percentual um pouco menor que o do primeiro, cerca de 15%. Essa redução do ritmo tem a ver com uma base mais forte de comparação, já que a redução do IPI aconteceu em abril de 2009. “As vendas tiveram recuperação a partir de abril do ano passado com a redução do imposto, então um crescimento menor no segundo trimestre sobre 2009 não será um resultado ruim”, diz ele.
Almeida, da Unicamp, lembra que o comércio está crescendo num nível pré-crise, de 10% sobre o ano passado, e que isso deve segurar o desempenho da indústria. “Estamos vendo um crescimento sustentável”, diz.
No Nordeste, a fabricante de computadores Elcoma diz que a produção do primeiro trimestre superou em mais de três vezes a do mesmo período de 2009. Quando comparada aos três últimos meses de 2009, porém, a atividade da empresa cresceu cerca de 20%, segundo seu presidente, Julio Gil Freire.
Para o segundo trimestre, a expectativa é que o crescimento continue. “O crédito continua forte, com o varejo financiando as máquinas em até 15 vezes”, diz o executivo, que espera produzir 30% mais do que nos três primeiros meses do ano. “As vendas corporativas, com cartão BNDES, também estão bastante aquecidas, o que é muito bom para o nosso negócio”, reforça Freire. O dólar sob controle ajuda no planejamento da fabricante, que importa 60% dos componentes que utiliza.
Para dar conta da demanda crescente, a Elcoma terá que ativar o segundo turno da fábrica no Recife. Para isso, terá que investir na contratação de pelo menos dez funcionários nos próximos dias.
O primeiro trimestre foi de crescimento para a Spaipa, fabricante e distribuidora de produtos da Coca-Cola para o Paraná e parte do interior de São Paulo. De acordo com Neuri Frigotto Pereira, superintendente de vendas e marketing, houve aumento de 11,5% no volume de vendas de janeiro a março e de 11,2% no volume de produção, na comparação com igual período do ano passado.
Para o segundo trimestre, a empresa espera repetir o desempenho dos primeiros meses do ano e crescer dois dígitos. A Spaipa planeja contratar 600 pessoas em 2010, em diversas áreas, em especial para prestação de serviços e de logística. Os investimentos no ano devem somar R$ 160 milhões, o que representa aumento de 11% em relação a exercício anterior.
Na Fresnomaq, fabricante de lavadoras de alta pressão da marca Wap, o crescimento da produção registrado no primeiro trimestre foi de 60%. Segundo Édla Pavan, diretora comercial, houve aumento na demanda nas duas categorias em que a empresa atua, varejo e profissional. “Foi resultado de duas coisas: o consumo está crescendo e estamos reforçando nossa atuação nos canais de venda, com lançamentos”, explica.
Édla contou que, para o segundo trimestre, havia a expectativa de aumentar o volume em 48%, mas agora, mais otimista, espera repetir o desempenho dos primeiros três meses do ano. A Fresnomaq encerrou 2009 com 96 empregados e está agora com 128. A previsão é que o quadro de pessoal cresça mais 10% até o fim do ano.
As vendas de aço plano para a indústria também cresceram – a alta ficou em torno de 34% no primeiro trimestre de 2010 sobre o mesmo período de 2009. A produção em março foi de cerca de 385 mil toneladas de aço segundo o Instituto Nacional de Distribuição de Aço (Inda).
Após uma queda nas vendas de 9% em 2009 sobre 2008, a projeção do Inda é que o setor tenha um crescimento acima de 20% neste ano. “O primeiro trimestre mostrou uma recuperação muito firme”, diz Carlos Loureiro, presidente da Inda. Segundo ele, todos os segmentos estão fortes nas encomendas, como automobilística, linha branca, máquinas agrícolas.
Com as encomendas crescendo, o estoque tem diminuído. Sondagem da Inda mostra que os estoques ficaram abaixo da média histórica, de 2,7 meses. A estimativa é que em março eles tenham ficado em nível inferior a dois meses de venda.
O setor de aço é uma exceção no desempenho dos investimentos, pois ainda tem capacidade ociosa para segurar o crescimento no ano. “É preciso investir para aumentar o estoque, mas a indústria está com capacidade ociosa por conta de investimento forte em 2007 e 2008”, diz. Até mesmo o estoque de mão de obra ainda não chegou aos níveis pré-crise. Segundo o presidente da Inda, as empresas recontrataram apenas metade do número de empregados demitidos na crise.
No setor têxtil, há otimismo em relação a 2010. “Tivemos um primeiro trimestre similar a 2008. Isso nos dá a certeza de que a indústria vá voltar a crescer este ano”, diz Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau e Região (Sintex). A aposta do setor é no aumento do potencial de consumo das famílias brasileiras, o que deve representar um crescimento de 4% a 5%, prevê Kühn (Valor, 13/4/10)