Censo mapeia expansão da cana em SP
Sim, a área plantada de cana cresceu vertiginosamente em São Paulo nas últimas décadas. Um número maior de propriedades rurais passou a investir na cultura no Estado, e grande parte do avanço dos canaviais se deu sobre áreas que antes abrigavam pastagens, grãos e laranja. Mesmo assim a produção paulista de alimentos cresceu, ainda que a perda de espaço de algumas lavouras tenha afetado o ritmo de incremento.
Com uma ou outra ressalva, o diagnóstico acima é repetido por especialistas do setor desde que uma nova onda global em torno do etanol começou a se formar, no fim de 2006. Mas, sobretudo no caso do avanço dos canaviais sobre outras atividades, faltavam dados mais concretos de campo para comprovar a tese, e esse talvez seja o principal objetivo do novo Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo.
De autoria dos pesquisadores Mário Pires de Almeida Olivette, Katia Nachiluk e Vera Lúcia Ferraz dos Santos Francisco, do Instituto de Economia Agrícola (IEA) – vinculado à Secretaria da Agricultura do Estado -, a nova versão do Projeto Lupa, como é conhecido o censo, será publicado nos próximos dias e compara a evolução dos canaviais e seus reflexos em “concorrentes” entre as safras 1995/96 e 2007/08.
A partir da análise dos dados coletados entre julho de 2007 e setembro de 2008 por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) e IEA, o novo levantamento mostra que a área cultivada com cana-de-açúcar aumentou 101% entre as duas safras e alcançou 5,497 milhões de hectares, ou 26,8% do total ocupado no Estado por culturas perenes, temporárias, pastagens, reflorestamento, vegetação natural, brejos e várzeas e áreas de descanso ou complementares.
Em 2007/08, a área total de cana em São Paulo dividia-se por 99.799 unidades de produção agropecuária (UPAs), ante 70.111 propriedades que tinham canaviais em 1995/96. O número de UPAs aumentou, portanto, 42%, enquanto a área cresceu 101%. O levantamento realça que, de todos os municípios paulistas, 17% reduziram a área de cana entre 1995/96 e 2007/08, enquanto 30% a ampliaram em até 100%, 36% de 100% a 1.000% e 16% em mais de 1.000%.
Com o aumento de área apurado e os ganhos de produtividade obtidos com o desenvolvimento de novas técnicas de manejo, variedades de cana mais eficientes e mecanização, a colheita de cana em São Paulo passou de 191,192 milhões de toneladas em 1996 para 332,234 milhões em 2007, conforme dados adicionais fornecidos ao Valor por Mário Olivette. E é nesse ponto que o pesquisador atenta: apesar de acossadas pelos canaviais, a produção de outras cadeias, inclusive alimentos, também aumentou no intervalo.
“Nosso objetivo foi demonstrar o que apontavam os discursos, sobretudo na questão da disputa de terras entre energia e alimentos. No período analisado, vimos que as pesquisas ajudaram a incentivar a expansão dos canaviais, mas também a produção de alimentos no Estados. Na região oeste de São Paulo, por exemplo, a produção de grãos está muito tecnificada”, afirma Olivette.
Mesmo a produção de laranja, também muito afetada pela proliferação de doenças como o greening e que cedeu espaço para a cana nesses últimos anos, sobreviveu e manteve-se praticamente estável. A área plantada com a fruta caiu de 865,8 mil hectares, em 1995/96, para 741,316 mil em 2007/08. São Paulo abriga o maior parque citrícola do mundo e é responsável por mais de 80% das exportações brasileiras de suco de laranja – que, por sua vez, respondem por mais de 80% dos embarques totais globais.
No caso do milho, grão mais cultivado no Estado, a área encolheu quase 46%, de 1,234 milhão de hectares para 667,7 mil. Na soja, a queda foi de 44,5%, para 396,4 mil, enquanto no feijão foi de 35,8%, para 104,2 mil, e no arroz foi de 63%, para 16,8 mil. Ainda assim, informa Olivette, a colheita de grãos em São Paulo mais do triplicou de lá para cá.
O levantamento destaca que área e produção de café diminuíram de 1995/96 a 2007/08, o que foge da tendência dos demais produtos citados, que a braquiária, que domina as pastagens paulistas, perdeu pouco espaço e segue soberana na ocupação da terra, com 7,190 milhões de hectares em 2007/09, e que o eucalipto, no time da cana, passou a ocupar uma área maior no Estado – 862,5 mil hectares, 27% acima do resultado apurado em 1995/96. A produção de frutas em geral também disparou.
Levando-se em consideração a ocupação da terra pela cana, o levantamento do governo divide o Estado em quatro áreas principais. O grupo 1, formado por 201 municípios do centro e do oeste de São Paulo (32,5% do total de municípios paulistas), é caracterizado por um incremento pujante dos canaviais, de 506,8 mil hectares para 2,034 milhões. Nesta porção, a cana tomou espaço de grãos e pastagens, principalmente.
No grupo 2, composto por 174 municípios espalhados também pelo centro e o oeste do Estado, mas também na “perna leste” do mapa, a expansão dos canaviais foi menor, mas também expressiva – a área foi de 56,7 mil para 178,9 mil hectares. Neste rol a tomada de áreas de outras culturas foi bem mais modesto e o crescimento dos eucaliptos também foi elevado.
No grupo 3, que se concentra no centro-norte do Estado e onde está o polo de Ribeirão Preto, talvez o mais conhecido centro canavieiro do Brasil e do mundo, o plantio de cana, mais maduro, também cresceu, mas menos. O que chama a atenção nesta frente é a redução do espaço ocupado pelos pomares de laranja – de 338,5 mil hectares em 1995/96 para 147,9 mil em 2007/08 -, mas muito mais por causa de problemas fitossanitários próprios do que pelo assédio sucroalcooleiro. No grupo 4, espalhado no sul e mais perto do litoral, a cana tem pouca influência.
25/02/2010
Fonte:Valor Econômico
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