INDÚSTRIAS DO BRASIL DE OLHO EM PROJETOS DE USINAS NA ÁFRICA
Fabricantes de equipamentos do país negociam “pacote” que poderá chegar a US$ 2 bilhões.
As vantagens tarifárias obtidas pelos países da África, assim como topografia e clima favoráveis, estão fomentando investimentos no cultivo de cana e em indústrias de açúcar e etanol. Apenas as principais empresas brasileiras que fornecem equipamentos para usinas negociam contratos que somam investimentos industriais de US$ 2 bilhões no continente.
Ao todo são nove usinas de açúcar, álcool e cogeração, uma de etanol e outras três apenas de cogeração a partir do bagaço de cana. As propostas estão em fase de negociação e a expectativa é de que os projetos sejam implantados nos próximos dois anos.
O volume de investimento considera apenas os contratos em negociação no momento pelas paulistas Dedini Indústria de Base e pela Sermatec, especializadas em fornecimento de equipamentos para usinas. O montante não considera capital que será aplicado na área agrícola, tampouco na infraestrutura de irrigação.
No entanto, somente na área industrial, o interesse em todo o continente certamente é maior, segundo Sérgio Leme, diretor da Dedini. “O continente africano é a bola da vez. Somente no Sudão sabemos que há em todo o mercado entre 15 a 17 projetos de etanol e açúcar em análise”, afirma Leme.
A empresa negocia atualmente contrato para implantação de nove usinas na África, que contemplam a produção de açúcar, álcool e co-geração. Os projetos, em média, são para moer 2 milhões de toneladas de cana em capacidade plena, e estão localizados principalmente no Sudão, onde há dois deles, e em Moçambique. Também há negociações em curso em Gana, Serra Leoa, Marrocos e Angola.
No fim de 2009, a Dedini entregou uma usina de etanol para a multinacional Kenana, no Sudão, que até então produzia apenas açúcar. A unidade, explica Leme, tem capacidade para produzir até 36 milhões de litros de etanol por ano com previsão de triplicar a atual capacidade em dois anos.
Além da Kenana, também apostam em projetos na África a companhia suíça Addax Bioenergy. Segundo publicou o Valor, a Addax assinou contrato com o governo de Serra Leoa para aluguel de 10 mil hectares de terras visando produzir 100 milhões de litros de etanol a partir de cana-de-açúcar.
Mas, entre todos os países africanos, o Sudão é considerado o mais promissor, segundo analistas. Já há oito usinas de açúcar no país. A maior é da Kenana, com 42 mil hectares de cana, e a estimativa da consultoria em projetos de irrigação Irriger é que as demais usinas tenham 60 mil hectares, totalizando no país o cultivo de 100 mil hectares. “A tendência é de um crescimento de 40% a 50% nos próximos cinco anos”, Everardo Mantovani, consultor da empresa.
Atualmente, estima-se que o Sudão produz 800 mil toneladas de açúcar, sendo a metade da Kenana. Apesar do clima desértico, o país tem como diferencial as águas do rio Nilo que, apesar de muito ligado à história do território Egípcio, é na capital no Sudão que ele se forma integralmente – é onde se encontram os dois Nilos (o Azul, que nasce na Etiópia, e o Branco, cuja nascente é na Uganda). “As áreas da Kenana, por exemplo, são irrigadas por sulco e a produtividade é elevada, da ordem de 119 toneladas de cana por hectare”, afirma Mantovani.
Com território equivalente a 25% do brasileiro, o Sudão, assim como outros países do continente, é beneficiado pelo acordo EBA (tudo menos armas, na sigla em inglês), portanto, tem isenção de taxas na exportação para Europa, diferentemente do Brasil, por exemplo, cujo etanol paga 192 euros para cada metro cúbico exportado ao bloco.
Já a Sermatec negocia contratos de uma usina de etanol e co-geração em Angola. No ano passado, a empresa forneceu duas caldeiras e um difusor de cana para a Biocom, empresa do governo angolano que tem como acionista a brasileira Odebrecht (Valor, 26/2/10)