CULTIVO DO ALGODÃO
O algodoeiro é muito susceptível à concorrência de ervas daninhas. Por essa razão ele deve ser mantido no limpo, isto é, livre das ervas daninhas desde a semeadura até próximo à colheita. Por sua vez, a terra, quando escarifícada superficialmente proporciona maior arejamento às raízes da cultura, embora também facilite a erosão.
Os cultivos têm por finalidade controlar as ervas daninhas e escarificar o solo. Eles podem ser manuais, mecânicos ou químicos.
O cultivo manual é feito por meio da enxada. Seu baixo rendimento e o elevado custo da mão de obra tornam-no oneroso. A tendência é de o uso da enxada ficar restrito como complementar dos implementos mecânicos.
O cultivo mecânico pode ser efetuado com máquinas a tração animal ou motorizadas. É preciso salientar que os cultivos devem ser rasos e que sua principal função é eliminar as sementeiras.
O controle químico das ervas daninhas pode também ser feito com herbicidas.
Os herbicidas aplicados sob incorporação devem ser colocados no solo antes do plantio; logo em seguida, deverá ser feita uma gradeação no terreno para que haja incorporação do produto químico. Depois se fará a semeação. Os do tipo pré-emergência são colocados no solo após o plantio, porém, antes que a planta desponte na superfície da terra. Há ainda os herbicidas do tipo pós-emergência.
O uso de herbicida não elimina por completo o uso de implementos necessários à escarificação do terreno.
Adubação e calagem
A adubação é uma das práticas mais importantes na cultura do algodão. A grande necessidade de aplicação de elementos químicos no solo, para que a produção seja compensadora, tem sido bastante evidenciada experimentalmente.
Há, entretanto, uma circunstância especial para que o algodoeiro produza bem: é que a acidez do solo não seja muito forte, pois ela é fator limitante para a produção de algodão. Quando o pH do solo se apresenta de 5(cinco) para baixo, há necessidade de se corrigir a acidez do solo, principalmente se, na análise deste, aparecer íons de alumínio. A correção se faz com aplicação de calcário no solo.
Necessidade da cultura
Experiências em diversos tipos de solo têm evidenciado a grande vantagem da aplicação de adubos na cultura algodoeira. Com racional adubação obtém-se, em média, um aumento de 30% na produtividade dos algodoais em terras que já vem sendo cultivadas há anos.
O algodoeiro é esgotante sob o ponto de vista do consumo de nutrientes e da matéria orgânica que é considerável com a queima da soqueira.
Numa análise quantitativa do algodoeiro, em se referindo à absorção de macronutrientes, apresenta-nos os seguintes dados:
Totais de Macronutrientes em Plantas Adubadas (quilos por hectare)
Partes | N | P | K | Ca | Mg | S |
Raízes | 5,8 | 0,22 | 3,2 | 1,1 | 0,7 | 0,8 |
Parte aérea vegetativa | 48,8 | 3,92 | 38,6 | 49,5 | 7,2 | 21,9 |
Parte aérea reprodutiva | 28,6 | 4,0 | 23,7 | 11,1 | 4,9 | 10,5 |
Totais | 83,2 | 8,14 | 65,5 | 61,7 | 12,8 | 33,2 |
Fonte: Departamento de Química Agrícola – Esalq
Análises outras, feitas por pesquisadores diferentes, apresentam resultados semelhantes, com variações ligadas provavelmente a diversos fatores, tais como: clima, solo, época de colheita de material, variedades, etc.
Entretanto, para recomendar uma adubação, não podemos nos basear apenas nas quantidades de elementos retirados do solo, pois, se tal fizéssemos, poderíamos nos aproximar do certo no que se refere aos outros macronutrientes, porém erraríamos com relação ao fósforo, pois a necessidade de aplicação desse elemento no solo, a fim de se conseguir resultados satisfatórios é, no geral, bem maior do que a retirada dele pela cultura. Duas grandes razões poderiam apresentar pela ocorrência do tal fato. A primeira é que no geral, os solos do Estado de São Paulo são muito pobres em fósforo. A segunda é que ao se colocar fertilizantes fosfatados no solo, este retém para si, temporariamente grande parte do elemento, cedendo uma porcentagem menor à cultura.
Adubação
Para prescrever-se uma correta adubação, não há dúvida alguma que a experiência de campo, no local, seria o mais seguro, porquanto qualquer característica especial do terreno poderia aí se revelar. Entretanto, isto nem sempre exeqüível. Na prática há outros fatores que podem orientar o técnico na prescrição de como adubar. Principalmente se pudermos obter um conjunto desses fatores, a prescrição será mais adequada, seguindo os seguinte procedimentos:
Análise do solo
Esta prática é a mais indicada e atualmente está bastante generalizada no nosso meio agrícola. É baseada nas análises de amostras de terra e nas informações que os agricultores prestam em questionário especial, ao enviarem tais amostras aos laboratórios. Os resultados analíticos, quando feitos por estabelecimentos oficiais, geralmente vem acompanhados por recomendações de adubações adequadas para a cultura a ser conduzida no solo em tese.
Em geral, nos solos cultivados, verifica-se primeiro a falta de fósforo e em seguida de nitrogênio e potássio. Se as terras estiverem em pousio, com vegetação espontânea, relativamente densa ou mesmo com pastagens, nos primeiros anos de cultura de algodão não é necessário aplicar fósforo; se ao contrário, vem sendo cultivadas repetidamente, há necessidade dos três elementos. Tratando-se de solos constantemente adubados com fósforo, esse elemento deverá integrar as formulas em doses mais reduzidas, igualando-se ao nitrogênio e potássio. Em terras recém desbravadas, inicialmente recomenda-se outra cultura (o milho, por exemplo); pode-se até dispensar a adubação no primeiro ano com algodão, se a fertilidade observada no solo para com a cultura anterior mostrou-se grande.
Necessidades minerais
Sintomas de eficiências Minerais no Algodoeiro
Elementos Deficientes | Sintomas |
Nitrogênio | Clorose uniforme, acentuando-se nas folhas mais velhas, que passam a mostrar mancha pardacenta no ângulo do lobo. Depois secam e caem prematuramente. Planta de porte baixo, pouco enfolhada, improdutiva. Tronco fino. |
Fósforo | Cor verde da folha passa a pardecenta e depois a amarelo-bronze. Manchas ferruginosas, nas extremidadesdo limbo, dão aspecto de queimadas por fogo. Planta sem vigor, crescimento retardado, improdutiva |
Potássio | O limbo foliar aprsenta matiz verde-claro-amarelo. Proeminência das nervuras. Necrose de toda a periferia da folha. Manchas pardo-avermelhadas na nervura; com o progresso, essas manchas se reunem e todo o limbo fenece, apresentando coloroção pardo-chocolate, com os bordos revirados para baixo. Queda prematura das folhas mais velhas, dando plantas desfolhadas. Vasos das raízes escuras. Semente com pouco óleo. |
Cálcio | Plantas raquíticas, improdutivas, praticamente reduzidas ao caule. Folhas murchas, soltam-se com facilidade; as que persistem mais, exibem coloração veermelho-sangue. |
Magnésio | Descoloração de limbo foliar nos espaços entre as nervuras, margeando as quais permanecem faixas de cor verde normal. Mais tarde, todas as nervuras ficam verdes, enquanto que o resto do limbo é vermelho-púrpura, formando belo contraste. Queda prematura das folhas inferiores. |
Enxofre | Clorose forte das folhas do broto terminal, progredindo para as folhas mais velhas. Coloração verde-limão típica. Limbo foliar brilhante no início e sem brilho depois. Plantas improdutivas, rebrotação de gemas vegtativas na parte inferior do caule. |
Fonte: Guia para reconhecimento das deficiências minerais do algodoeiro – Boletim 118
Como já foi visto neste quadro, o algodoeiro, em sua estrutura, apresenta-nos em análise, maior quantidade de nitrogênio e potássio que de fósforo; porém, sabe-se experimentalmente, que a necessidade de provisão desse elemento no solo é, no geral, bem maior que a dos outros.
Nem sempre a quantidade de elementos empregada numa adubação, embora corresponda experimentalmente à maior produção da cultura, é a recomendada. Fatores econômicos influem diretamente no caso, pois, desde que o aumento de produtividade não corresponda, em cruzados, ao dispêndio feito com a quantidade de adubo empregada a mais, não haverá vantagem econômica nesse acréscimo de fertilizante.
A capacidade do algodão em assimilar os nutrientes varia de acordo com determinadas épocas. Contudo, o fósforo e o potássio podem ser postos no solo na ocasião do plantio, pois ficam à disposição da planta durante todo seu ciclo vegetativo. Quanto ao nitrogênio, tendo em vista sua facilidade de lixiviação, ele deverá ser empregado na época em que sua assimilação pelo algodoeiro seja mais intensa, que é ao redor dos 40 dias de vida da planta.
Escolha de adubos
Grande número de experiências já mostrou quais os fertilizantes que preferivelmente se deve empregar na adubação do algodoeiro. Naturalmente, aliado ao conhecimento dos resultados experimentais, o bom senso e o fator econômico indica o caminho certo ao técnico.
Com relação ao nitrogênio, pode-se afirmar que os adubos minerais solúveis são superiores às tortas em geral, já que podem ser aplicados em cobertura e seus efeitos aparecem logo. As tortas, além de não atenderem a essa necessidade, prejudicam enormemente o estande de germinação, se, quando postas no sulco, na ocasião do plantio, acontecer de entrarem em contacto com as sementes do algodão. Contudo, é o fator econômico o mais importante no caso.
Em se referindo aos adubos potássicos, tanto o cloreto como o sulfato do potássio é recomendado indistintamente pelo seu valor químico; em igualdade de preço preferir o cloreto que apresenta 10% de unidade a mais de potássio. As cinzas são de importância ocasional e local; geralmente não há no comércio, porém, quando houver, poderão ser usadas sem restrição.
Já no que diz respeito ao fósforo, experiências tem demonstrado a superioridade do superfosfato sobre outros fertilizantes fosfatados, quando postos na cultura algodoeira.
Entretanto, com o continuo uso do terreno anualmente adubado, essa vantagem tende a diminuir e poderá até desaparecer devido ao poder residual acumulativo que os fosfatos apresentam. Se conseguirmos, por meio de adubações fosfatadas anuais, elevar o teor de fósforo da solução do solo a um nível ótimo, poderemos dali para frente fornecer a este solo apenas a quantidade de reposição do elemento retirado pela cultura; essa reposição do fósforo poderá ser feita por meio de qualquer fertilizante fosfatado, pois a vantajosa característica do superfosfato de se apresentar solúvel em água já se torna desnecessária nesse caso, em vista do solo ter sempre uma quantidade ótima de fósforo solúvel em sua solução. Porém, como não é fácil atingir esse estado ideal do terreno quanto ao fósforo, e, considerando que geralmente nossas terras se apresentam deficitárias desse elemento, o superfosfato deve continuar a reter a preferência nas adubações do algodoeiro, entrando, na pior das hipóteses, com a metade dos fertilizantes fosfatados na fórmula.
Aplicação dos adubos
É muito importante a maneira de se aplicar os adubos na cultura do algodão. Os fertilizantes fosfatados e potássicos que serão colocados no solo na época do plantio, e fim de evitarem-se danos no momento da germinação, devem ser aplicados de forma a ficarem uns 5cm para o lado e de 3 a 5cm abaixo do nível das sementes. Na falta de semeadeiras-adubadeiras conjugadas lateral, que fazem esse trabalho com perfeição, convém, embora com menor eficiência, fazer esse serviço em duas operações, primeiro adotando e depois semeando; neste caso, se possível for, é interessante separar por um ou mais dIas, essas operações. A secção de Algodão do Instituto Agronômico de Campinas já tem dados experimentais a respeito e é concludente a vantagem do uso de máquinas conjugada lateral com relação às outras maneiras observadas de semear e adubar.
Com referência aos adubos nitrogenados solúveis, dois terços deles devem ser postos em cobertura ao redor dos 40 dias após o plantio.
O fertilizante deve ser posto em linha distendo uns 20 cm do pé da planta, sempre do lado de cima, se o terreno tiver declive. Ha máquinas que fazem a distribuição no meio das linhas com bastante facilidade, embora talvez com pouco menor aproveitamento da planta.
O parcelamento em duas épocas de aplicação do nitrogênio (aos 30 e 60 dias de vida da planta) tem sido usado com bom resultado por alguns cotonicultores. Resta-nos observar se é econômica tal maneira de proceder, pois teremos que computar aí maior disponibilidade de mão de obra.
Adubação Verde
A prática de adubação verde para a cultura algodoeira é, oportunamente, de grande eficiência.
Nos solos em geral e nos arenosos em particular, após anos continuados de cultivo de algodão, a queda de produção é notória. A adubação mineral contorna essa perda de fertilidade das terras até o ponto em que o teor de matéria orgânica das mesmas não baixe de certo nível; dai para frente o efeito dos fertilizantes químicos já não serão acentuados e, conseqüentemente, haverá necessidade de recorrer à adubação verde.
As leguminosas são preferivelmente as escolhidas como adubos verdes porque, além de conterem porcentagens regulares de fósforo, potássio e cálcio, as bactérias de seus nódulos radiculares fixam o nitrogênio atmosférico.
A quantidade de matéria orgânica acumulada no solo com a adição de um adubo verde varia com sua natureza. Naturalmente, para que essa quantidade seja apreciável há necessidade da prática por vários anos, embora seus efeitos já se manifestem no primeiro ano. Quando combinada com adubações minerais, chegam então a provocar produções espetaculares; experiências realizadas pela Secção de Algodão do Instituto Agronômico de Campinas, nas regiões de Presidente Bernardes e São José do Rio Preto, apresentaram resultados evidentes de que, quando efetuadas simultaneamente, a adubação verde-mineral provocou um aumento de produção de algodão maior do que a soma dos aumentos de produção obtidos com cada uma separadamente, embora essas últimas já mostrassem alta significância em relação à testemunha não adubada.
Esses aumentos de produtividade que a adubação verde propicia (principalmente a mucuna preta) não devem ser atribuídos unicamente à matéria orgânica que ela incorpora ao solo; sua ação é mais complexa, parecendo inclusive exercer certo controle para nematóide.
A relação Cálcio/Nitrogênio é mais importante que o próprio peso da matéria orgânica adicionada ao solo. Por essa razão há época propícia para o corte da leguminosa plantada; essa época deve ser no inicio do florescimento.
A mucuna preta, que se tem mostrado como um dos melhores adubos verdes, é recomendada da seguinte maneira: plantar em outubro (início das águas); no começo de seu florescimento, passar uma grade de disco; essa máquina irá machucar a planta em diversas partes, possibilitando então, o ataque de microorganismos ao vegetal, que irão provocar-lhe a decomposição; com intervalos de 20 dias, a grade de disco poderá ser passada mais duas vezes; com isso consegue-se um acamamento uniforme de toda a massa e esta será incorporada com facilidade ao solo, quando ele for arado.
As vantagens de tal método são:
– Adicionar ao solo matéria orgânica na sua melhor relação C/N;
– Deixar a superfície do terreno melhor protegida do calor solar e, conseqüentemente, preservar mais a umidade do solo; e
– Evitar o desenvolvimento de ervas daninhas.
Quando a adubação verde é aconselhada pelo técnico, o inconveniente que o agricultor apresenta, sempre é o mesmo: tendo o terreno que ficar durante uma safra com uma leguminosa, não haverá renda econômica. Todavia, o aumento na produção do algodoeiro nos anos subseqüentes (a mucuna preta apresenta efeito só um ano) é tão grande que talvez compense o ano que não se plantou algodão e, como foi dito antes, há ocasião em que a incorporação de matéria orgânica no solo torna imprescindível.
Hoje, um tipo de adubo verde se destaca pela economia: a crotalária júncea. Essa leguminosa adquiriu certa importância desde que sua fibra foi reconhecida como uma das melhores na fabricação de papel para cigarros. Em vista disso, existem firmas industriais que passaram a se interessar pelo incremento da cultura e fazem, com o lavrador, contrato de adquirir toda a produção de fibra e semente da crotalária júncea plantada. É uma oportunidade para o cotonicultor paulista fazer uma economia adubação verde; é óbvio que essa chance seja temporária, porquanto o compromisso das firmas irá até o limite de produção de fibras que lhes proporcione um estoque não exagerado.
Outra maneira econômica de se praticar a adubação verde é rotar o algodão com o milho; quando este já sofreu cultivo e a adubação nitrogenada em cobertura já foi feita, o lavrador semeia a mucuna entre o milho, aproveitando o terreno já limpo. Tecnicamente a semeação da mucuna seria recomendada mais tarde, na época do florescimento do milho, porém acontece que nessa ocasião o terreno já estará novamente praguejado de ervas daninhas, e se não fizer outra capina, o mato poderá abafar a leguminosa após sua germinação. Depois do milho colhido, na época do florescimento da leguminosa, a grade de disco entrará no terreno.
Adubação orgânica
Os adubos orgânicos (tortas e estercos) não são empregados na cultura do algodão, em vista de seus benefícios, como fornecedores de elementos essenciais, serem irrisórios perante os dos adubos químicos. Devido o grande volume necessário para o aparecimento de pequenos efeitos, tornam-se antieconômicos. Melhor seria que fossem reservados para outras culturas, principalmente as perenes.
Se considerarmos que a lavoura de algodão irá ser feita em um solo relativamente esgotado de matéria orgânica, poderemos nos recorrer à adubação verde que nos forneceria um volume de massa mais compensador, sendo ainda melhor, quando enquadrado num sistema de rotação de culturas.
Todavia, o caso não é para se desprezar por completos adubos orgânicos, pois eles são muito melhor “enchimento” do que areia ou outra matéria inerte qualquer, quando empregados para se completar, em peso ou volume, uma determinada fórmula. Mesmo aqui, somos obrigados a observar se a parte fosfatada da fórmula não é trazida por um fosfato de fusão, ou se a parte nitrogenada não é fornecida pelo nitrato de cálcio, pois esses adubos são geralmente incompatíveis com os adubos orgânicos.
Adubação Foliar
A observação revelou uma maior tolerância do algodoeiro às soluções mais concentradas de uréia do que as de sulfato de amônio e muito menos de nitrato de sódio. A solução de uréia chegou à concentração de 15% sem que a planta apresentasse qualquer sintoma de ressentimento, ao passo que as outras já com concentrações inferiores (4 a 6%), hostilizavam o algodoeiro.
Calagem
Quanto menos ácido, melhor será o solo para produzir algodão; as mais altas produções se obtêm em terras com pH em torno da neutralidade.
Essa afirmativa é baseada na conclusão tirada ao se observar grande número de resultados de colheitas nos quais variados tipos de solo e dos quais, de antemão, se conhecia o pH.
Sendo o algodão uma planta pouco tolerante para com a acidez acentuada do solo, ele exige que o pH deste esteja relativamente próximo do neutro para que haja sucesso em sua produção. Terras cujo pH acusa de 5 para baixo não são recomendáveis à cultura algodoeira; o agricultor que quiser aproveitá-las é obrigado a recorrer à calagem, a fim de corrigir sua acidez; caso contrário, a cultura estará fadada ao fracasso, porquanto não adianta bem adubá-la e tampouco aplicar outras práticas culturais recomendadas, pois a acidez, sendo um fator limitante de produção, não deixa que o algodoeiro se desenvolva e obtenha suficiente carga de maçãs.
Experiências têm demonstrado tal fato. Entretanto, o emprego do calcário não pode ser preconizado a indiscriminadamente, pois seus efeitos são dignos de estudo.
Entre as vantagens, a correção de acidez do solo é universalmente reconhecida; o suprimento de cálcio e magnésio à planta (empregando-se o calcário dolomítico), uma vez constatada a deficiência desses elementos, também é patente; com a calagem poderá ocorrer uma maior disponibilidade do fósforo nativo do solo, no caso deste estar rico de sesquióxido de ferro e alumínio, pois esses compostos fixam o fósforo em forma não aproveitável e, como dão bases fracas, serão desalojados pelo cálcio nos fosfatos; o cálcio, em conseqüência da correção da acidez, provoca o aumento da atividade de microorganismos úteis do solo (bactérias), que vivem melhor em ambiente de pH acima de 6; assim também, em virtude da elevação do pH, a calagem evita o aparecimento de certos fungos causadores de moléstias que se ambientam em pH baixo; como elemento floculante de colóides que é, o cálcio torna os solos argilosos menos compactos, facilitando sua aeração e seu preparo mecânico.
Porém, se por um lado, efeitos espetaculares são propiciados pela calagem, pode acontecer que o uso inadequado do corretivo, principalmente em doses elevadas e em épocas inoportunas, aliado a não complementação de uma conveniente adubação, proporcione efeitos danosos à cultura. Foi observada uma diminuição nos teores de fósforo solúvel e potássio trocável da terra, que se acentuava com o aumento da dose de calcário empregada. Geralmente dosagem forte de calcário, principalmente se posta no terreno em época próxima do plantio, devem ser acompanhadas de grandes doses de fertilizantes fosfatados e potássicos. Isso pode influir na economia da cultura.
Por essa razão, costuma-se recomendar que a aplicação do calcário no solo seja feita com antecedência de 3 meses antes do plantio; no mínimo 2 meses. Tem-se notado que quando a quantidade de calcário empregado é dividida em duas parcelas, colocando-se a primeira no solo e depois fazendo-se uma aração no mesmo para só depois aplicar a segunda parcela na superfície da terra, os resultados têm sido melhores do que a aplicação total do calcário em uma só vez.
Quanto às quantidades recomendadas, estas poderão estar baseadas na análise da terra. Todavia, podemos garantir que os terrenos argilosos exigem maior quantidade de calcário que os arenosos para elevação do pH. Terrenos ricos de matéria orgânica também são exigentes, pois está comprovado que tanto o húmus como a argila influem nas dosagens de calcário recomendadas.
Cálculo da Adubação e Calagem
A adubação e a calagem em algodão devem ser feitas com base na análise de solo.
Calagem: A quantidade de calcário é calculada pela fórmula:
N.C. = | T(V2 – V1) | x f |
100 |
– N.C.: é a quantidade de calcário a aplicar em tonelada por hectare;
– T : é a capacidade de troca de cátions; (T = Ca + Mg + K +Al + H; informações dadas pela análise de solo);
– V1: porcentagem de saturação de bases; V1 = 100 S dada pela A.S.
T
– V2: saturação em bases exigidas pela cultura; V2 pode variar de uma cultura para outra; V2 para o algodão é 70%
– f: fator de correção para quantidade do calcário; f = 100 ; usar f=1,5
PRNT
Aplicar metade do calcário antes da aração e metade depois da aração e antes da gradagem.
Adubação orgânica: Sempre que possível incorporar matéria orgânica ao solo, através da adubação verde, incorporação dos restos culturais, aplicação de estercos, palhas, cascas ou torta de mamona (100 kg/ha).
Adubação mineral no plantio: Além do fósforo e potássio aplicar 10 a 30 Kg/ha de nitrogênio e 0,5 Kg/ha de boro.
Em cobertura: Aplicar de 30 a 50 Kg/ha de nitrogênio; metade por ocasião do desbaste e metade no início do florescimento.
Rotação de culturas
Esse sistema de cultivo, em que duas ou mais culturas diferentes se revezam na mesma gleba de terra, em determinada ordem, visa manter a fertilidade do solo, possibilitando aos agricultores melhores condições de produção dentro do período considerado para as culturas que entram no esquema.
Inúmeros experimentos, confirmados pela grande lavoura, mostram que a contínua utilização de uma mesma gleba de terra, com uma só cultura tende a acarretar quebra na produtividade, com o correr dos anos. Este fato se dá principalmente com o algodoeiro; pois, salvo honrosas exceções em culturas feitas por cotonicultores bem orientados, o que se observa é que, nos solos em geral e nos arenosos em particular, após anos continuados de cultivo de algodão, a queda de produção é notória. A adubação mineral já não chega a apresentar os efeitos esperados, porquanto a matéria orgânica do solo vem continuamente caindo para níveis muito baixos.
O emprego da rotação de culturas bem orientada e planejada, pode perfeitamente tornar estanque essa queda de produtividade, pois propicia diversas vantagens, a seguir expostas:
Manutenção da fertilidade do solo: quando se processa a rotação do algodão com outras culturas (principalmente leguminosas), casos pacíficos são os benefícios que ocorrem no solo, tais como:
a) Mantém as características físicas do solo, pois a rotação concorre para melhor aeração e movimentação líquida no terreno;
b) Evita a concentração de substâncias tóxicas no solo, comum à monocultura;
c) Mantém o equilíbrio da fauna e flora microbiana, pois há enriquecimento de matéria orgânica no solo. As análises de terra anteriores e posteriores à rotação nos demonstraram o fato. Sem considerar inúmeros outros resultados de que temos conhecimento, podemos apresentar aqui apenas os resultados de análises processadas em alguns campos de observação por nós instalados.
Vantagem na produção: Dados experimentais atestam o aumento da produção do algodoeiro em rotação com a mamona, milho e amendoim. As figuras abaixo nos mostram o fato. Campos de Observação de Rotação de Algodão com milho + mucuna, apresentaram resultados positivos.
Controle de pragas e doenças
É um dos benefícios que a rotação de cultura proporciona. Embora saibamos que o controle das pragas é complexo, principalmente pela fácil locomoção dos insetos, existem, porém, casos específicos em que a broca e a lagarta rosada são relativamente controladas por esse sistema de cultivo.
A rotação tem ainda influência no controle de certas doenças, tais como a ramulose e a murcha do Fusarium. Observações feitas em zonas infestadas por essa última doença, assim como pelo nematóide causador de “galha” (Meloidogyne incognita) no Estado de São Paulo, evidenciam como o amendoim pode ser indicado como uma das culturas ideais para rotar com o algodão nessas regiões. A mucuna preta, que também o é, deixa, todavia de ser cultura economicamente explorada.
Combate à erosão
Por permitir a execução de culturas em faixas, a rotação facilita medidas de conservação do solo. Pode-se manter as faixas com lavouras previamente escolhidas, recomendando-se, para maior eficiência, combinar culturas que facilitam a erosão (no caso o algodão) com aquelas que a dificultam. Consideremos aí, que esse sistema só deverá ser empregado para declives de terreno inferiores a 10%. As faixas de cultura ocuparão alternadamente os lugares na gleba de terra.
Manutenção da mão de obra
A coexistência de várias lavouras numa propriedade agrícola pode permitir melhor distribuição da mão de obra durante todo o ano, diminuindo períodos de acúmulo ou falta de serviço e garantindo a mão de obra durante todo o ano. Para tanto, deve-se contar com lavouras, as quais tenham ciclo de plantio, tratos culturais e colheitas não simultâneas, como por exemplo, o algodão e o amendoim e outras mais.
Conservação do solo
Com relação à conservação do solo nos algodoais, o ponto mais importante é o relativo ao controle da erosão.
Sabe-se que o algodoeiro é muito exigente em tratos culturais, devendo estar sempre livre de ervas concorrentes, o que torna o solo muito exposto ao desgaste provocado pelas águas das chuvas.
Como os especialistas no assunto afirmam categoricamente que em glebas com declividade além de 12% o algodão não deve ser cultivado, fica evidenciado o valor que tem a orientação no sentido de escolher bem a gleba para a cultura.
Sendo a água vital para a planta, a perda de 7,2% do total das precipitações constitui elevado prejuízo para a cultura.
O mínimo exigido, como prática conservacionistas, é o plantio em nível. À medida que o lavrador melhora seu sistema de controle até o ideal, que será o terraceamento, aumentam as possibilidades de êxito. Mesmo porque até a produção de plantas, por unidade de área, fica seriamente comprometida pela ação das enxurradas, quando pesadas chuvas ocorrem nos primeiros dias após a semeadura ou quando as plantas estio novas.
Devemos notar que estando ainda a cultura algodoeira situada, na sua maior parte, em solos muito susceptível à erosão maior atenções deverá ser despendidas ao problema.
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