MARAMBAIA QUER USINAS DO J. PESSOA E MIRA ÁFRICA
Negociação deve ser aprovada por credores em quatro meses.
A Marambaia Energia Renovável, companhia criada para investir em empresas de agroenergia, anunciou ontem que planeja incorporar as cinco usinas do grupo J. Pessoa, que está em recuperação judicial desde o ano passado. A companhia também vai ter participação acionária minoritária em uma refinaria de açúcar na Argélia, que deverá entrar em operação a partir de 2012.
Controlada pelo banqueiro Luiz César Fernandes (ex-Pactual e Garantia), com 51%, e pelos empresários Marcelo Bastos (ex-BRJ) e Fernando Ribeiro, ex-Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), com 42%, a empresa foi constituída para investir em projetos sucroalcooleiros dentro e fora do Brasil. Bastos e Ribeiro controlam a Metynis Participações, que está envolvida nas negociações de expansão da Marambaia.
A transação envolvendo a Marambaia e o grupo J. Pessoa tem um contrato de exclusividade de 120 dias. “No processo de incorporação do J. Pessoa, outros fundos deverão participar dessa operação”, afirmou ao Valor Fernando Ribeiro, sócio da Metynis.
Segundo Bastos, na composição da nova empresa, que terá a participação de fundos de investimentos, o empresário José Pessoa de Queiroz Bisneto deverá ser acionista minoritário. “Ainda vamos aguardar a aprovação do plano de recuperação judicial do grupo”, afirmou. “As condições impostas por esses fundos [os nomes são mantidos em sigilo] são de que os investimentos fossem feitos em grupos já instalados no país, sem projetos ‘greenfield’ [em construção]”, disse.
Bastos afirmou que a empresa vai exportar açúcar do Brasil para a refinaria que deverá ser instalada na Argélia. Nessa refinaria, a Marambaia deverá ter participação de até 15% – o percentual ainda será definido nos próximos meses. Os investidores dessa refinaria são empresários locais e o grupo europeu Compagnie Sucrière de Luxembourg. A usina deverá entrar em operação a partir de 2012.
Ao Valor, José Pessoa não admitiu que perderá o controle do negócio. “A ideia é que a empresa tenha um conselho no qual cada parte indicará cadeiras. Ainda não está definido quanto cada parte terá no negócio, pois a ‘due diligence’ (auditoria) e os estudos vão começar. Mas será menos de 50% para a Marambaia”, afirmou Pessoa. Ele disse que o fechamento do negócio com a empresa será concluído em 120 dias e que a aprovação deverá passar pela assembleia de credores, também marcada para ocorrer em quatro meses.
Com cinco usinas de açúcar e álcool no país, com capacidade para moer cerca de 6 milhões de toneladas, o grupo J. Pessoa foi abatido pela forte crise que atingiu o setor sucroalcooleiro, levando o controlador a entrar com pedido de recuperação judicial. “Do ponto de vista financeiro, o nosso endividamento não é grande, está em torno de R$ 270 milhões. O problema é que a maior parte da dívida era de curto prazo e estava asfixiando a companhia”, explicou Pessoa.
Por conta dos problemas financeiros, no ciclo 2009/10, as cinco usinas do grupo J. Pessoa processou em torno de 4 milhões de toneladas de cana. A estimativa do empresário para a próxima temporada é de conseguir moer 5 milhões de toneladas (Valor, 2/3/10)