AVESSO A METAS, MEGAPRODUTOR EM MT CHEGA A 300 MIL HA

A companhia agropecuária Bom Futuro nunca fixou uma meta para a extensão da área de cultivo que pretendia alcançar no Centro-Oeste, como diz um dos sócios, mas ainda assim cresceu de maneira constante e acelerada nos últimos anos até atingir impressionantes 300 mil hectares de cultivos com grãos e oleaginosas.
Utilizando arrendamentos e parcerias com proprietários de fazendas, a Bom Futuro trabalha atualmente em uma área com quase o dobro do tamanho do município de São Paulo e ultrapassou o total cultivado pelos primos mais conhecidos, os controladores do grupo André Maggi, do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.
Na temporada 09/10, a área plantada com soja da Bom Futuro engloba 230 mil hectares, um salto ante os 180 mil hectares no ano anterior, e as lavouras de algodão crescerão de 50 mil para 70 mil hectares, incluindo primeira e segunda safras.
Os mais de 300 mil hectares de plantio da empresa, que incluem ainda lavouras de milho, arroz e feijão, não são todos de propriedade da Bom Futuro, cujas terras próprias respondem por cerca de 40 por cento do total.
“O resto é parceria e arrendamentos,” revelou Elusmar Maggi Scheffer, de 50 anos, um dos quatro proprietários da Bom Futuro, em entrevista à Reuters na noite de segunda-feira, durante um jantar promovido em Rondonópolis (MT) para produtores, como parte da programação do Rally da Safra.
Segundo ele, a estratégia de arrendamentos e parcerias mostra-se mais interessante do que ter muito capital imobilizado em terras e, principalmente, permite que a empresa trabalhe com um capital de giro maior, o que ajuda nas negociações com fornecedores.
“Às vezes, a pessoa tem tantos mil hectares e está amarrada… O importante é ter capital de giro, pra conseguir descontos na compra de insumos,” afirmou o produtor, com participação em uma companhia que teve faturamento de 850 milhões de reais em 2009.
“Para comprar terra, só se for um dente da frente, se for perto de fazenda nossa”, com o objetivo de ampliar a área contínua de uma propriedade, observou ele, lembrando que em 09/10 o grupo contou com mais duas fazendas arrendadas, uma em Diamantino, de 15 mil hectares, e outra na região do Xingu, de 22 mil hectares.
A Bom Futuro, formada por uma família com origem no Rio Grande do Sul, que se estabeleceu em Mato Grosso no início da década de 80, vinda do Paraná, tem trajetória semelhante à do governador Blairo Maggi.
Mas os Maggi Scheffer, tidos como os maiores produtores de soja do Brasil, plantam em uma área ainda maior do que o Grupo André Maggi, que na safra 09/10 teve cultivos em 205 mil hectares, incluindo 140 mil hectares da oleaginosa e o restante de algodão e milho.
A empresa é presidida por Erai Maggi Scheffer e tem também como sócios, além de Elusmar, Fernando Maggi Scheffer e José Maria Bortoli, casado com Inês Marina, irmã dos outros três proprietários.
Com a força de seu capital de giro e aproveitando um programa do BNDES com juros de 4,5 por cento ao ano para a compra de máquinas agrícolas, a Bom Futuro investiu nesta safra 72 milhões de reais em tratores, plantadeiras e colheitadeiras.
Desse total, cerca de 40 milhões de reais entraram em uma negociação de 120 tratores com a John Deere, na maior venda individual já feita pela companhia, disse Maggi Scheffer.
PRODUÇÃO
Atuando em 18 municípios de Mato Grosso, que vão do Vale do Araguaia até Campos de Júlio, na região oeste do Estado, a Bom Futuro deve registrar uma produtividade média de soja de 53 sacas por hectare (3.180 quilos por hectare), estável em relação à ótima safra do ano passado.
Isso ocorre, afirmou ele –que cuida das propriedades “de Cuiabá para cima”– por conta de produtividades menores registradas nas fazendas da região de Sapezal (oeste), afetadas pelas chuvas intensas.
“A região sul está melhor do que no ano passado. Sapezal está pior, cinco sacas a menos. Mas aqui (sudeste) tem fazenda fechando com 62 sacas. Está compensando, como a gente está bem distribuído, uma área compensa a outra.”
A colheita do grupo Bom Futuro já ocorreu em quase 60 por cento da área plantada. Considerando a produtividade estimada e a área, a produção pode atingir 731 mil toneladas.
Desse volume, a Bom Futuro já negociou antecipadamente a maior parte. “Soja tem 75 por cento travada, com média de preço de 18,20 dólares por saca, não dá pra reclamar”, declarou ele, lembrando que a empresa aproveitou os melhores preços do início do ano para realizar suas vendas.
“Quem travou antes, vai continuar firme no negócio. Quem quis arriscar, agora vai ser difícil vender bem, pois o mundo está produzindo bem”, afirmou ele.
Com o aumento na área plantada, a produção de algodão esperada, de 115 mil toneladas da pluma, também deve crescer substancialmente. E da produção da temporada 09/10, o grupo já “travou” vendas de 60 por cento do total.
Além da divisão agrícola, a empresa tem um departamento que se dedica à pecuária, com 50 mil bois em semiconfinamento, outra que produz sementes –cerca de 1 milhão de sacas por ano.
GRÃOS EM ÁREAS DE PASTAGEM
Para 2010/11, o grupo já vem trabalhando uma área de pastagem degradada, com o objetivo de torná-la agricultável. São 15 mil hectares de pastagens, perto do Araguaia, que vão se somar às cerca de 70 fazendas do Grupo Bom Futuro.
“As máquinas já estão mexendo, hoje a área não aguenta uma cabeça de gado por hectare,” disse Maggi Scheffer.
O sócio-proprietário da Bom Futuro não quis fazer uma previsão de faturamento em 2010, lembrando que isso dependerá das cotações nas bolsas de futuros, mas disse que os ganhos da empresa devem continuar crescendo. “O gráfico da empresa está assim, para cima.”
E por fim ele deu uma dica sobre como a sua empresa angariou tanta terra. “O importante é não colocar uma meta na cabeça. Se não, você acaba pagando o que não vale.” (Reuters, 2/3/10)