DILMA DEFENDE CAPITAL NACIONAL NO ETANOL

dilma-roussef1Ministra anuncia saída do Conselho da Petrobras e Lula ironiza inauguração de maquete por Serra.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata à Presidência pelo PT, defendeu ontem o fortalecimento do setor nacional produtor de cana-de-açúcar, durante a Feira de Negócios do Setor de Energia (Feicana). O segmento tem enfrentado a concorrência de empresas estrangeiras no país, como a fusão entre a Shell e a Cosan. Dilma disse ver o negócio com naturalidade, diante da alta produtividade do segmento.
“Isso representa o processo de lucratividade do setor. Agora, isso não significa que o governo não acredite que o setor tenha que ser reforçado. O governo vê como muito importante o reforço aos nossos grupos privados nacionais”, disse Dilma, durante o lançamento da licitação para a construção de embarcações que irão transportar etanol na hidrovia Tietê-Paraná pela Transpetro, subsidiária da Petrobras.
A ministra não quis especificar se existe a intenção de que o governo passe a ter participação no negócio da produção, por meio da Petrobras ou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas citou que o governo pode fortalecer o setor do etanol ao aumentar a oferta de crédito e ao facilitar o acesso à tecnologia. Para Dilma, os grupos nacionais serão “estratégicos para esse salto que o setor dará nos próximos anos”. Segundo a ministra, o BNDES tem apoiado mais o setor. O banco emprestou R$ 6,5 bilhões ao segmento em 2009, assim como em 2008.
Na crise internacional, no segundo semestre de 2008, o BNDES, segundo Dilma, ofereceu capital de giro e “garantiu que não houvesse calamidade” no setor privado de etanol. Durante discurso para políticos locais e associações de empresários de etanol da região, Dilma reiterou a importância do setor para o país.
A ministra, que deixará o governo para entrar em campanha em abril, também sairá da presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Seu substituto deve ser do próprio conselho, mas o nome não foi divulgado. A ministra admitiu o erro sobre o número que citou, na segunda-feira, sobre investimentos da Petrobras até 2010 e o divulgado pela estatal, mas minimizou suas consequências. “Não me deram o número exato e eu disse R$ 85 bilhões. Isso não tem a menor importância porque o valor exato constava no plano. O próprio mercado sabe do plano”, afirmou Dilma.
Dilma evitou comentar a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando os presos políticos em Cuba a presos comuns. “Vocês não vão me tirar aqui uma crítica ao presidente nem que a vaca tussa. Sou completamente favorável ao que Lula fez na política externa. Mais do que ele disse, é o que ele fez.”
Em Cubatão, também no interior paulista, Lula criticou o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), principal rival de Dilma, sem citá-lo nominalmente. Ele ironizou o fato de Serra ter inaugurado uma maquete, na terça-feira. Na ocasião, o governador promoveu evento no litoral para apresentar o projeto, ainda sem licitação, de ponte que ligará as cidades de Santos e Guarujá. “No meu governo criamos 950 mil novos empregos de carteira profissional assinada… Vou repetir essas coisas porque estamos em um ano de campanha e percebemos que tem gente inaugurando até maquete, e nós queremos mostrar como é que as coisas acontecem neste país”, disse Lula na inauguração de uma termelétrica.
A ministra, que discursara antes, mirou na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Recebida em Cubatão aos gritos de “olê, olê olê olá, Dilma, Dilma” e bandeiras do PT circulando entre os funcionários da Petrobras presentes à cerimônia, Dilma relacionou o apagão ocorrido no país em 2001, gestão de FHC, com a falta de investimento na construção da termelétrica agora inaugurada: “O projeto dessa termelétrica data de 1996, se não me engano, uma das turbinas estava comprada (…) Obras como essa não são obras quaisquer, senão teriam feito em 96, 98 ou 99. O Brasil não tinha energia para abrir um shopping, uma padaria, tampouco fábricas”.
A construção de termelétricas é uma proposta também defendida pela adversária de Dilma na disputa presidencial, a senadora Marina Silva (PV-AC). Em entrevista ao Valor, no dia seguinte ao blecaute, em novembro do ano passado, a senadora Marina Silva (PV-AC) afirmou que a única prevenção possível para o problema é diversificação da matriz energética brasileira. Dilma, no discurso, foi categórica: “Por que gerar gás? Porque nós temos compromisso com o meio ambiente”.
O calor intenso na cidade de Cubatão levou o presidente, camisa branca encharcada de suor e gravata com listras verdes e amarelas, a fazer troça com os presentes: “Eu estou aqui sem aguentar o calor. Seria melhor se estivéssemos na beira da praia a esta hora, uma cervejinha gelada, com a ponta dos pés batendo dentro da água (…) De qualquer forma, como a gente não inaugura uma termelétrica todo dia, merecemos sofrer um pouco com o calor”.
Enquanto contabilizava as universidades e escolas técnicas inauguradas em sua gestão, Lula disse como espera que a ministra, ali presente, seja eleita sua sucessora: “A companheira Dilma que se prepare, porque é preciso fazer muito mais. Se eu fiz 214 (universidades), tem que fazer 300, 400, porque nós temos uma dívida secular com a educação brasileira”.
Por fim, Lula fez um apelo ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre o impasse que levou o Brasil a divulgar lista de retaliação a produtos norte-americanos, em resposta ao descumprimento daquele país à determinação da Organização Mundial do Comércio (OMC) pelo fim do subsídio ao algodão: “O Brasil não tem interesse em confrontação com os Estados Unidos. Mas o Brasil tem interesse que os EUA respeitem as decisões da OMC. Ou obedecemos as instituições multilaterais ou o mundo vai ficar desgovernado” (Valor, 11/3/10)