CITROSUCO E CITROVITA COSTURAM A INTEGRAÇÃO DE SUAS OPERAÇÕES

laranja_suco112Conversas envolvem toda a estrutura, exceto as terras.
Os grupos Fischer e Votorantim negociam unir suas operações no segmento de suco de laranja, onde atuam por meio das empresas Citrosuco e Citrovita, respectivamente. Fontes gabaritadas deste mercado afirmam que há conversações em curso e que elas avançaram nos dois últimos meses. Procuradas, a Citrovita afirmou que não comenta rumores de mercado e a Citrosuco não se pronunciou
O Valor apurou que o plano envolve todo o negócio de suco das empresas, incluindo fábricas, estrutura logística e pomares de laranja em produção ou em desenvolvimento nas fazendas próprias de ambas. As terras em si não estão no pacote. A ideia é criar uma nova companhia dividida em partes iguais por Fischer e Votorantim, ainda que, hoje, a Citrovita seja bem menor que a Citrosuco e tenha que ganhar musculatura para ter o mesmo peso na sociedade.
Fontes do segmento afirmam que a proposta de fusão partiu da Citrovita, e que não há data marcada para o desfecho das negociações, que poderão durar até um ano – apesar de “alguns conceitos” já estarem acordados. A gestão da nova companhia, que corre sério risco de ser vetada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) mesmo que as conversas sigam firmes, deverá ser liderada pela Citrosuco.
A Citrosuco é a segunda maior exportadora de suco de laranja do país, à frente justamente da Citrovita. Juntas, praticamente empatam com a Cutrale, tradicional líder do ranking nacional e mundial. Também forte no país, a francesa Louis Dreyfus Commodities completa o seleto grupo das quatro grandes exportadoras. O Brasil domina mais de 80% da soma entre as exportações globais do produto congelado e concentrado (FCOJ) e não concentrado (NFC), que ganha espaço desde 2003.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, em 2009, as exportações totais da Cutrale, entre suco concentrado, não concentrado e subprodutos, somaram US$ 673,3 milhões, 22% menos que em 2008. Puxadas por suco e derivados, os embarques da Fischer Comércio, Indústria e Agricultura renderam US$ 551,1 milhões, alta de 135,2%. No caso da Citrovita, foram US$ 125,2 milhões, uma retração de 26,1%.
O parque produtivo do segmento é concentrado em São Paulo, onde as indústrias têm suas fazendas próprias de laranja, seus fornecedores tercerizados da fruta para fabricação de suco e suas fábricas de processamento. Das 14 fábricas das quatro companhias instaladas no Estado, cinco são da Cutrale, e as demais empresas contam com três unidades cada.
A Citrosuco mantém fábricas nos municípios paulistas de Matão – a maior do país -, Limeira e Bebedouro, sendo que está última está desativada. As unidades da Citrovita estão nas cidades de Matão, Catanduva e Araras. A Citrosuco também tem uma fábrica nos Estados Unidos, onde a Cutrale há anos está com duas unidades e a Louis Dreyfus, uma.
Além disso, as companhias ampliaram os investimentos em suas estruturas logísticas de exportação nos últimos anos, com navios e terminais nos principais portos de mercados como EUA, Europa e Ásia. Com o avanço do suco não concentrado, que demanda mais espaço para o transporte, os investimentos em logística tiveram que ser fortalecidos.
Como disse um especialista, “a exportação de suco de laranja é, antes de tudo, um negócio de logística”, e um bom exemplo disso é o terminal da Citrosuco no porto de Ghent, no norte da Bélgica, visitado recentemente pelo Valor e fundamental para a entrada dos produtos da empresa no mercado europeu, o principal para os embarques brasileiros em geral.
No ano passado, este terminal movimentou 350 mil toneladas de suco, 20% mais que em 2008. O volume significou 30 escalas de grandes navios que atracaram no porto para descarregar o produto. Depois de descarregar, os navios voltam vazios para o Brasil. Operando desde 1982, o terminal da Citrosuco em Ghent tem capacidade de estocagem de 50 mil toneladas, entre concentrado e NFC.
No total, a Citrosuco tem quatro navios próprios, dos quais dois com capacidade para 38 mil toneladas cada e os demais para 16 mil toneladas. Por ano, 15 mil caminhões de transporte a granel refrigerados passam apenas pelo terminal da empresa em Ghent, carregando o produto para ser entregue aos clientes finais da empresa na Europa, que o engarrafam.
Parte do suco que passa por Ghent destina-se à Ásia e Austrália. No total, a Citrosuco Europe tem cerca de 150 clientes, entre Europa, Ásia e Austrália. A Citrosuco tem outros terminais logísticos para o escoamento de suco, sendo o maior deles em Santos (SP), como suas concorrentes. Outros dois terminais estão em Wilmington, nos Estados Unidos, e em Toyohashi, no Japão.
Apesar de fazer todo o sentido nesta nova era de demanda internacional por suco de laranja relativamente estável, preços vulneráveis e ganhos de escala difíceis e perdas em elos da operação qualquer aproximação entre Citrosuco e Citrovita esbarra desde já em investigações sobre uma suposta formação de cartel entre as grandes empresas exportadoras de suco.
Mantidas em pauta graças à pressão de citricultores que reclamam de prejuízos com a prática e fortalecidas pelo depoimento de um ex-executivo de uma das quatro empresas, que aceitou colaborar com as investigações graças a um acordo de leniência, as investigações devem ganhar fôlego a partir do deslacre de documentos apreendidos na sede da Citrovita durante a Operação Fanta, da Polícia Federal, em janeiro de 2006.
Esses papéis são mantidos lacrados graças a liminares, mas a expectativa é que a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça a qualquer momento consiga acesso a eles. Entrevista do ex-empresário Dino Tofini confirmando que o segmento era cartelizado na década de 90, publicada ontem na “Folha de S. Paulo”, também animou citricultores que pedem a abertura dos documentos, principalmente aqueles vinculados à Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), sediada em Bebedouro, a acreditar que o processo agora vai ganhar celeridade.
Mário Bavaresco Júnior é o principal executivo da Citrovita. Já os rumos da Citrosuco são definidos por Maria do Rosário Fischer, viúva de Carlos Guilherme Eduardo Fischer, filho do fundador Carl Fisher, já falecido. A sra. Fisher tem quatro filhas, uma delas casada com Ricardo Ermírio de Moraes, um dos herdeiros da Votorantim. Moraes já foi alto executivo da Citrosuco, mas se afastou em parte pelas questões concorrenciais (Valor, 16/3/10)