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USINA E PRODUTOR INICIAM SAFRA COM PREJUÍZO

Setor sucroenergético esperava recuperação de preços, mas cenário atual indica perda de renda para usinas e agricultores. Preço do álcool caiu 31% na porta das usinas desde meados de janeiro; açúcar perdeu um terço do valor em pouco mais de um mês.
A esperança de aumento da safra de cana-de-açúcar acompanhado de um bom rendimento começa a ficar mais distante para usinas e produtores neste ano.
A moagem cresce, principalmente devido à incorporação de novas usinas ao setor, mas a renda maior não deverá vir. Pelo menos no início de safra.
Usinas e plantadores de cana podem iniciar a safra com prejuízo. O preço do álcool, que vinha com boa remuneração, despencou nas últimas semanas e caiu 31% na porta das usinas, desde meados de janeiro.
O açúcar, que era negociado com bons preços na Bolsa de commodities de Nova York, perdeu um terço do valor em pouco mais de um mês. O cenário mudou.
“Queda de preços no início de safra é normal, mas o setor está conseguindo revogar a lei da oferta e da procura nesta entressafra”, diz Antonio de Padua, diretor da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
“Não há aumento na oferta, os preços caem e já apontam prejuízo”, diz ele. Padua se refere aos mais recentes valores de comercialização divulgados pelo Cepea, da Esalq/USP, que indicam R$ 0,8271 por litro para o álcool hidratado.
O rendimento da cana é pequeno no momento e a produção de álcool deve atingir 65 litros por tonelada de cana -o normal é acima de 80 litros.
Com R$ 0,8271 por litro, o ganho para produtores de cana e usinas ficaria em R$ 53,80 por tonelada. Desse valor, R$ 33,40 pagariam a tonelada de cana. Só o custo dos produtores é de R$ 51, diz Ismael Perina Junior, da Orplana. “Essa queda está assustando”, diz ele.
Essa mudança de cenário pode complicar ainda mais os produtores de cana, segundo Manoel Ortolan, presidente da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo).
Os produtores de cana são remunerados com base nos preços finais do produto. A queda nos preços do álcool e do açúcar afeta diretamente o setor de produção. Na safra que se encerra, os produtores conseguiram cobrir apenas os custos operacionais, mas não os totais. “Esperávamos nesta safra uma melhora na rentabilidade.”
AINDA REMUNERA
Para Arnaldo Luiz Corrêa, gestor de riscos e diretor da Archer Consulting, os preços externos do açúcar ainda são remuneradores, o que pode não ocorrer com os do álcool, se continuarem em queda.
A demanda internacional de açúcar ficou abaixo do que se esperava e, com isso, os preços recuaram de US$ 0,30 por libra-peso (454 gramas) no início de fevereiro para os atuais US$ 0,19. Mesmo assim, as usinas ainda conseguem R$ 32 por saca, na média da safra 2010/ 11, preço superior ao do custo de produção, de R$ 27,7.
O álcool já está nos custos de produção, que é de R$ 0,82 por litro, diz Corrêa.
A queda do açúcar ocorreu porque se acreditava em demanda externa maior. Os indianos, grandes importadores, estão cautelosos, e o mercado é uma incógnita para os próximos meses.
NOVA SAFRA
A moagem de cana fica próxima de 600 milhões de toneladas na região centro-sul na safra 2010/11, mostra a consultoria FCStone. Se confirmado, esse volume superará em 12% o da safra que se encerra. Já a AgraFNP estima moagem de 584 milhões (Folha de S.Paulo, 16/3/10)