Herbert Vilela, Engenheiro Agrônomo e Doutor O Brasil é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. A área cultivada atinge aproximadamente 5,5 milhões de hectares. Estima-se que 10% desta produção destina-se a alimentação animal. Assim, nesta área seriam produzidos algo em torno de 30 milhões de toneladas de forragem verde. Isto seria o suficiente para suplementar 15 milhões de bovinos durante 150 dias ao ano. Hoje, a cana-de-açúcar tem se tornado um volumoso de uso preferencial entre os pecuaristas por apresentar características tais como a possibilidade de sua conservação mediante silagem, persistência da cultura e o grande rendimento obtido em nossas condições. Contudo, a silagem obtida apresenta um alto nível de etanol alcançando valores de até 21% o que resulta em um produto que inviabiliza o processo de ensilagem devido as perdas observadas dentro e fora do silo. Tornar-se-ia importante a utilização de um aditivo biológico que promoveria uma redução na produção de álcool. Outro aspecto, diz respeito ao perfil qualitativo da cana como volumoso relacionado principalmente a digestibilidade da fibra e seu conteúdo de açúcar. Na prática, esse aspecto tem sido negligenciado como se todas as variedades de cana em qualquer tempo de seu desenvolvimento fossem iguais para a produção forrageira. Vários trabalhos mostram que este fator deve ser considerado de modo mais efetivo. Recentemente, a cultivar de cana-de-açúcar IAC 86-2480, recém obtida por processo de seleção, tem se destacado como nova opção para a finalidade forrageira com sua utilização racional para produção de leite e de carne. Esta variedade, é um híbrido interespecífico resultante de um cruzamento manual envolvendo o parental US 71-399 que recebeu pólen de uma variedade desconhecida. Algumas características importantes desta nova cultivar: - Boa produtividade (300t/ha em três anos);
- Ótimas características fenológicas;
- Resistência ao acamamento;
- Ausência de florescimento;
- Menor teor de FDN (44,18%); maior teor de açúcar;
- Maior digestibilidade “in vitro” da matéria seca durante o ano (65,90% em maio e 63,37% em agosto);
- Melhor desempenho animal quando comparada com as variedades comuns (0,890kg/dia x 0,760kg/dia).
O conceito que as melhores variedades de cana-de-açúcar forrageira seriam aquelas que apresentassem alta proporção de folhas e palmitos em relação a massa verde total (Boin et al.,1987), não tem hoje mais sustentação. Rodrigues et al. (2002) coloca como fator principal da qualidade da cana, seu teor em açúcar. Portanto, os fatores mais importantes para seleção de uma variedade forrageira seriam o seu teor em açúcar, produção de forragem (MS) e teor de fibra (FDN). A composição da planta de cana é apresentada no Quadro 1. Quadro 1 – Composição da planta de cana-de-açúcar forrageira. PARTES DA PLANTA | COMPOSIÇÃO – % | FORRAGEM VERDER | FORRAGEM SECA – MS | Colmo (caule) | 78,7 | 76 | Pontas (flecha) | 9,5 | 7,8 | Folhas verdes | 6,4 | 6,7 | Folhas secas | 3,1 | 7,3 | Bainha | 2,3 | 2,2 |
Outros fatores desejáveis são porte ereto da touceira, planta tardia, resistencia às pragas e doenças. A composição bromatológica da cana-de-açúcar torna-se importante, face aos novos conceitos sobre as características desejáveis da planta e seu valor nutritivo. A composição bromatológica da cana-de-açúcar obtida por Melo et al. (2004), com a variedade IAC86-24-80 comparada com os resultados mostrados por Landell et al. (2002), com 66 variedades é apresentada no Quadro 2. COMPONENTES | COMPOSIÇÃO | IAC (2002) | MELO et al. (2004) | MS Total (%) | 17,00-30,00 | 25,88 | PB (%) | 1,06-3,06 | 2,38 | FDN (%) | 67,70-42,56 | 43,02 | FDA (%) | – | 25,80 | LIGNINA | 4,60-8,43 | 10,74 | HEMECELULOSE | – | 17,22 | CELULOSE | – | 23,24 | NDT | – | 64,55 | CHO-SOL | 32,30-57,44 | 43,80 | DIVMS | 40,04-64,10 | 59,53 |
Segundo Nussio (2004) de modo geral uma célula de cana-de-açúcar apresenta as seguintes características, 55% de parede celular e 45% de conteúdo celular com 40 e 90% de digestibilidade respectivamente. A composição bromatológica média da cana-de-açúcar é de 26 a 34% de MS, 2,5 a 3,5% de PB, 52 a 57% de FDN, 2,5 a 5,5% de cinzas e 56 a 63% de NDT. Segundo Gooding (1982), variedades com menor teor de fibra (FDN) e lignina permitirão maior consumo de açúcar do que aquelas com maior teor de fibra. Portanto, segundo este autor é importante conhecer a relação fibra/açúcar adequada para a alimentação de ruminantes. Trabalho de Rodrigues, et al. (1997 e 2001), mostraram inicialmente, que esta relação variava de 2,3 a 3,4. Posteriormente, verificou uma variação mais larga de 2,88 a 4,14 para a ralação o FDN:POL, com 16 variedades de cana. Observaram que as melhores variedades neste sentido foram as IAC86 IV – LITERATURA CONSULTADA GOODING, E.G.B. Effect of quality of cane on its value as livestock feed. Trop. Anim. Prod., v.7, n.1, p.72-91, 1982. NUSSIO, L.G., SCHMIDT, P. Tecnologia de produção e valor alimentício de silagem de cana-de-açúcar. Reunião técnica sobre produção de silagem de capim e cana de açúcar. Piracicaba – SP. Novembro de 2004. TORRES, R.A., COSTA, J.L. Uso da cana-de-açúcar na alimentação animal. In: Simpósio de Forragicultura e Pastagens, 2, 2001, Lavras, MG. Anais… Lavras: UFLA, 2001. p.1-14. | |
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