Incertezas podem ampliar queda no plantio de trigo
Preços internacionais achatados e instabilidade na política agrícola devem contribuir para que a área plantada de trigo na atual safra no Paraná encolha ainda mais do que indicam as previsões oficiais, que apontam até agora 11% de queda.
As cotações no mercado interno estão 15% menores do que o preço mínimo pago pelo governo.
Além disso, há dúvidas se serão aprovados pelo Ministério da Agricultura os critérios de reclassificação que podem desenquadrar do padrão mínimo de qualidade uma expressiva parte da produção nacional. Por conta de todos esses fatores, algumas estimativas informais apontam para uma queda entre 15% e 20% no plantio de trigo no Paraná, o maior produtor nacional.
Na última semana de fevereiro, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado, divulgou uma intenção de plantio 11% menor que no ciclo anterior. A área cairia de 1,3 milhão de hectares na safra passada para 1,160 milhão de hectares na temporada 2009/10.
No entanto, o desestímulo para o cultivo está surgindo até em regiões onde não se esperava grandes reduções. Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), diz que, apesar de ainda não haver pesquisas oficiais, há indícios de que a queda na área pode ficar entre 15% e 20% no Estado.
Segundo ele, a região centrosul do Paraná, onde, a princípio, não havia indícios de forte redução no plantio – por não existir a opção de plantar milho safrinha em substituição ao trigo – está se mostrando fortemente desestimulada.
“Mesmo sem ter outra opção, o produtor vai sair do trigo.
Acredito que vão optar por outros cereais de inverno, como aveia, centeio e cevada”, diz.
Otmar Hubner, engenheiro agrônomo do Deral, também acredita que a tendência é de redução acima dos 11% previstos em fevereiro . “No entanto, é preciso ponderar que é uma tendência hoje. O forte do plantio se dará entre abril e maio, portanto, se até lá houver alguma alteração nos preços internacionais, tudo pode mudar”, diz. Na próxima quinta-feira, o Deral deve divulgar outro levantamento de intenção de plantio de trigo no Estado.
Eugênio Barradi, diretor-executivo da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem), diz que as vendas de sementes de trigo ainda estão lentas.
Ele afirma, porém, que o ritmo é considerado normal para esta época do ano, pois o plantio segue até maio, podendo, em algumas regiões do Paraná, se estender até junho. “Com base nas vendas, ainda não dá para inferir o tamanho da área”, diz Barradi.
Até lá, os preços é que vão dar o rumo ao plantio. Até agora, o cenário é desfavorável. A tonelada do cereal do tipo pão em Cascavel (PR) vale R$ 450 atualmente, abaixo do preço mínimo do governo, que é de R$ 530 para esse tipo de trigo, segundo a Ocepar. No mercado internacional, a alta do dólar derrubou os preços na sexta. Na bolsa de Chicago, o contrato de julho caiu 5,25 centavos, para US$ 4,9650 o bushel. Em Kansas, contrato com o mesmo vencimento caiu 2,75 centavos, para US$ 5,03.
O temor dos produtores de trigo, segundo Hubner, é de que até a política de preço mínimo, que é a única que remunera o custo de produção, sofra alterações neste ano. Isso porque está em consulta pública até 1o de abril propostado governo de alterar os parâmetros de classificação do cereal e que podem desenquadrar uma parcela elevada do trigo nacional.
Atualmente, para ser considerado trigo de qualidade mínima para uso humano, o cereal tem que ter 50 jaules de força de glúten. O governo quer elevar esse indicador para 160, e a contraproposta em estudo hoje no Paraná é de usar o parâmetro de 80 jaules.
Fabiana Batista
Fonte: Valor Ecoômico