Agrogestão 2010 – Possibilidades e alternativas em energias sustentáveis
Uma das formas de se resolver os problemas ambientais é rever uma boa parte da matriz energética utilizada até o momento. Por essa razão surgiu o desenvolvimento das energias alternativas ou renováveis, que são obtidas de fontes naturais. No Brasil existem diversas alternativas para adoção de energias sustentáveis. As energias alternativas têm o potencial de atender a maior parte da demanda crescente por energia, porém, o grande desafio é a adequação a necessidade do produtor.
Nesta entrevista, o PhD em engenharia química pelo MIT – Massachusetts Institute of Technology, Sergio Trindade, palestrante do recém-encerrado AgroGestão, fala sobre o potencial da energia eólica no Brasil, fala sobre as possibilidades e alternativas de energias sustentáveis no país. Trindade foi co-laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 2007, como membro do Painel Internacional de Mudança Climática – IPCC, é consultor internacional em meio ambiente, energia e negócios baseados em tecnologia, além de ser um dos maiores especialistas internacionais em energia alternativa
A Energia Eólica é uma boa alternativa?
Sérgio Trindade – No Brasil a energia eólica é mínima, existe no Rio Grande do Sul e no Ceará, alguns megawats. No ponto de vista global é a energia cujo custo está mais próximo da energia convencional. Em outras palavras, é a alternativa que mais se aproxima de um custo competitivo, mas ainda está longe do ideal.
Quais são os países que mais utilizam a energia eólica?
Trindade – A Dinamarca e a Alemanha são os países que mais utilizam, sendo 20% e 10%, respectivamente, da energia que o país consome. Evidente que isso acontece porque existem apoios e incentivos para a implantação desses projetos que possuem alto custo.
O Brasil possui tecnologia para desenvolver esses equipamentos?
Trindade – O Brasil não possui essa tecnologia. Os principais nesse ramo são Dinamarca e Alemanha, mas eu cito a Espanha e os Estados Unidos também como principais. No Brasil, quando a Petrobrás implanta, utiliza equipamentos importados.
O Etanol brasileiro é um caso de sucesso?
Trindade – O etanol, no caso brasileiro, já é competitivo com a gasolina. Na verdade, o etanol brasileiro é o único do mundo, a única fonte de energia alternativa que compete de igual para igual com o petróleo. Todos os outros, inclusive a energia eólica ainda não são competitivos.
O que acontece quando falta Etanol no mercado brasileiro?
Trindade – Os principais players mundiais na produção de açúcar são: União Europeia, Brasil, Índia, Austrália e Tailândia. O que acontece é que a safra de cana de açúcar da Índia depende do regime de chuvas derivado das monções, que são fenômenos naturais que acontecem todos os anos naquela região durante os meses de junho até outubro. Quando essas monções falham, e é preciso dizer que a agricultura da Índia não é irrigada, portanto depende da chuva, então falha a safra. O problema é que houve duas safras seguidas de falhas nas monções e isso é uma oportunidade para o Brasil exportar açúcar num bom preço. No caso brasileiro é possível arbitrar a produção entre etanol e açúcar e ganhar mais dinheiro no curto prazo, mas por consequência, resulta na redução da produção do etanol.
Em função da falta de álcool, a população acaba não podendo contribuir com a diminuição das emissões, como fica essa situação?
Trindade – A gasolina brasileira é uma mistura de 25% de etanol, então ao usar gasolina você está contribuindo com a sustentabilidade. Aliás, os carros chamados Flex aqui, do ponto de vista nacional, podem não serem otimizados. Os carros flex podem usar uma variação de combustíveis, mas você não pode otimizar o motor para todas as composições de combustível. Como a composição é definida pelo usuário, as fábricas não tem como otimizar o motor para todas as combinações possíveis. Então o que acontece é que normalmente o proprietário abastece o carro só com álcool, e o carro provavelmente não está utilizando adequadamente. Ele está utilizando mais álcool do que precisava, o que no país como um todo representa disperdício, e o disperdício nunca é bom para a sustentabilidade.
Os biodigestores são uma boa opção para pequenos agricultores?
Trindade – Você tem tecnologia de biodigestores de todos os preços, vai depender do grau de tecnologia que você vai escolher. Em outras palavras, a tecnologia tem que ser ajustada ao poder de compra do usuário, então acho que a ideia é positiva, porque você utiliza o que se chama de desperdício em matéria prima, isso é bom para a sustentabilidade. O que precisa acontecer é a adequação a necessidade do usuário, porque muitas vezes o GLP (conhecido como gás de cozinha) é mais barato e prático, então tem que ter um sistema que satisfaça integralmente o usuário. Do contrário não vai dar certo.
MARCOS A. BEDIN
Registro de jornalista profissional MTE SC-00085-JP
Matrícula SJPSC 0172