GRUBISICH NEGA NEGOCIAÇÕES PARA ASSOCIAÇÃO ENTRE ETH E PETROBRAS

Mais de um mês após anunciar a incorporação da Brenco, José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia, aguarda a finalização dos trâmites legais para concluir a operação. Ele se refere, principalmente, à autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica para transferir o controle dos contratos da Brenco de venda de energia elétrica nos leilões do governo e ao parecer do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Espera ainda o fim do processo de capitalização do negócio, sobretudo dos acionistas da Brenco, que se comprometeram a adicionar R$ 655 milhões ao projeto.
Apesar dos rumores do mercado, Grubisich, em entrevista exclusiva ao Valor, nega veementemente que esteja negociando – ou que tenha iniciado conversas – para uma associação com a Petrobras.
E admite que, evidentemente, a ETH não está alheia ao fato de que é possível que a Petrobras se posicione na produção de álcool. “A verticalização em um mercado consumidor de álcool como o do Brasil é estratégico para quem está em distribuição de combustíveis. O consumo já é maior do que o da gasolina”. As empresas de petróleo estão tentando manter um pé na produção de combustíveis renováveis, pois a tendência é que o consumo de combustíveis fósseis no mundo fique estagnado, enquanto a demanda será atendida por outras fontes de energia.
No entanto, com a tranquilidade típica de um bom negociador, Grubisich afirma: “buscar uma associação não é nossa prioridade no momento. O foco é concluir o processo com a Brenco e construir as usinas. O capital para fazer isso já está garantido”, diz Grubisich.
O grupo Odebrecht, do qual a ETH é controlada, tem um longo relacionamento com a estatal. Relacionamento que data ainda da década de 50, quando a Petrobras foi criada. Grandes parcerias foram feitas ao longo de décadas entre as duas empresas, desde a implantação de plataformas marítimas e até do próprio edifício-sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, ainda no fim da década de 60. Destacam-se ainda acordos mais estratégicos, como a união no projeto da gigante petroquímica Braskem. Por essas e outras se fortalece a expectativa de associação entre a ETH e a Petrobras Biocombustíveis.
A estatal, que tem a exploração do pré-sal como prioridade, foi surpreendida este ano com o anúncio da associação entre a brasileira Cosan, maior produtora de açúcar e álcool do mundo, e a anglo-holandesa Shell. Um mês antes a Petrobras anunciara a compra de 40% de uma isolada usina mineira (Usina Total).
A ETH Bioenergia traz claramente um projeto alcooleiro de dimensões e perfil que, até o momento, não encontra concorrentes. Apesar de metade das usinas previstas ainda não estarem construídas e gerando caixa, a “promessa” carrega consigo a expectativa positiva criada a partir da capacidade financeira do grupo Odebrecht.
A partir da incorporação da Brenco, liderada até então pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul, a nova ETH Bioenergia espera até 2012 processar 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, produzir 3 bilhões de litros de etanol e 2.700 gigawatts-hora de energia. Por enquanto, em 2010, a situação é de dívida da ordem de R$ 2,5 bilhões, moagem, entre 10 e 11 milhões de toneladas de cana e faturamento de até R$ 1,4 bilhão.
A empresa aguarda agora o fim do processo de capitalização dos acionistas da Brenco, da própria Odebrecht, além da liberação dos recursos aprovados em instituições financeiras. “Nossa estrutura de financiamento é de 40% de capital próprio e 60% de dívida”, reforça Grubisich. Desde que foram criadas, em 2008, as duas empresas já receberam aportes de R$ 3,5 bilhões e, deste ano até 2012, mais R$ 3,8 bilhões serão aplicados para concluir as outras cinco usinas. Quatro usinas estão em operação, considerando a Eldorado (MS), inaugurada ontem.
Grubisich afirma que ainda não está decidido o quadro de executivos. “Certamente haverá duplicidade de funções”. Até o momento foi definido que o conselho de administração terá dez integrantes, sendo 7 da Odebrecht e da japonesa Sojitz Corporation e os outros do BNDESPar, Ashmore e Tarpon (Valor, 25/3/10)