Cultivo de uva no Cerrado: solo trabalhoso e fruta mais doce

uva-1-500-x-375Típica das regiões frias, a uva tem se expandido pelo país e mostra que aguenta bem temperaturas elevadas. O exemplo disto são os bons resultados que estão aparecendo com o cultivo, relativamente recente, da fruta no Cerrado. A exemplo da experiência do noroeste de São Paulo, Goiás também prolifera a viticultura. Os números de produtividade na região são de 30 a 35 toneladas de uva por hectare e, segundo pesquisadores, por conta das poucas chuvas, o resultado é uma fruta mais doce.

Na região do Cerrado é possível você produzir uva em uma condição em que você tem clima quente com pouca chuva e, dessa forma, você consegue uma doçura bem superior à da serra gaúcha. Essa diferença se dá devido ao clima. Este ano, por exemplo, a serra gaúcha teve chuvas bem acima do normal, o que prejudicou bastante a maturação das uvas. Muitas variedades não conseguiram atingir o nível de açúcar necessário e esse problema de chuvas dificilmente ocorre no cerrado. Não há diferenças consideráveis em relação a características físicas como coloração, tamanho da fruta ou tamanho de vara — explica o especialista em viticultura tropical João Dimas Garcia Maia, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho.
 
A cultura chegou a Goiás há quase dez anos e já se concentra em três pólos regionais: Itarumã, Itaberaí e Paraúnas. O solo é apto ao cultivo, mas, por sua baixa fertilidade, deve ser mais trabalhado pelos viticultores. Segundo o pesquisador, é preciso que o produtor faça a calagem, com aplicação de calcário, e uma boa correção nos teores de nutriente, principalmente fósforo e boro. Ele alerta que as correções devem ser feitas em toda a área produtiva da propriedade, porque sem elas não se consegue um plantio viável no cerrado. Para melhorar a qualidade do solo, o especialista também recomenda o uso do esterco de gado nas áreas de plantio. Como a região do cerrado é rica em produção de gado, o esterco pode ser uma ótima solução.
 
Outra preocupação que o viticultor do cerrado deve ter em mente são as doenças que atingem a parreira. Dimas explica que existem três doenças preocupantes que atingem a uva rústica na região: o míldio, que ataca a folha e também os cachos, a ferrugem da videira e a requeima das folhas. Além de desfolharem as plantas precocemente, também prejudicam a maturação das uvas, o que provoca aumento de acidez e diminuição do teor de açúcar.
 
João Dimas chama a atenção do produtor para um cuidado interessante tanto para a prevenção de doenças quanto para a garantia de boa qualidade da fruta. Ele alerta que, atrás de alta produtividade, o viticultor pode acabar sacrificando a qualidade da sua uva. Ele recomenda que o produtor faça desbrota quando perceber que a produtividade pode ser acima do normal para que o sabor e a coloração das uvas sejam adequados.
 
O que se busca é um equilíbrio entre uma produtividade boa e uma uva de qualidade com bom teor de açúcar, acidez não muito elevada e coloração típica da variedade, seja para mesa ou para vinho. Já se conseguiu produtividade acima de 35 toneladas por hectare, mas o que se observa é que quando se atinge uma produtividade muito elevada a qualidade da uva é prejudicada. É recomendada a desbrota para retirar o excesso de cacho. Você tem que dar condições para que a uva consiga, após madura, ter a coloração típica da variedade. Se você deixar um excesso de carga, a tendência é que ela fique com uma coloração muito fraca, que perde em preço de venda. Além disso, com produtividade excessiva, às vezes acima de 40 toneladas, a planta fica mais sensível a doenças, tornando mais difícil o controle produtivo — ensina.
 
Em relação ao manejo, o recomendado é que se aplique o mesmo que é utilizado no noroeste de São Paulo: duas podas durante o ano, uma para a formação de ramos e outra para produção das uvas. Dimas diz que hoje já é possível obter produção nas duas podas, no entanto a qualidade pode ser sacrificado. A segunda poda é mais benéfica para a produção de uvas por conta das chuvas, que são menos intensas. Segundo o pesquisador, no período das secas as uvas são mais sadias e de melhor qualidade e menor acidez.

Embrapa Uva e Vinho