DEBATE DO CÓDIGO FLORESTAL TERÁ EXECUTIVOS DE MULTINACIONAIS QUE FINANCIAM ONGS
A bancada ruralista cumpriu ontem a ameaça de pressionar os financiadores das ONGs ambientalistas que iniciaram uma campanha para travar alterações no Código Florestal Brasileiro, em vigor desde 1965.
O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator da comissão especial de reforma das leis ambientais, apresentou proposta para convidar dirigentes de cinco empresas a debater as modificações em audiência pública na Câmara. Coordenador da recém-criada Frente Parlamentar Nacionalista, Rebelo acusa ONGs de representar interesses estrangeiros contrários à produção nacional.
Os primeiros convidados serão executivos de Bradesco, Volkswagen, Coca-Cola, Colgate-Palmolive e American Express, identificadas como financiadoras da Fundação SOS Mata Atlântica. A ONG lidera a campanha “Exterminadores do Futuro”, criada para listar os parlamentares mais ativos nos debates em favor de alterações das atuais regras ambientais do país. “Vamos discutir e debater as causas e consequências da alteração do Código Florestal com os financiadores para que esta Casa possa adotar um posicionamento mais efetivo em relação ao assunto”, disse Rebelo.
A feroz disputa entre ruralistas e ambientalistas teve mais um capítulo ontem, durante audiência na Comissão da Amazônia. Ao questionar a realização do debate sobre a alteração do Código Florestal em outra comissão, o deputado Ivan Valente (P-Sol-SP) acusou colegas ruralistas de viajar pelo Brasil às custas de empresas do agronegócio. “Não viajo por aí porque não tenho financiamento do agronegócio”, provocou Valente, aliado dos ambientalistas, em referência às mais de 30 viagens feitas pelos ruralistas para a realização de audiências públicas nos Estados.
À mesa, Rebelo reagiu indignado: “Vossa Excelência dê-se o respeito porque aqui ninguém viaja ou visita financiado pelo agronegócio. Viajamos em avião da FAB”. Valente retrucou: “Quero respeito de vocês”, disse. “Você tem um histórico, Aldo. Tem que cuidar com que relatório vai fazer”. A discussão ficou mais quente com a intervenção do presidente da comissão, Moacir Micheletto (PMDB-PR). “É mentira”, disse. “Repudio isso. Nunca viajamos em avião particular. Sempre fomos de FAB e nada de hotéis 5 estrelas. Essas despesas são pagas com a verba de gabinete de cada um”. No fim da sessão, o líder ruralista, Valdir Colatto (PMDB-SC), desafiou Valente: “Ele fez acusação e terá que provar”.
As rusgas entre as bancadas ficaram mais acirradas ontem. Até então solitário no plenário, Valente ganhou o apoio do ambientalista Ricardo Trípoli (PSDB-SP). “Há uma esquizofrenia nessas acusações de desocupados contra exterminadores”, disse. “Estamos perdendo a percepção do macro. Vocês estão dando um tiro no pé, porque a floresta vale muito mais em pé do que derrubada”. O auxílio do colega revigorou Valente. Ele voltou a cobrar a manutenção de conceitos de áreas de reserva legal e de preservação permanente, como matas ciliares, no relatório de Rebelo. “Se querem desmatamento zero, porque tirar a reserva legal de 80% na Amazônia?”, questionou.
Em sua apresentação, Rebelo afirmou ser “ignorante” em questões ambientais, mas deu uma aula sobre o processo histórico de ocupação e de produção secular da Amazônia. Citou a resistência do líder indígena Ajuricaba à tentativa de escravidão pelos colonizadores portugueses e o destemor do militar gaúcho Plácido de Castro durante a Revolução Acreana, em 1902, na guerra contra a Bolívia pelo controle das terras hoje ocupadas pelo Estado do Acre. Rebelo criticou os interesses estrangeiros em espoliar a biodiversidade nacional com a prospecção de materiais genéticos e reivindicou a construção de estradas polêmicas, como as BRs 319 (Manaus-Porto Velho) e 163 (Cuiabá-Santarém), para integrar a Amazônia ao Centro-Sul. “É possível proteger o meio ambiente, mas a Amazônia tem direito à legítima aspiração de não viver isolada”, afirmou o relator da reforma das leis ambientais (Valor, 25/3/10)
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