Como escolher um bom cavalo de lida e quais os cuidados básicos com ele?

cavaO cavalo de trabalho, numa fazenda de pecuária de corte ou de leite, pode não ser o ator principal, mas, com certeza, sem ele o show não aconteceria. Analogias à parte, ter uma boa tropa e cuidados básicos com ela é essencial no bom funcionamento de uma fazenda.
O primeiro ponto na hora de adquirir um animal para este tipo de serviço é qual o objetivo: sela ou tração? O cavalo que irá lidar com o gado deve ser um bom animal de sela e aquele que irá trabalhar com carroça ou arado tem que ter a força de um animal de tração. Um bom animal de sela deve ser mediolíneo (relação entre o comprimento do corpo do ombro até a nádega e a altura de cernelha), o que facilita a transmissão de forças de propulsão no cavalo. Deve ter também ter um bom arqueamento de costelas, que não o deixe muito fino e nem muito largo, permitindo que as pernas do cavaleiro se fixem de maneira adequada no animal e que o cavalo tenha uma boa condição cardiorrespiratória, já que a caixa torácica abriga o coração e os pulmões.
O cavalo de sela tem as regiões zootécnicas mais bem definidas em relação à forma, tamanho e proporções, o que tem uma ligação direta com a liberdade de movimento que ele deve ter. É mais esguio, tem os ossos mais finos e tendões bem demarcados com articulações descarnadas. A pele mais fina facilita a transmissão dos comandos de perna do cavaleiro e a troca de calor com o ambiente, o que é bom, mas por outro lado, é mais sensível e propensa à formação de feridas.
Já um animal para tração, que irá trabalhar puxando pesos consideráveis (sem excessos, é claro!), deve ser mais curto, ou seja, breviolíneo, e ter os membros mais curtos e, consequentemente, o vazio subersternal de menor tamanho. Possui ossos robustos, tendões e articulações menos perceptíveis e pele mais grossa. Ambos os tipos devem ser de boa índole, devem ter boas angulações e bons aprumos. O temperamento do animal, que é a reação do indivíduo a estímulos externos (leia-se, no caso, estímulos do cavaleiro/condutor), é uma característica de caráter hereditário e pode ser: sanguíneo, muito reativo; linfático, pouco reativo e ativo, intermediário. Devido à sua maior rusticidade, muares são adaptados a diversas condições de ambiente, áreas íngremes e rochosas, e aos ecto e endoparasitas. Lembre-se sempre que, se a sua região é alagadiça, como, por exemplo, o Pantanal, o cavalo DEVE ser da raça Pantaneiro, pois só os cascos desses animais agüentam estar frequentemente submersos.
Definido o objetivo, o próximo item a ser observado é o estado de saúde do cavalo. Um animal doente não terá condições de realizar um trabalho que exige tanto como a lida em uma fazenda. Levar um técnico especializado na hora de efetuar a compra é o mais indicado. O exame completo do eqüino deve ser realizado observando-se visão, dentição, audição, ausência de claudicações, entre outros. Cleyton Eustáquio, médico veterinário, professor de Clínica de Eqüídeos da FEAD, em Belo Horizonte, dá algumas dicas:
– O exame de anemia infecciosa eqüina deve ser exigido, não só para não adquirir um animal de baixa performance, como também para evitar o risco de contágio aos outros animais da tropa. O estudante de veterinária, Lucas Gonçalves, ressalta ainda que o exame de anemia deve ser acompanhado ou coletado pelo comprador. É importante ressaltar que a AIE é uma doença controlada pelo Ministério da Agricultura e o sacrifício dos animais doentes é obrigatório;
– Entrar com banho carrapaticida e vermifugar antes de entrar com o animal na propriedade;
– Vacinar contra raiva e tétano, mesmo que o proprietário anterior garanta que já foi feito, devido à gravidade destas doenças que são, inclusive, zoonoses;
Outro quesito, não menos importante, é a observação do adestramento do cavalo, no qual ele deve atender prontamente aos comandos do cavaleiro. É bom lembrar que é preciso que a doma de um animal com essa finalidade aconteça mais tarde, acima de 3 anos e meio, para que ele tenha saúde e, assim, maior longevidade. Com essa idade, tanto a coluna quanto as articulações do cavalo já estão maduras.
Cuidados básicos
Não só para que sua tropa tenha maior vida útil, mas também por respeito a um animal que está lhe prestando um serviço, alguns cuidados mínimos são indispensáveis.
Alimentação:
Para se ter um bom rendimento desses animais e diminuir os problemas de saúde, uma boa nutrição é essencial. Na alimentação, é de extrema importância que o sal mineral seja específico para eqüinos, visto que as exigências desta espécie são bem diferentes das dos bovinos. Além disso, como o eqüino perde muito sódio e potássio no suor, a necessidade de NACL é redobrada. O eqüino é um animal que tem um apetite bastante seletivo e não come Braquiária (exceto a Braquiária do Brejo), portanto, não se iluda se sua propriedade tiver ótimas pastagens deste tipo. É muito importante também observar a relação Ca/P da forrageira e suplementar, pois o desbalanço desses minerais causa reabsorção óssea, refletida em um problema conhecido como cara inchada. Claudicações intermitentes também são observadas nestes casos. Muito cuidado com silagens e cana, pois fermentam muito rápido e o risco de cólica é real. O fornecimento de ração pode ser necessário para que as necessidades energéticas sejam supridas.
Controle de parasitas:
O Amblyoma Cajennense, carrapato que parasita os eqüinos, é trioxeno, ou seja, troca de hospedeiro 3 vezes com espaços de 7 dias. O controle estratégico se baseia neste ciclo e devem ser feitos banhos carrapaticidas com produtos piretróides de 7 em 7 dias de maio a setembro.Assim, se fecha todo o ciclo com banhos semanais. Banhar os animais ao amanhecer ou ao anoitecer para evitar o risco de intoxicação. A vermifugação deve ser feita, no mínimo,na entrada e na saída das águas. A ivermectina deve ser complementada com outras bases como o praziquantel, por exemplo, pois ela não atinge os vermes chatos, fazendo, portanto, uma vermifugação incompleta. O ideal, até mesmo como forma de economia, é que se realize um exame de OPG das fezes dos animais para avaliar se é necessária a vermifugação ou não.Esse exame deve ser feito por um laboratório ou  por  veterinário particular. Se a tropa for muito grande, pode ser feito um pool de fezes de uma amostragem dos animais.
Cuidados gerais:
Como os instrumentos de trabalho dos eqüinos são os cascos, atenção especial deve ser dada a eles. Limpeza diária e casqueamento em dia são necessários. A limpeza evita a podridão dos cascos e o casqueamento, rachaduras. O ferrageamento é indicado como uma proteção extra aos cascos, devido à alta carga de trabalho e também no caso de terrenos muito pedregosos. A qualquer sinal de manqueira é preciso que o cavalo seja afastado do trabalho até que o problema seja resolvido. Procurar um veterinário para exame e indicação do melhor tratamento. Com relação às pisaduras, é recomendado que a ferida seja tratada e se evite o uso do animal até a cicatrização da mesma, pois esta pode se tornar crônica ao ponto de o epitélio não mais se regenerar no local. Para evitá-las, o cuidado com a tralha é o ponto chave. Feridas em eqüinos devem ser tapadas (curativo e repelente ou ungüento) devido à presença de moscas, que podem levar à formação de tecido de granulação exuberante no local. A escovação diária retira a poeira e protege a pele do animal, assim como uma boa ducha depois do dia de trabalho.
Conclusões
Ter uma boa tropa, então, não é só questão escolha na hora da aquisição, mas principalmente de cuidados com a saúde e o bem estar da mesma. Lembrando que o tamanho da tropa deve ser em um número tal que permita um revezamento entre os animais, já que ninguém é de ferro. Uma ótima idéia é que cada funcionário seja responsável pelo cavalo que utiliza, já que este é o seu instrumento de trabalho. Sem necessidade de luxos, mas sim de respeito!
*Gostaríamos de agradecer aos técnicos que nos ajudaram com informações preciosas neste artigo: Élvia Vieira (Contato: (31) 9795-7991), Rachel (Contato: 9613-7762), Prof.Cleyton Eustáquio (Contato: (31) 9951-7254) e Lucas Gonçalves (Contato: 9669-5920).