Trigo encalhado

 

trigoO Rio Grande do Sul colheu quase 1,9 milhão de toneladas de trigo na safra passada. Mas, depois de cinco meses da colheita do produto, o mercado continua parado. Os agricultores reclamam que o preço está muito baixo e mesmo assim não há comprador. 
O agricultor Décio Teixeira ainda não comercializou mais da metade da produção de trigo colhida no ano passado. Os silos da propriedade em Cruz Alta, no noroeste gaúcho, antes ocupados com o cereal, tiveram que ser esvaziados para dar lugar à soja recém colhida. A operação pesou no bolso do agricultor. 
“Tem despesa de frete e tem despesa de armazenagem. A gente podia ter vendido há muito tempo esse trigo. Desde novembro até agora são praticamente meses que não consegue fazer nada com o trigo”, reclamou seu Décio. 
Em todo o Estado, aproximadamente 300 mil toneladas de trigo ainda estão estocadas à espera de comprador. O problema é que o cereal acaba tirando espaço, por exemplo, da soja, que está em plena colheita. Em algumas unidades da Cesa, Companhia Estadual de Silos e Armazéns, a capacidade de armazenamento já está no limite. 
Esse é o caso da Cesa de Santo Ângelo, que está quase sem espaço para receber grãos. As 22 mil toneladas do trigo que deixaram de ser vendidas ocupam quase todo o armazém. 
“Hoje, ele está com 80% da capacidade tomada por trigo e só vamos conseguir receber a safra de soja na medida em que for saindo o trigo nessas unidades armazenadoras”, explicou Celso Barcellos, gerente da Cesa. 
Para o analista de mercado Anibal Bastos, o reflexo do problema vivido pelos produtores de trigo deve aparecer na próxima safra, que começa no mês que vem. Pelo segundo ano consecutivo, o Rio Grande do Sul pode ter uma redução significativa na área cultivada com a principal cultura de inverno. 
“A tendência é coisa de 20 a 30% de diminuição de área. o preço mínimo existe, mas nós precisamos que seja adquirida através de AGF e contratos de opções”, falou Bastos. 
A saca de 60 quilos de trigo está cotada a R$ 24,00 no Rio Grande do Sul. São quase R$ 8,00 a menos que o preço mínimo estabelecido pelo governo, que é R$ 31,80. 
Na sexta-feira, o Ministério da Agricultura anunciou a liberação de R$ 71 milhões para a compra de trigo por meio do programa AGF, Aquisição do Governo Federal. O valor será dividido entre os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
 

12/04/2010

Fonte:Globo Online