Trigo vai "imitar" o arroz e terá novo padrão de qualidade

 
trigo1A definição do padrão oficial de classificação que já está em vigor para o arroz deve chegar ao trigo até o início de abril. O projeto de Instrução Normativa (IN) do cereal está, desde segunda-feira, em consulta pública por 30 dias.
Segundo Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, como no arroz, a regulamentação do trigo deve ser mais rigorosa. “Hoje apenas o ph [peso hectolítrico – quantos quilos de trigo cabem em 100 litros] é considerado como indicação de qualidade “, diz.
A revisão da Instrução Normativa nº 07/2001 em vigor para o trigo, que define o padrão oficial, deve incluir também amostragem, modo de apresentação, e marcação ou rotulagem, requisitos de identidade e qualidade.
Insatisfeitos com as novas regras para o arroz, representantes do setor estiveram ontem em Brasília para reivindicar prorrogação da IN nº 6. O ministro da Agricultura Reinhold Stephanes não estendeu a data de vigência, mas reconsiderou divergências quanto a limites de tolerância.
De acordo com Maurício Fischer, presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), o setor saiu parcialmente vitorioso. “O bom senso imperou e a IN será reformulada nesta semana”, diz.
Para o presidente, outro motivo de comemoração é o avanço da solicitação de recurso de R$ 175 milhões para os produtores que sofreram perdas com o excesso de chuva no estado. “Stephanes já encaminhou o documento para a Casa Civil. Agora só depende da Dilma”, diz.
O próximo passo para que o auxílio fixado em 10 anos para pagamento, com três de carência, chegue ao rizicultor é ser aprovado pelo Conselho Monetário, além da Casa Civil. “Vamos fazer pressão”, afirma Fischer.
Quanto as normas, segundo Fischer, alguns itens da IN nº 6 eram contrárias às da Câmara Setorial do Arroz. O nível de tolerância para a incidência de arroz vermelho de 1,5% sugerido pela câmara deve tomar lugar do 1% da nova classificação. O mesmo acontece com o percentual de incidência do amarelo, de 0,5% da IN para 1% da câmara. Além do parâmetro do gessado, de 2% imposto pela IN para 1% do setor.
Mesmo assim, o rizicultor vai ter de se adequar às determinações. Para Fischer não existe cálculo capaz de projetar o impacto da IN nº 6 nos custos de produção, mas uma força-tarefa das instituições como do ministério será mobilizada nesta safra para levantamento dos possíveis prejuízos e aumento de custo.
De acordo com o analista, as chuvas que devastaram as plantações de arroz no sul já respondem por aumento de custo de produção. “Muitos [produtores] tiveram que replantar.”
Levantamento do Irga aponta um custo total de produção de R$ 4.024,68 por hectare de arroz.
Othelo Jair Pinotti, produtor há mais de 40 ano da região de Uruguaiana, considera a nova padronização do arroz desvalorização do produto. “Vejo como uma puxada de tapete”, afirma.
De acordo com Pinotti, os produtores trabalhavam com uma classificação de impureza de 2% a 2,5% aceita pelas indústrias. “Agora querem descontar. Vão baixar preço pela rigidez da regulamentação”, prevê.
Segundo Bento, na safra passada, o valor mínimo da saca de 50 quilos de arroz estava fixado a R$ 25,80. Para este ano, a estimativa é de ajuste de 20%, ou R$ 30,96 para produtos com até 59% de quebrados. “Hoje, o mercado paga algo em torno de R$ 28 e R$ 29”, diz.
De acordo com o produtor a safra de arroz da Região Sul sofreu uma quebra de 20% a 30%, se comparada a números do ano passado em função da diversidade climática. O Rio Grande do Sul é responsável por 60% da produção nacional de arroz. Dados do Irga estimam que os municípios de Agudo, Cachoeira do Sul e Restinga Seca, na região da Depressão Central perderam 50% de suas produções. O montante total chegaria a um milhão de toneladas. “Vamos ter de nos adequar. Isso não pode ser assim. Precisamos de um tempo”, diz Pinotti.
Para Bento, as normas que visam qualidade elevada tanto para o trigo quanto para o arroz são importantes. “Toda adaptação gera custo, mas mais para frente o produtor será mais remunerado por oferecer um produto de melhor qualidade”, afirma.
A IN nº 6, segundo o analista, já foi prorrogada por um ano. O prazo inicial para entrar em vigor venceu em 2009.
 

03/03/2010

Fonte:DCI