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Alimentação de eqüinos com volumosos

Herbert Vilela
Engenheiro Agrônomo, Doutor

I – Introdução

O aproveitamento de alimentos volumosos grosseiros para eqüinos, como suplementos da pastagem, durante o período da estação de seca, tem aumentado ultimamente, seja pelo alto custo dos concentrados, seja pelo alto custo de volumosos mais nobres (silagem de milho de sorgo, feno de leguminosas, etc.). O aproveitamento de alimentos volumosos grosseiros pode ser feito através de tratamentos químicos (uréia, amônia líquida, etc), que melhoram a digestibilidade do alimento ou por tratamentos físicos como o uso de aditivos por meio de uma substancia palatablizante como o melaço, com o fim de aumentar o consumo do alimento ou mesmo usar outras alternativas de alimento mais nobres, contudo com menor custo, como silagem de capim nobre. Por outro lado, 100% dos Haras no Estado de Minas Gerais utilizam como volumoso para suplementar na época da seca, feno de gramínea [Tyfton ou Coast cross (Cynodon)], ou capim elefante passado e/ou cana de açúcar. De um modo geral, estes volumosos são de baixa qualidade, ora por falhas em suas confecções, ora por erros no manejo de uso. Estes mesmo produtores, usam alguma variedade do capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum cv(s), Napier, ou Mercker, ou Mineiro, ou Cameron, ou Vruckvona, etc.) na forma picada, às vezes associada à cana-de-açúcar ou não. Considerando o baixo consumo deste alimento volumoso suplementar pelo eqüídeo, seja pela baixa apetecibilidade, seja pela menor digestibilidade, tem-se como resultado uma queda brusca na produtividade dos animais, durante o período de seca. Por estas razões a silagem de capim nobre vem gradativamente substituindo estes alimentos volumosos na suplementação de pastagens.

II – Comportamento do eqüino em pastejo

Manejar pastagens para eqüinos é difícil por causa de seu hábito seletivo. O animal ajusta seu comportamento de pastejo de acordo com a disponibilidade da fração preferida da forragem e sua distribuição espacial. Observa-se, também que eles usam determinadas áreas para alimentação e outras para excreção (comportamento eliminativo). O comportamento eliminativo consiste no ato de marcar território através de fezes e urina. Este tipo de comportamento é observado principalmente em garanhões, em áreas pequenas. Garanhões mantidos em piquetes pequenos freqüentemente defecam sobre suas próprias fezes, produzindo grandes pilhas de fezes localizadas ao longo da divisa de território, portanto, cavalos mantidos em áreas pequenas chegam a perder cerca de 90% do pasto disponível através do comportamento eliminativo (ARCHER, 1977).
O comportamento de pastejo dos eqüinos é influenciado por fatores externos e internos. Fatores externos incluem clima, estação do ano, sistema de manejo, estrutura, disponibilidade e digestibilidade das pastagens, presença de fezes e fatores sociais, enquanto fatores internos incluem seletividade, requerimentos nutricionais (categoria animal), tamanho e freqüência de bocada, idade, sexo e conhecimento do pasto pelo animal (CARSON & WOOD-GUSH, 1983). Considerando que as pastagens tropicais têm uma produção variável, o consumo de forragens por animal em pastejo é proporcional ao período gasto pastejando. O consumo de matéria seca de animais em pastejo é o produto de três componentes distintos e interrelacionados: período de pastejo, consumo de matéria seca por bocada e freqüência de bocada, onde os três componentes são variáveis de acordo com a estrutura e cobertura do pasto.
eqüinos pastejam durante 10 a 12 horas/dia, em turnos de 2 a 3 hs (MANNETJE & EBERSOHON, 1980; RALSTON, 1984). Turnos de pastejo são separados por períodos de descanso e de atividades de locomoção e social. Portanto, a duração e freqüência dos turnos de pastejo são influenciadas pela qualidade das forragens disponíveis e fatores climáticos.
Os pastos naturais são aqueles que não foram formados pelo homem e que portanto, não foram planejados. Neste tipo de pasto podem crescer até 100 diferentes espécies diferentes de plantas, entre gramíneas nativas, ervas, leguminosas nativas, etc. Na sub-região do Abobral, Corumbá, MS, foram observadas taxas de bocadas de cavalos adultos em áreas de ‘baixadas’ e nas áreas de ‘campo limpo’, a média foi de 46 bocadas/minuto e o tamanho da bocada, especialmente para as espécies de porte baixo foi de 0,21g, enquanto que em ‘campo limpo’ a taxa de bocada foi de 36 bocadas/minuto e o tamanho da bocada foi de 0,34g. Assim, estimou-se um consumo médio para ‘baixadas’ de 7,0 kg de matéria seca/dia e para ‘campo limpo’ de 8,8 kg de matéria seca/dia, dando um consumo médio de 7,9 kg de MS/dia para cavalos adultos, porém, neste estudo não foi considerada categoria animal, que é de importância. Algumas espécies de plantas nativas comestíveis podem causar danos a língua e aos lábios dos animais mais sensíveis, além da possível ocorrência de ervas tóxicas, como Erva – de – Rato e a Erva-de-São João, que podem causar sérios distúrbios ou até a morte.
Os pastos cultivados são aqueles em que houve a participação do homem em sua implantação. De modo geral as espécies forrageiras disponíveis, no banco de germoplasma brasileiro para formação de pastagem, para eqüinos são escassas e as disponíveis praticamente, não se conhecem os comportamentos do animal e delas quando em pastejo.
As principais gramíneas recomendadas para eqüinos para pastagem são aquelas que pertencem ao Gênero Panicum, como o capim Áries (Panicum maximum cv Áries) como sendo a principal gramínea hoje disponível no mercado.Esta gramínea tolera solos moderadamente húmidos e é muito bem aceita pela sua apetecibilidade e muito bem consumida pelos eqüinos pelo seu porte. O capim nobre recomendado para ser fornecido como verde picado no cocho e para ser ensilado é o capim elefante híbrido Paraíso. Esta gramínea é mais palatável do que as outras devida à participação do açúcar, proveniente do milheto existente em sua composição genética, tornado-a com maior grau de aceitabilidade pelo animal.Também por esta razão,esta gramínea é bem recomendada para ser ensilada, pois irá promover uma melhor fermentação lática na massa ensilada.
Outras gramíneas que podem ser usadas como pastagem são capim Aruana, capim Tanzânia,etc. Conquanto, as leguminosas são também recomendadas, merecendo destaque o Estilosantes Campo Grande. Sabe-se que gramíneas forrageiras de crescimento prostado (Tyfton, Coast Cross, B. humidicola etc) não são recomendadas como pastagem para animais com habito de pastejo baixo, como os eqüinos. Estas plantas propiciam um habitat adequado ao desenvolvimento de microorganismos como helmintos e outros. Com esta medida obtem-se menor incidência de vermes nos animais em pastejo.

III – Características do feno e da silagem para eqüinos

O feno tem sido a forragem mais comumente usada na alimentação de eqüídeo durante o período da seca. Contudo, a produção de feno é altamente dependente das condições climáticas as quais são freqüentemente instáveis no período de sua produção. O feno poeirento está associado a problemas na fenação. Fenos poeirentos e com mofo resulta em hipersensibilidade pulmonar podendo desenvolver a doença chamada obstrução crônica pulmonar (COPD).
ALMEIDA et al.(1999), alimentando eqüinos com dieta exclusiva de capim Coast Cross, observaram valores médios para os coeficientes de digestibilidade aparente, durante o período da seca, de 64,0% para a matéria seca 47,90% para a energia bruta, 56,10% para a proteína bruta e 63,30% para a fibra detergente neutra. Os valores obtidos por ALMEIDA (1999) foram 15% superior aos resultados médios observados por ALVARENGA (1996) e 12% superiores aos observados por OLIVEIRA (1998), de 43,7 e 52,0%, respectivamente. Portanto , os alimentos volumosos usados pelo criador de eqüinos, de um modo geral são de baixos valores nutritivos.
Por estas razões a silagem de capim nobre vem gradativamente substituindo o feno. As silagens são volumosos mais palatáveis, não poeirentos e são de melhor valor nutritivo. O valor nutritivo é freqüentemente melhor porque a forragem é cortada quando a planta se encontra em estádio vegetativo mais jovem e conseqüentemente o produto obtido contém mais proteína, mais energia metabólica e matéria seca mais digestível.
Silagens de boa qualidade oriunda de capim nobre não causam problemas gastrintestinais aos eqüinos por não conterem fungos, fermentos e ácidos indesejáveis. A silagem é armazenada sob boa compactação, em um ambiente anaeróbico (sem oxigênio), proporcionando conseqüentemente melhor fermentação, permitindo assim conservar o alimento por um longo período, mantendo-se as características nutricionais semelhantes ao alimento fresco. Contrário ao que muitos julgam, uma silagem pode ser um ótimo alimento para o eqüídeo. É claro que esta deve ser de boa qualidade, quer seja de capim nobre, de alfafa ou de milho.
As silagens de capim nobre possuem ótimos níveis energéticos, oferecendo ainda proteína em bom nível, vitaminas e minerais (assim como os outros volumosos de boa qualidade) para eqüinos. As silagens não devem ser o único alimento volumoso a ser oferecido ao eqüídeo, mas pode constituir até 50% de sua dieta volumosa (incluindo a pastagem). Alguns animais rejeitam a silagem em um primeiro momento, mas assim que se acostumam com o sabor, passam a consumi-la sem maiores problemas. Deve-se ter cuidado no momento do fornecimento, de que a quantidade de silagem a ser oferecida ao animal deve ser proporcional á quantidade que este vai ingerir nas próximas duas horas, pois, após este período tempo, ela adquire um sabor e odor que o animal passa a rejeitar.
Artigos de ESTHER GUIMARÃES CARDOSO E JOSÉ MARQUES DA SILVA, Silos, Silagem e Ensilagem (EMBRAPA – CNPGC, Campo Grande, MS, 14 fev. 1995 nº 02) , dizem que “A silagem não é indicada para cavalos ou bezerros pequenos” e da Pesquisadora VALÉRIA PACHECO que segundo a nutricionista da Embrapa Gado de Corte, (Campo Grande, UNIFLOLHA, Matéria de 20/10/2005) “a silagem não é indicada para cavalos ou bezerros, porque estes animais possuem um trato digestivo sensível às fermentações”. Estas afirmativas não estão em acordo com os resultados de pesquisa apresentados no XIII° INTERNACIONAL SILAGE CONFERENCE (AUCHINCRUIVE, SCOTLAND – 11 A 13/09/2002), que contradizem estas afirmações.
A silagem de capim nobre com idade de 80 dias utilizada (SARKIJARVI, et al.2002) pelos eqüinos apresentou valores de digestibilidade da matéria seca da forragem de 69,3%, da proteína bruta digestível de 82,1%, da fibra bruta de 50,9%. O valor de proteína digestível foi de 15, 5% e o de energia metabolisável foi de 10,1%. Enquanto a silagem feita á idade de 120 dias os valores de proteína digestível foi de 7,6% e de energia metabolisável foi de 8,2%. Verifica-se que o nível de energia é adequado para grupos de animais que não estão em atividade física intensa, enquanto o nível de proteína (15,5%) pode exceder a exigência de muitos grupos de animais, quando em dietas somente com este volumoso.
Foi comparado o consumo da silagem de alfafa com feno de alfafa, na alimentação de eqüinos (HILL. J. AND A.D. ELLIS, 2002). A silagem de alfafa foi mais bem (gastou-se menos tempo por unidade de alimento consumido) consumida pelos eqüinos quando comparada com o feno desidratado. Quanto ao valor nutritivo os alimentos se equivaleram.
É sempre necessário ter em mente que o concentrado (grãos) fornecido aos eqüinos deverá apenas cobrir as cotas adicionais de energia, aminoácidos, vitaminas e minerais que por ventura o volumoso não esteja fornecendo, ou quando na atividade imposta ao eqüídeo como: crescimento, gestação, lactação ou intenso trabalho, ele não consegue retirar dos alimentos volumosos todos os nutrientes que precisa.

IV – Características particulares da digestão do eqüino

Para se usar um volumoso suplementar adequado para pastagem é imprescindível que se conheça alguns detalhes da digestão do eqüídeo. De acordo com OLSSON & RUUDVERE (1955) e MEYER (1995), vários são os fatores afetam o tempo de permanência dos alimentos nos diversos segmentos do trato digestivo dos eqüinos, alterando conseqüentemente sua digestibilidade, como: a individualidade do animal, a composição química e quantidade do alimento, o tipo de atividade física do animal, o tipo e tamanho das partículas do alimento e a quantidade de fibra presente na dieta. Os eqüinos são capazes de utilizar grandes quantidades de forragem para atender as suas exigências nutricionais e atualmente, para maximizar o crescimento e a produtividade dos eqüinos, as dietas também contem altos níveis de suplementos. Portanto, este tipo de manejo nutricional resulta em aumento do custo de produção, mas oferece uma significante contribuição da dieta volumosa no atendimento dos requerimentos nutricionais dos animais.
O eqüídeo é um monogástrico, mas, por possuir características particulares, pode ser classificado como Herbívoro não Ruminante. O primeiro compartimento (estômago) é pequeno (apenas 9 % do total). Isso implica em um fornecimento de alimento várias vezes ao dia. Outra particularidade é a importância do ceco e cólon (70 % do total) onde ocorrem fermentações que permitem o aproveitamento das fibras. Um eqüídeo de 500 kg de peso vivo possui um aparelho digestivo de capacidade total de cerca de 130 litros, portanto, seu estômago tem capacidade para 12 litros (9% do estomago – entre alimento, água, gases e secreções gástricas). Esta pequena capacidade do estômago do eqüídeo limita muito sua capacidade de ingestão de alimento. Se o alimento for concentrado, cuja digestão ocorre principalmente no estômago e início do intestino delgado, o fornecimento deste deve estar limitado a 2,5 kg por refeição, sendo o ideal ao redor de 1,5 – 2,0 kg de concentrado por refeição. Este limite deve ocorrer para que não haja riscos de cólicas por excesso de alimentação, pois o eqüídeo possui uma outra característica na inserção do esôfago com o estômago, que impede que o alimento retorne à boca (o eqüídeo não regurgita). Se ocorrer uma ingestão elevada de alimento concentrado de uma só vez, ele não vai conseguir digerir, havendo uma sobrecarga gástrica, podendo ocorrer ruptura do estômago pelo excesso de concentrado. Esta pequena capacidade do estômago faz com que o eqüídeo tenha que se alimentar durante todo o dia para que possa preencher seu aparelho digestivo. Um eqüídeo solto em um pasto, ele pasteja durante 18-19 horas por dia.
O alimento volumoso tem seu processo de digestão ocorrendo principalmente no intestino grosso (ceco e cólon) onde ocorrerá ação da flora intestinal. Devido às fibras contidas no volumoso, a velocidade de passagem deste para intestino é rápida. Isso também leva a uma característica particular no manejo alimentar do eqüídeo. Não é recomendado oferecer volumoso misturado ao concentrado ou logo em seguida ao fornecimento do volumoso, pois devido à fibra longa contida no volumoso, ocorre a passagem mais rápida pelo estômago e intestino delgado levando o concentrado para o intestino grosso onde o aproveitamento é bem menor, diminuindo assim a sua eficiência. No manejo diário, deve sempre oferecer primeiro o volumoso e a seguir o concentrado para melhor eficiência. Se se oferecer primeiro o concentrado deve-se aguardar por um tempo de 45 minutos à uma hora para, a seguir, oferecer o volumoso. Lembre-se apenas que, na primeira refeição do dia, o cavalo bem manejado já comeu o volumoso durante a noite, podendo, logo cedo, receber a alimentação concentrada. A seqüência alimentar deve ser cuidadosamente instituída, ou seja, o fornecimento das refeições deve ser realizado nos mesmos horários. Os eqüinos não devem passar longos períodos em jejum, para evitar a ocorrência de gastrites ou úlceras. Isto muitas vezes é difícil de ser realizado, pois a rotina dos animais atletas acaba sendo determinada pelas necessidades das competições, além de viagens constantes as quais estes se submetem.

V – Literatura consultada

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Fonte: www.agronomia.com.br

One thought on “Alimentação de eqüinos com volumosos

  • gleidys amorelli

    Tenho cavalos de selas e gostaria de saber a quantidade de silagem de alfafa que posso oferecer,diariamente.Sou leiga no assun to e tenho receio de fazer algo errado.Por fvor me ajudem.Obrigada

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