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PERSPECTIVAS PARA O BRASIL

Em sua palestra, Luís Cortez, lembrou que as fontes renováveis já respondem por 46% da demanda brasileira de energia (um percentual 3,5 vezes maior do que o registrado no mundo, de 13%) e a cana-de-açúcar por 15%. A produção do etanol, que cresceu motivada pela “necessidade”, após a crise do petróleo da década de 1970, encontra-se agora diante da perspectiva de um novo ciclo de expansão, regido pela “oportunidade”.
O interessante é que as plantações de cana para a produção de etanol ocupam, atualmente, apenas 0,4% do campo brasileiro: 3,4 milhões de hectares, contra 22 milhões de hectares destinados à soja e 200 milhões de hectares de pastagens. A grande questão a responder é: quanto etanol sustentável pode ser produzido no país, sem que o crescimento do setor impacte a Amazônia e outros santuários ecológicos nem compita com a produção de alimentos?
Um estudo coordenado pelo professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, de que o próprio Cortez participa (NIPE-Unicamp/CGEE Ethanol Project), desenhou dois cenários: o primeiro, com a substituição pelo etanol de 5% da gasolina consumida no mundo em 2025; o segundo, com uma substituição de 10%. No primeiro cenário, a produção teria que subir dos atuais 26 bilhões de litros por ano (cifra que corresponde à contribuição conjunta do Brasil e dos Estados Unidos) para 102 bilhões l/ano. No segundo, seriam necessários 205 bilhões de litros anuais.
Foram consideradas tanto a manutenção do atual patamar tecnológico, com eventuais melhorias, como a desejável adoção de um novo patamar, com a incorporação das chamadas tecnologias de segunda geração (conversão da celulose residual e não apenas do caldo da cana em etanol).
A conclusão do estudo é que a expansão é perfeitamente viável. A efetivação do cenário 1 (substituição de 5% do consumo mundial de gasolina) demandaria um investimento anual (em agricultura, indústria e logística) de 5 bilhões de dólares. Em compensação, acrescentaria 31 bilhões de dólares ao valor anual das exportações e 75 bilhões de dólares ao produto interno bruto.
Mantido o atual patamar tecnológico, a área destinada ao plantio de cana-de-açúcar para a produção de etanol teria que crescer dos atuais 3,4 milhões de hectares para 17 milhões de hectares. Incorporadas as tecnologias de segunda geração, bastariam 13 a 14 milhões de hectares. Vale lembrar que, a produção, hoje fortemente concentrada no estado de São Paulo e em algumas áreas do Nordeste, poderia se generalizar e interiorizar (sem avançar sobre a Amazônia e outros santuários ecológicos) com a simples irrigação de regiões agora impróprias para o plantio.
Bem conduzida, a expansão traria também importantes benefícios sociais, com a geração de 5,3 milhões de empregos. E uma desejável otimização do uso da terra no Brasil, reduzindo as áreas de pastagem sem diminuir a produção de leite e carne. A integração de lavoura (canavial) e processamento (destilaria) e de agricultura e pecuária (inclusive com o bioprocessamento do esterco bovino para a produção de biogás e fertilizante), bem como a rotatividade de cultivos nas áreas não ocupadas pela cana (soja, milho, amendoim etc), teriam que ser, obviamente, consideradas. A integração cana-pastagem não é uma perspectiva hipotética, mas algo que já vem ocorrendo, em certa medida, no país.
APERFEIÇOAR MODELOS
A modificação do uso da terra pelo aumento da produção de etanol foi o tema da apresentação de André Nassar na Convenção Latino-Americana do GSB. Diretor geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) e coordenador de projeto no BIOEN-FAPESP, Nassar foi um dos responsáveis pela mudança de posição da Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) quanto ao etanol de cana-de-açúcar brasileiro. A agência admitiu que, em relação à gasolina, o produto reduz as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 61% – e não em 26%, como estabeleciam os cálculos anteriores.
Para a admissão pela EPA de que o etanol de cana-de-açúcar é um “biocombustível avançado” foram fundamentais os resultados obtidos por meio do Blum (Brazilian Land Use Model), um modelo desenvolvido pelo Icone em parceria com um grupo da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.
A meta dos autores do modelo, que continua sendo aprimorado, é dar conta de uma realidade complexa, considerando a interação de múltiplas variáveis. E a apresentação de Nassar enfatizou tal objetivo.
PRÓXIMAS CONVENÇÕES
As resoluções da Europa e da África podem ser lidas no site do GSB (http://engineering.dartmouth.edu/gsbproject/ ). As próximas reuniões serão na Malásia e nos Estados Unidos, as quais darão origem às resoluções da Ásia e da América do Norte, respectivamente. Finalizada esta primeira rodada de reuniões e sintetizados os resultados, o GSB passará a duas outras etapas: 1) responder, com provas convincentes, se é materialmente possível su prir uma fração substancial da demanda energética (combustíveis veiculares e eletricidade) a partir da produção de biomassa, sem comprometer o fornecimento de alimentos, a preservação de habitats naturais e a qualidade do meio ambiente; 2) propor estratégias viáveis e responsáveis para a transição da atual matriz energética rumo a uma nova matriz, mais equilibrada e renovável (Assessoria de Comunicação, 24/3/10)