06/04 – CHINESES AMEAÇAM SUSTAR COMPRAS DA VALE

Associação de siderúrgicas aponta monopólio de grandes produtoras mundiais de minério de ferro e articula boicote à importação. Reação ocorre após grandes empresas do setor de mineração anunciarem planos de reajustar em até 90% preço de matéria-prima.
Em reação a possíveis aumentos de até 90% no preço do minério de ferro, a Cisa (Associação de Ferro e Aço da China) propôs ontem a seus membros que façam um boicote às três grandes produtoras mundiais da matéria-prima -a Vale e as anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton-, por “se aproveitarem de uma situação de monopólio” no setor.
Em reunião a portas fechadas na sexta-feira, a Cisa avaliou que os estoques atuais do minério de ferro são suficientes para abastecer o mercado por dois meses e exortou as empresas siderúrgicas “a não comprarem das três grandes mineradoras por dois meses, como boicote a sua atitude de monopólio”, de acordo com o portal de notícias estatal “China.net”.
As grandes mineradoras acordaram recentemente reajustes entre 80% e 90% nos preços do minério com empresas siderúrgicas japonesas e sul-coreanas, cujos contratos servem geralmente de referência para o resto do mundo. O anúncio provocou protestos por parte de produtoras de aço asiáticas e europeias.
Procurada, a Vale, que na semana passada fechou com a japonesa Nippon Steel um acordo preliminar que prevê praticamente dobrar os preços da matéria-prima, não comentou a ameaça de boicote da Cisa.
Na semana passada, as mineradoras anunciaram uma mudança no regime de reajuste do minério, após 40 anos em vigência. O sistema constituído por contratos negociados em base anual dará lugar agora a reajustes trimestrais do minério, o que deve trazer maior volatilidade aos preços do produto. Pela primeira vez, o valor acertado entre Vale e Nippon terá validade de três meses.
A BHP Billiton também anunciou recentemente que não fixará seus preços anualmente “a um número importante” de clientes asiáticos, o que agora desagrada aos chineses, favoráveis a contratos de longo prazo que limitem maiores flutuações de preços.
Em 2009, porém, foram justamente as siderúrgicas chinesas que mais defenderam romper com o modelo anual de negociações, diante da desaceleração da economia local. Foi a primeira vez em décadas que esse modelo fracassou.
Os reajustes no valor do minério resultarão em pressão sobre o preço do aço e, consequentemente, sobre outros produtos, como carros, eletrodomésticos e brinquedos, que o levam como matéria-prima.
Segundo o Instituto Aço Brasil, que reúne as siderúrgicas no país, o minério corresponde a 25% dos custos do setor, e as usinas não terão condições de absorver esse reajuste (Folha de S.Paulo, 6/4/10)