Aquecimento global demanda adaptação das plantas, alerta pesquisador

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O aquecimento global já está consolidado e exige resposta tecnológica, como o desenvolvimento de variedades genéticas de plantas adaptadas à transição climática, avaliou nesta terça, dia 30, o agrônomo Eduardo Assad, ex-secretário executivo do Programa de Recursos Naturais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
— Não estamos mais questionando se há aquecimento ou não, mas sim desenvolvendo pesquisas para adaptar as plantas, para que possam continuar crescendo num ambiente de temperatura maior — disse Assad.
A avaliação foi feita durante o Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010), promovido pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Segundo Assad, no entanto, o aumento de temperatura não significa apenas más notícias.
— O risco de geadas está mais reduzido, o que é muito bom, por exemplo, para o café — disse.
Em contrapartida, ainda tomando como exemplo o café, ele apresentou imagens do tipo arábica – menos resistente ao aumento de temperatura – submetido a três dias seguidos de temperaturas entre 33 e 34 graus quando já estava florido.
— Se há deficiência de água, o resultado é este — disse, mostrando os frutos calcinados pelo calor.
Se variedades mais resistentes não forem encontradas – Assad citou um possível “arabusta”, em que a arábica adquiriria a maior afinidade ao calor da variedade robusta -, a tendência, diz o pesquisador, é de que o “café passe a ser produzido em altitudes maiores ou regiões mais amenas”.
Variedades e zoneamento
A mudança do zoneamento dos diferentes cultivos não se limitaria ao café.
— Há um estudo em Santa Catarina que mostra que se houver um aumento de dois graus na temperatura, a produção de maçãs se tornaria inviável. Mas já estão se preparando para que, se isso acontecer, haja a substituição por bananas caso não se consiga o melhoramento genético das maçãs — disse o pesquisador.
Assad considerou que as Regiões Sul e Sudeste estão bem preparadas para a eventual adaptação à mudança climática, em virtude da prioridade dada à pesquisa de variedades de arroz, feijão, milho e soja.
— Minha preocupação é com o Nordeste, onde não estão sendo estudados os cultivos locais, como umbu, seriguela ou cajá-manga. Qualquer esforço de adaptação no Nordeste vai levar no mínimo 15 anos — explicou.
Ainda que os desafios da mudança climática pareçam grandes, Assad acredita que a pesquisa agrícola é capaz de fornecer respostas à altura.
— Em 1977, pesquisadores dos Estados Unidos diziam que seria impossível produzir soja em baixas latitudes. E hoje temos metade da soja produzida no Hemisfério Norte e metade no Hemisfério Sul — avaliou.
Sobre a pecuária, o pesquisador disse que o setor tem condições, de adotar uma atitude menos “reativa” e mais “proativa”, de abandonar a condição de “vilã” para assumir a de “protagonista” no combate ao aquecimento global.
— Pastagens degradadas são emissoras, mas as pastagens bem manejadas são excelentes sequestradoras de carbono — finalizou.
 

 

AGÊNCIA ESTADO