Usinas de cana-de-açúcar investem em medidas de preservação

Junto com a expansão do setor sucroalcooleiro, tem crescido a preocupação das usinas com ações de preservação ao meio ambiente. Ações mitigadoras e produção de energia limpa são cada vez mais comuns entre as empresas do setor.
Embora seja considerado um pólo sucroalcooleiro em potencial, o município de Dourados possui uma única usina em funcionamento. Entretanto, o fato de cidades vizinhas como Maracajú, Caarapó e Rio Brilhante possuírem unidades industriais ligadas ao setor faz com que a economia douradense esteja em plena ascensão, decorrente da expansão da atividade sucroalcooleira.
Devido ás dimensões tomadas pelo setor nos últimos anos, grupos ligados a preservação ambiental têm realizado fiscalização constante às atividades.
O secretário de Agricultura, Indústria e Comércio de Dourados, Maurício Rodrigues Peralta, em entrevista ao AgoraMS enfatizou o lado positivo da atividade para economia local, sobretudo, sem desconsiderar a preocupação com o meio ambiente.
“Hoje existe uma cadeia produtiva se estabelecendo e há a necessidade de sustentabilidade”, reconhece. O secretário explica que existe grande preocupação com o respeito à natureza e que o etanol é uma “energia limpa, ambientalmente falando”.
Para ele, “é melhor consumir etanol do que gasolina”, a fim de minimizar os impactos causados pela emissão de gases poluentes na atmosfera.
Para Vanderlei Berto Júnior, coordenador do curso de ciências biológicas do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), está havendo consciência por parte dos produtores. “O quanto uma cultura de cana degrada o solo é um ponto positivo quando feito de maneira adequada”, explica.
O biólogo frisa a influência das atividades agropecuárias nos ecossistemas, ao citar o plantio direto – de soja e milho – como danoso ao meio ambiente. “Comparado com outras culturas, ela [canavieira] é muito interessante”, lembra, para completar que neste setor há um “custo benéfico”.
Segundo Berto Júnior, a cana-de-açúcar retira o gás carbônico do ar e repõe oxigênio, em um processo benéfico ao meio ambiente.
MEDIDAS DE PRESERVAÇÃO
Para melhorar a imagem junto a sociedade, usinas investem cada vez mais em programas de educação ambiental, como o divulgado pela assessoria da Usina São Fernando de Açúcar e Álcool, instalada em Dourados.
No material, são apresentadas medidas mitigadoras – “ações, estratégias preventivas ou corretivas de interferência no meio, que visam eliminar ou minimizar os impactos ambientais”. Em relação aos resíduos sólidos, é feita coleta, acondicionamento, armazenamento e disposição final adequados, para posterior reuso e reciclagem.
Outros exemplos destas medidas apresentam-se com os efluentes líquidos – vinhaça/flegmaça – e efluentes sanitários.
Nesses casos, pratica-se a fertirrigação utilizando a vinhaça e as águas residuárias, observando as condições adequadas, impermeabilização dos tanques de vinhaça, implantação de bacias de contenção – tanques de armazenamento, acondicionamento, armazenamento e disposição final adequados, além da implantação de sistema de contenção e direcionamento das águas.
Relativo às emissões atmosféricas, a usina alega a realização da manutenção dos lavadores de gases das caldeiras, manutenção do filtro de material particulado e redução dos níveis de ruído na fonte, dentre outras medidas de redução de impactos.
Os órgãos executores atuam, muitas vezes, em conjunto com as empresas, tanto na fiscalização quanto no suporte em eventuais necessidades. O secretário Maurício Peralta informou que a prefeitura oferece mudas de árvores nativas para reflorestamento de áreas desmatadas.
Outra questão, levantada pelo biólogo Berto Júnior, diz respeito á importância da normatização destas atividades. Ele explica que, por causa dos resíduos líquidos, em particular, não é recomendável a instalação de usinas nas proximidades das bacias hidrográficas, como a do Paraguai, que tem impacto direto no Pantanal.
Por essa razão, antes de qualquer definição, é preciso que seja realizada uma pesquisa sobre a compatibilidade e viabilidade de tais empreendimentos nestas áreas.
SUCROENERGÉTICO
Um ponto que tem chamado a atenção de maneira positiva para as usinas sucroalcooleiras junto à comunidade é o fato de serem potenciais produtoras de energia limpa e renovável. O representante do executivo municipal, Maurício Peralta ressaltou a nova denominação deste setor.
“Hoje em dia se diz sucroenergético”, aponta o secretário, para mencionar o fato de que além do álcool, produz-se etanol e açúcar – fontes de energia -, dentre outros inúmeros produtos e subprodutos originários da atividade, que vão desde alimentícios até energia líquida renovável.
A Usina Equipav S. A. – Açúcar e Álcool, instalada em Promissão, no estado de São Paulo, por exemplo, potencializa o aproveitamento de sua matéria prima utilizando-se da cogeração com bagaço de cana. Produto residual, o bagaço é aplicado na produção de energia elétrica renovável.
Vendida à rede nacional de eletricidade, é uma alternativa a outras fontes que se utilizam de combustíveis fósseis e colabora para redução das emissões de gases poluentes.
Em Dourados, porém, a utilização do bagaço da cana ainda se resume à produção de energia para uso próprio – às caldeiras. Com o aparelhamento adequado, entretanto, usinas podem fazer deste resíduo, uma fonte potencial para produção de um subproduto lucrativo e – sobretudo, benéfico ao meio ambiente (AgoraMS, 14/4/10)