Açúcar faz remuneração pela cana subir, mas produtor ainda reclama dos custos
Apesar das chuvas excessivas e dos preços baixos de álcool na maior parte da safra, a remuneração paga ao fornecedor pela cana-de-açúcar aumentou 16% em São Paulo na safra 2009/10, finalizada oficialmente em 31 de março passado. O melhor desempenho em relação ao ciclo anterior, se deveu, sobretudo às vendas de açúcar no mercado interno, cujos preços superaram de longe os registrados na exportação.
Para o próximo ciclo, a expectativa é que a remuneração pela matéria-prima volte a subir a níveis superiores a 10%, mas desta vez, com impulso do açúcar negociado no mercado externo. O motivo é que os preços recordes vistos na bolsa de Nova York, em janeiro, vão, de fato, refletir no caixa das usinas este ano.
Ismael Perina Júnior, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da região Centro-Sul (Orplana), explica que grande parte do açúcar da safra 2009/10 foi fixada em um momento em que os preços estavam ainda bem abaixo de 20 centavos de dólar por libra-peso. Quando as cotações começaram a subir, o que culminou nos recordes históricos, boa parte da safra antiga já tinha sido fixada a níveis mais baixos. Assim, foi a produção da recém-iniciada safra, a 2010/11, que mais aproveitou os preços acima de 20 centavos, segundo ele. Ontem, o contrato com vencimento em julho em Nova York caiu 60 pontos, fechando em 17,08 centavos de dólar por libra-peso.
Os plantadores de cana-de-açúcar de São Paulo receberam na temporada 2009/10, em média, R$ 46,35 por tonelada da matéria-prima entregue, ainda abaixo do custo de produção, que foi de R$ 53,43, de acordo com Perina.
Pelos cálculos do Consecana (Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo), o açúcar de mercado interno representou uma remuneração de R$ 0,5136 por quilo de Açúcar Total Recuperável (açúcar contido na cana). No caso do açúcar VHP (exportação), esse valor foi de R$ 0,3433, para o álcool anidro, de R$ 0,3422 e para o hidratado, R$ 0,3019.
“Assim, ponderando a quantidade vendida de cada um desses produtos pelas usinas, a remuneração por quilo de ATR foi de R$ 0,3492 na média da safra, isso porque os açúcares de exportação, que tiveram preços menores, são a maior parte do volume vendido, cerca de dois terços da produção total”, explica Perina.
Mesmo abaixo do custo de produção, a remuneração da safra 2009/10 foi 16% superior à temporada anterior, de R$ 39,88, que também ficou distante de cobrir os custos, de R$ 53,12 por tonelada, segundo dados da Orplana. “É a terceira safra consecutiva com remuneração abaixo do custo. Isso nunca aconteceu na história”, diz Perina. Além dos preços baixos do açúcar e do álcool em quase toda a safra, o clima chuvoso também afetou a receita do plantador, segundo Perina. “O problema é que o país ainda não criou um modelo de seguro rural condizente com a necessidade do produtor”.
A adoção ao modelo Consecana, metodologia criada há cerca de 7 anos por usinas e plantadores de cana, não é obrigatória. Produtores de cana podem optar por vender a matéria-prima sem contrato. As associações ligadas à Orplana, inclusive em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, somaram na safra 2009/10 um volume de 130 milhões de toneladas de cana, 24% de toda a matéria-prima moída no Centro-Sul (Valor, 16/4/10)