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Leilão de crédito de carbono fracassa na Bolsa

carbono-1Termina sem negócio a estreia do mercado voluntário na BM&FBovespa, também a primeira tentativa pós-Copenhague. Falta de regulação e baixo volume de transações ainda são empecilhos para crédito voluntário ser negociado na Bolsa, afirma analista.
A primeira tentativa no Brasil de leiloar créditos de carbono no mercado voluntário (fora do Protocolo de Kyoto) fracassou anteontem, numa prova de que esse tipo de transação ainda está longe de se consolidar. Mas apenas o fato de o crédito voluntário chegar à Bolsa foi considerado, por analistas e ambientalistas, um avanço.
Foram ofertadas em leilão na BM&FBovespa 180 mil unidades voluntárias de carbono (cada unidade representa uma tonelada de CO2 equivalente poupada) a preços mínimos de R$ 10 e R$ 12, mas nenhum lote foi arrematado pelos quatro participantes, formados por brasileiros e estrangeiros. Em dezembro, o leilão fora adiado devido à falta de inscritos.
Os nove projetos, administrados pela Carbono Social, eram de cerâmicas de São Paulo, Minas, Rio, Pará, Pernambuco e Sergipe, que reduziram emissões ao substituir lenha nativa por biomassa (como bagaço de cana e casca de arroz).
“Nossa interpretação é que [o leilão] não foi um sucesso, já que não conseguimos vender, mas foi um progresso. Conseguimos que a Bolsa supervisionasse e que a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] desse aval”, diz Cinthia Caetano, da Carbono Social. A ida para a Bolsa é vista como uma forma de dar mais transparência a um processo ainda muito baseado na confiança e de estabelecer índices de precificação.
Marco Fujihara, diretor da KeyAssociados, avalia que o leilão não deu certo porque “ainda não há volume de transação suficiente para o produto estar na Bolsa” e, também, porque o mercado voluntário não tem uma regulação, “de todo mundo saber onde se compra e se vende”. Não há dados precisos, mas se estima que, no Brasil, esse mercado tenha movimentado US$ 5 milhões em 2009 -no regulado, foram US$ 476 milhões.
No comércio de crédito de carbono, há dois tipos de mercado: o regulado, no qual os créditos são certificados pela ONU e comprados por instituições em países com metas obrigatórias de redução, e o voluntário, no qual o crédito é auditado por uma entidade independente e comprado por investidores e por empresas que querem reduzir emissões voluntariamente -turbinando os relatórios de sustentabilidade.
O mercado voluntário foi o mais afetado pela crise econômica global iniciada em 2008. “Se o negócio está no vermelho, a primeira coisa que você corta é o verde”, resume Divaldo Rezende, diretor-executivo da consultoria CantorCO2e Brasil. Segundo estimativa da Bloomberg New Energy Finance, o mercado movimentou entre US$ 171 milhões e US$ 261 milhões em 2009, encolhendo ao menos 76% em um ano.
O impasse em relação a um acordo global de metas de redução -fracasso da conferência do clima em Copenhague e pessimismo em relação à próxima, no México- e, no Brasil, a falta de detalhamento das políticas climáticas nacional e paulista aumentam incertezas para o investidor. “O comprador “compliance” [voluntário] ainda tem dúvida. Outro aspecto é que aquele comprador-investidor ainda não sabe como se movimenta e se liquida esse produto, principalmente no Brasil, onde tudo é extremamente novo”, afirma Rezende.
Um dia antes do leilão, Fiesp e ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) formaram uma comissão para criar normas locais de regulação desse mercado. Fujihara, coordenador do grupo, diz que para o mercado funcionar é preciso adaptar padrões europeus, formulados para clima e ambiente diferentes. A comissão deverá levar cerca de um ano para apresentar alguma proposta (Folha de S.Paulo, 10/4/10